Longe do tópico de que há um galego em todas as partes, quando viajas para fora não resulta difícil encontrar compatriotas. Como dizia o Fernando Pessoa, “viajar é preciso”, mas explicar a presença de pessoal galego no exterior com motivações turísticas resultaria um argumento digno do responsável político do ramo. No entanto, na maioria das ocasiões, encontramos o que alguns economistas definem como emigração “voluntária”, apesar de reconhecer também que os emigrantes geralmente têm preferência pelos seus países de origem, o que segundo eles “constitui uma barreira artificial para a distribuição eficiente dos seus talentos entre os diferentes países”. Podemos imaginar o estupor das pessoas não iniciadas na leitura desta classe de literatura quando pegam nela, peço desculpas. A verdade é que a questão dá para fazer brincadeira, se detrás dela não estiver a dramática experiência vital de muitas trabalhadoras e de muitos trabalhadores.
Falar em emigração voluntária quando as cifras de desemprego superam uma determinada percentagem, resulta quando menos uma provocação. É bem conhecida a querência destes economistas pelos indicadores nominais, credo imposto na União Européia (UE) através do Tratado de Maastricht, cujos mandamentos têm a ver com a inflação, o tipo de juros, os déficits públicos (e a dívida pública) e naquele momento (dezembro de 1991) com o tipo de troco da moeda. Em contrapartida encontramos o esquecimento total dos indicadores de carácter real como o sinalado na cima (a taxa de desemprego) ou como podem ser o déficit comercial exterior ou a taxa de crescimento do PIB, por não falar nos indicadores sobre igualdade, despesas públicas em serviços sociais e por aí.
Na Galiza a taxa de desemprego atingiu 21,3% no último trimestre de 2012, no Estado espanhol 26,0%, com o qual, por lógica, existem comunidades autónomas por cima da taxa galega; mas na UE e a nível de Estados, apenas Grécia conta com percentagem maior (27%). Se realizamos uma comparação internacional, Galiza estaria em termos de desemprego ao mesmo nível que Bósnia e Herzegovina, África do Sul, Martinica, Guiné Francesa, Arménia, Granada, Barbados, Palestina, Botswana, Lesotho, etc. (dados da Nações Unidas elaborados a partir de diversas estatísticas e considerando o último período no que existem dados); bom, acho que sobra qualquer comentário.
"Galiza estaria em termos de desemprego ao mesmo nível que Bósnia e Herzegovina, África do Sul, Martinica, Guiné Francesa, Arménia, Granada, Barbados, Palestina, Botswana, Lesotho, etc"
Com estas cifras, não é difícil entendermos que a população emigre, mas também que não é fruto de uma decisão voluntária, bem ao contrário, é o resultado da duríssima situação económica do nosso País. Se a isto acrescentamos todas as dificuldades e as penalidades que vão sofrer os emigrantes no exterior, concluiremos que esta decisão é qualquer coisa, mas não voluntária.
Às difíceis condições materiais e psicológicas, que afrontam os emigrantes, na atualidade devemos acrescentar as dificuldades para encontrar um emprego a respeito de décadas anteriores. Isto é devido à crise, mas também à complexidade dos mercados laborais, com grande heterogeneidade nos postos de trabalho, onde independentemente do nível formativo, é exigida uma maior especialização, não resultando fácil a junção da oferta com a procura; e também às barreiras culturais, sobretudo lingüísticas, insuperáveis em muitos casos, e que se fazem mais evidentes, quanto maior é a qualificação requerida para a vaga.
Neste panorama a emigração emerge como uma solução individual a um problema coletivo que no caso galego vem de longe, muito para além da atual crise. Quem governa leva desde sempre ignorando os problemas reais do País e este, aliás de crónico, é dos mais graves.
"A emigração emerge como uma solução individual a um problema coletivo"
A escolha de muitos jovens galegos por uma solução individual deixa ao País órfão, na sua corrida para uma melhora pessoal incerta, que em muitos casos não é nenhuma pechincha. O próprio sistema promove estas soluções de esmagador espírito individualista. Desde a outra margem, devemos defender e difundir propostas de carácter coletivo e cooperativo, encorajando ao pessoal para não abandonar o País e deixá-lo nas mãos dos que não acreditam nele, sendo os responsáveis últimos da sua destruição. Se alguém deve emigrar, que emigrem eles!