Opinión

O grande salto de Victorino

Publicou Victorino Pérez Prieto um artigo em que menciona os dígrafos lh e nh no titular e a novidade saltou do papel aos grupos de whtasapps e a numerosos perfis das redes sociais, de maneira que o texto superou alargadamente os limites da audiência do próprio jornal editor. Deixando de lado  a acolhida, que foi boa para o autor e foi boa para o Nós Diario, ocorreu algo ainda melhor: a mostra de sensatez da opiniom pública. Se este mesmo artigo fosse publicado no tránsito entre os séculos XX e XXI, rapidamente se levantaria umha guerra incivil entre a audiência e haveria pugna por saber quem conseguia um insulto mais grosseiro para lançar ao interlocutor (apresentado como inimigo). Com medo de que se repetisse a história, seguim os comentários no portal do Nós e nas diferentes redes sociais em que o artigo foi partilhado e acabei por descobrir com agrado que o panorama mudou para bem. Aquelas arroutadas viscerais doutrora som etapa superada.

Victorino nom variou a centralidade; continua estando onde estava. Sem desqualificar a única norma que vinha usando -e sem fazer a menor crítica às pessoas que legitimamente a usam-, incorporou ao seu repertório  outro sistema gráfico e buscou o momento ideal para fazê-lo: no ano dedicado a Carvalho Calero, o mesmo em que celebramos o centenário da Revista Nós. Pode haver um momento melhor para sintonizar o discurso teórico galeguista à realidade internacional do idioma? Consideramos traumático que tome essa determinaçom numha coluna que publica num jornal que se deve ao esforço da comunidade leitora?

Realmente, o grande salto de Victorino nom é de agora. Hai vários decénios que o deu -primeiro nas terras da Corda e mais tarde na Marinha- quando revolucionou as comunidades eclesiásticas locais entregando o poder aos conselhos vizinhais e usando nos ofícios litúrgicos um idioma até aquela altura proscrito. Para dar esse passo de missar em galego havia que ter valentia e temperança, havia que saber ouvir e havia que saber explicar algo nunca antes visto. Conseguiu-no. Nos primeiros dias nom recebeu aplausos e mesmo tivo que elevar a voz para que nom fosse silenciada por súbitos ataques de tose de parte do público durante as suas prédicas, no entanto uns anos mais tarde -quando marchou para Ferrol- foi despedido publicamente num encontro organizado polas comunidades de base, com presença das autoridades civis e dumha representaçom do mundo da cultura. Naquela grande sala nom cabia umha agulha. Por que? Polo seu humanismo e pola sua entrega solidária. 

Antes de publicar o artigo do lh e nh, Victorino era o autor de Galegos e cristiáns ou de A xeración Nós. Galeguismo e relixión. Agora, com umha norma ou com outra, continua sendo o mesmo.

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