Opinión

Estafas

Uma noticia, agachada entre os destacados titulares que nos anunciam a boa nova do resgate bancário e o final das nossas coitas económicas, chamou a mina atenção por ver o mundo ao revés: a noticia era que “uma parelha enfronta-se a penas de 4 e 5 anos por estafa a um banco em Vigo”.

Uma noticia, agachada entre os destacados titulares que nos anunciam a boa nova do resgate bancário e o final das nossas coitas económicas, chamou a mina atenção por ver o mundo ao revés: a noticia era que “uma parelha enfronta-se a penas de 4 e 5 anos por estafa a um banco em Vigo”. Penso que com a que cai é tanto indecente a noticia que deveria ter sido definitivamente ocultada; e mais que indecente, mais que obsceno, mais que indecoroso, realmente criminoso é o feito em sim, é o feito de que com todas as estafas de que fomos e seguimos sendo vítimas por parte das entidades bancarias tenham a ousadia de levar ao Julgado com petições de condena de 4 e 5 anos de privação de liberdade pola quantia de 175.000 €.

Não tenho noticias de que esta parelha estafara ao rico em beneficio do pobre (a não ser eles mesmos), polo que não defendo aos acusados se realmente cometeram a estafa, mas acuso aos poderes públicos, designadamente ao poder judicial, de que apliquem as suas penas sobre os miseráveis e deixem indenes aos que nos estafaram a todos os súbditos de este país (que já não sei nem como se chama desde que cada vez mais perde soberania pola cúpula para a ceder á troika comunitária enquanto reforça o centralismo respeito das nacões que a integram). Quantos miles de milhões, sem ir mais longe e porque nos afecta directamente, nos estafaram aos galegos as Caixas Nova e Galiza? Quanto nos vai custar, a galegos e não galegos, a estafa de Bankia?, quanto as outras estafas bancarias por todo o país?, quanto imos pagar polo resgate do sistema financeiro? E quantas pessoas figuram como imputadas por essas estafas?

Sem presumir de memoria (que a minha é fraca) penso que o único banqueiro encausado, processado e condenado foi Mário Conde, que nem devolveu o que se  que estafou nem cumpriu os anos que se impuseram de condena. Pois bem, em contraponto da parelha que se enfronta a 4 e 5 anos de cadea, nestes dias o condenado Sr. Conde (que, certamente, cumpriu, ainda que fosse de aquela maneira, com a sua condena) foi convidado polo Presidente da Deputação de Ourense a impartir uma conferencia e foi efusivamente recebido e saudado polo nosso Presidente Sr. Nuñez Feijoo. Não tenho noticias de que o Sr. Nuñez Feijoo saudara á parelha que supostamente estafou a um Banco em Vigo.

Agora que falam da Europa das duas velocidades já vemos como as diferentes velocidades, as desigualdades, foi um invento antigo e desde logo de habitual aplicação na política e, o que é pior, também na Justiça. Sempre há alguma artimanha se os privilegiados têm o deslize de serem pilhados “in fraganti”: ou prescribiram os delitos ou não som responsáveis ou desconheciam o que na realidade passava ou o tema não tem reflexo no Código penal, ou dá-se-lhe tempo para fugir...; mas se o apanhado é das classes desfavorecidas (que vamos caminho de ser todos, menos os privilegiados) terá sua condena e a sociedade passar-lhe-a o tanto de culpa.

Agora resulta como muito provável que fiquemos incluso sem Banco galego, que as nossas (?) Caixas acabem engolidas por qualquer outra entidade e que o nosso aforro, se segue a ser nosso, se empregue em aportar riqueza para outros lugares mais convenientes, consumando-se assim a grande estafa a todos os galegos que alem de ter nomes próprios também leva a dos partidos políticos que propiciaram esta desfeita.

Tudo isto faz-me lembrar que dizia Torga, referido ao povo português, mas que também pode ser aplicado ao nosso, que lhe faltava o romantismo cívico da agressão, e acrescentava "somos socialmente uma comunidade pacífica de revoltados". Certamente, mostramos a nossa indignação nas manifestações, nas grandes concentrações, incluso nos Parlamentos, minimamente nos jornais e TVs, mas aí fica tudo, pois segue a faltarnos o romantismo cívico da agressão.

Já não podemos ter confiança nos poderes públicos, que nos enganam, nos poderes económicos, que nos exprimem, no poder executivo que nos esmaga nem no poder judicial que utiliza uma dupla vara de medir e finaliza por se rir da cidadania (caso Divar e o triste espectáculo do CGPJ e incluso da Fiscalia).

Triste futuro o nosso. Ainda não deixamos de ser colónia de Espanha e já somos subcolónia de Europa.

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