Opinión

O potencial económico da língua

Falar em valor económico ou potencial económico de uma língua resulta recente no tempo, apesar do trabalho pioneiro de Marschak (1965).  Em Portugal acaba de ver a luz o livro intitulado O potencial económico da língua portuguesa.  No Estado espanhol tinha saído em 2003, El valor económico de la lengua española.

Falar em valor económico ou potencial económico de uma língua resulta recente no tempo, apesar do trabalho pioneiro de Marschak (1965).  Em Portugal acaba de ver a luz o livro intitulado O potencial económico da língua portuguesa.  No Estado espanhol tinha saído em 2003, El valor económico de la lengua española.  O primeiro abre campo nesse potencial (valor) a respeito da pesquisa espanhola, dedicando só um dos seus nove capítulos a realizar uma réplica ao estudo pioneiro de Martin Municio, baseado em métodos econométricos.

Já desde o começo, o estudo salienta a importância da língua portuguesa num mundo mais interconectado, tanto a nível de falantes (3,7% da população mundial), como de riqueza total (4%) e de dimensão geográfica (8 países a ocupar cerca de 10,8 milhões de quilómetros quadrados), constatando que num mercado cada vez mais global, o português implantou-se como língua de comunicação internacional devido a três fatores principais:

1.      crescimento económico muito acentuado na última década;

2.      reconhecimento de boas práticas de governo em praticamente todo o universo dos países de expressão portuguesa;

3.      reconhecimento internacional de personalidades e instituições do espaço lusófono, em paralelo com a afirmação internacional de empresas multinacionais.

Atingida a posição atual, no caso do português, a intercompreensão dos seus falantes devém numa mais-valia, reforçando a sua vantagem comparativa no quadro da globalização.  A língua é um facilitador significativo nas dimensões de intercâmbio: migrações, turismo, comércio exterior e investimentos diretos.  Os factos vêm a confirmar as previsões baseadas na teoria dos custos de transação.

Desta maneira, alguns governos, conscientes da sua dimensão estratégica, investem significativamente na defesa e promoção da língua.  Os países de língua oficial portuguesa têm neste âmbito uma posição privilegiada, visto que no contexto da globalização atual em que a sobrevivência de tantas “espécies” linguísticas está ameaçada, a utilização e a procura do português está em franca expansão, como é demonstrado pela tendência da procura da sua aprendizagem como segunda língua, as elevadas taxas de crescimento a nível da Internet e assim para a frente.

Mas apesar de tudo isto, existe uma tensão quanto à visão da língua.  Frente a esta visão pragmática e funcionalista permanece inamovível a visão essencialista, fechada na conceição da língua como instrumento de identidade e cultura.  A visão aberta da língua como instrumento de comunicação não nega os aspectos identitários e culturais da mesma, mas considera que em cada país deverão estar subordinados a uma estratégia de cooperação na difusão da língua a nível global.

Na Galiza vai sendo hora de mudar de esquema.  Estudos como este e outros que virão fortalecem a estratégia galego-luso-brasileiro ou utilitarista da língua.  Os frutos destes últimos trinta anos de visão identitária da língua são teimosos.  Chegou o momento de abrir a mente, de abrir a nossa língua ao mundo.

Manuel César Vila.

 

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