Opinión

O fim do neoliberalismo?

Nos últimos dias os meios de comunicaçom figérom-se eco amplamente dum informe do FMI que prevê umha forte queda do PIB do Estado Espanhol, no conjunto da zona euro e mesmo no conjunto da economia mundial. Umha contraçom de 3% no PIB mundial, a mais grave desde a Grande Depressom. Umha prediçom feita num cenário relativamente optimista de evoluçom da pandémia e das medidas de contençom adoptadas. Nesse cenário a reduçom do PIB no Estado Espanhol alcançaria 8% e o desemprego superaria o limiar de 20%. Em realidade a pandémia afetou a umha economia mundial que nunca se acabou de recuperar da crise de 2008. Nestes momentos estava em claro processo de desaceleraçom, com Estados do G20 que já estavam em recessom, e com previsons nom precisamente otimistas.

Sem embargo o FMI também publicou nos últimos dias um outro informe que mereceu muito menos relevo. Trata-se do Monitor Fiscal de Abril de 2020 que prevê um grande aumento do défice fiscal e da dívida pública. Prognostica que o défice na eurozona passe de menos de 1% de 2019 a 7,5% em 2020, elevando-se no Estado Espanhol a 9,5%. Parelhamente a dívida pública aproximaria-se a 100% do PIB na eurozona e alcançaria 113% no Estado Espanhol. Um pioramento das contas públicas derivado tanto do forte incremento das despesas públicos como da reduçom das receitas pola recessom económica.

Nom som poucas as pessoas que desde posiçons progressistas vem nesta crise o fim do neoliberalismo. Sinalam particularmente o incremento do gasto público como evidência desse fim. É certo que para os que partilhamos umha visom crítica do processo de radicalizaçom do capitalismo nas últimas décadas esta crise evidencia os problemas que vimos denunciando. Particulamente certeiras se mostram mais umha vez as análises do nacionalismo galego sobre o processo de mundializaçom, a Uniom Europeia, o governo PSOE-Podemos, a atuaçom de Feijoo ou o papel económico ao que as politicas da UE e do governo central -com o visto bom do PP desde a Junta- condenam ao nosso país. Sem embargo as medidas adoptadas até agora a nível comunitário ou do governo central nom convidam ao otimismo (sobre as políticas do governo galego nesta crise pouco cabe analisar mais alá da propaganda).

Pouco depois da quebra de Lehmann Brothers dera umha palestra em Ferrol sobre a crise económica. Também naquel momento, vista a maciça intervençom pública na economia, eram muitas as vozes que afirmavam que estavamos ante o fim do neoliberalismo. O próprio Sarkozy anunciava que ia convocar aos principais lideres mundiais para refundar sobre bases éticas o capitalismo. Advertira naquela palestra de que a pesar dessas declaraçons o caminho que se abria ante nós seguramente nos levava noutro sentido, aprofundar num capitalismo cada vez mais injusto. Corriamos o risco de que o forte crescimento do endividamento público como consequência das intervençons públicas, em benefício fundamentalmente do grande capital, podia ser utilizado como álibi dos futuros recortes nas políticas sociais. Ao tempo que a necessidade de recuperar o crescimento económico e a competitividade empresarial se utilizava para justificar mudanças legislativas em favor do capital e em contra das classes populares. Isso foi precisamente o que o tempo nos trouxe. Agora novamente assistimos a um crescimento do envidamento público. Nom só as despesas públicas estám sendo inicialmente dum volume maior senom que partimos dum nível de endividamento público notavelmente superior ao existente antes da crise de 2008, fundamentalmente pola fatura do rescate das entidades financeiras nessa crise. A UE segue sem abordar a possibilidade de que o Banco Central Europeu financie diretamente aos Estados Membros. Tampouco o demandam os seus governos, nem sequer os que se reclamam progressistas. Tampouco se avança do desenho de medidas de politica económica que polo lado da recadaçom fiscal permitam reduzir substancialmente a dívida sem que a carga recaia nas classes populares. Medidas cujo custo necessariamente deve inzidir nos poderosos. O objetivo até agora é o de 2008, volver ao business as usual. Isto nom significa que volvamos ao capitalismo pre-crise, entre outras cousas porque como digemos ao começo as turbulências económicas já eram evidentes antes da pandémia. Nesse sentido o confinamento geralizado supom um enorme ensaio de políticas de control social que pode ser aproveitado num sentido nom precisamente progressista. O discurso militarista do que vem presumindo o Estado Espanhol desde que se declarou o estado de alarma ou a recentralizaçom apontam nesse sentido. O recurso aos Pactos da Moncloa tutelados tampouco convidam ao otimismo.

Em todo caso, agora como em 2008, as medidas que se adoptem nom vam depender da lógica económica. Noutras palavras a crise nom vai trazer automaticamente a fim das políticas hegemónicas nas últimas décadas. Essa partida joga-se noutro terreno, o da política, o da luta dos povos polo seu futuro.

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