Opinión

Déficits ocultos: o rato no faiado

Na sexta 18 de maio conhecíamos os dados oficiais do déficit público espanhol em 2011 (8,9% do PIB), daquela os porta-vozes do Governo falavam em déficit oculto, ao ter-se acrescentado a previsão do mesmo em quatro décimas. Do desvio foram acusadas várias comunidades autónomas, sendo as máximas culpáveis Madrid e Valência, e em menor medida Andaluzia e Castela e Leão.

Na sexta 18 de maio conhecíamos os dados oficiais do déficit público espanhol em 2011 (8,9% do PIB), daquela os porta-vozes do Governo falavam em déficit oculto, ao ter-se acrescentado a previsão do mesmo em quatro décimas. Do desvio foram acusadas várias comunidades autónomas, sendo as máximas culpáveis Madrid e Valência, e em menor medida Andaluzia e Castela e Leão. O Governo do Estado demonstrou não ter qualquer problema em reconhecer esse déficit oculto, ainda que seja sinalando como culpáveis aos do seu mesmo partido, já que a causa é a existência de comunidades autónomas e não de quem as dirige, sobretudo se são dos deles, ou do destino dado aos fundos públicos. Mas o motivo deste artigo não é falar destes déficits ocultos, senão dos verdadeiros déficits ocultos dos que não se costuma falar.

A atual tirania dos déficits nominais imposta desde Francoforte e Bruxelas acocha os déficits ocultos de todas estas políticas que estão executando. No entanto, a existência destes déficits condiciona as perspectivas de longo prazo da nossa economia, e o que é pior, das nossas vidas.

Por exemplo, hoje por hoje vemos como os serviços básicos do estado do bem-estar ficam órfãos de recursos públicos, mas pela contra, esta mesma semana conhecíamos da injeção de 23.000 milhões de euros na Bankia do Rato, assemelhando ser apenas o começo do processo.

Assim, a atual situação do sistema financeiro espanhol está a provocar, e vai continuar provocando, grandes sacrifícios para a cidadania, hipotecando o nosso futuro, mas isto não é posto em questão, ao menos desde os alto-falantes oficiais. Paradoxalmente o fundamentalismo nos dígitos da dívida e do déficit públicos imposto aos Estados da euro-zona, não conta com uma correlação no sector privado da economia, ou ao menos no que diz do seu sector financeiro, apesar da sua hipócrita maneira de reagir, privatizando os lucros e socializando as perdas.

Do déficit oculto anterior provém a maior parte dos males que estamos a sofrer, mas existem outros déficits ocultos também esquecidos e de muita importância. Estaria a falar do provocado pelo escasso investimento público, falemos nos serviços básicos, falemos nas infra-estruturas. Agora sofremos as primeiras conseqüências destas políticas, mas a repercussão maior está por vir.

Um terceiro exemplo, também em relacionamento com o estado do bem-estar é o das reformas. Trata-se de uma evidência generalizada nos países desenvolvidos economicamente, que um número menor de trabalhadores vai ter que manter a um número maior de reformados. No entanto, as medidas adotadas pelos governos espanhóis ficam na superfície (aumento da idade de acesso à jubilação e diminuição das quantidades pagadas, bem pela via do congelamento, bem pela queda das reformas reais). O limite destas medidas bate com a própria natureza humana, apenas ficamos por saber quanto serão capazes de esticar a corda.

Na Galiza especialmente e referindo-nos a este problema, os governos galegos levam mais de trinta anos ignorando a estrutura demográfica da nossa população, atuando como autênticos autistas no diz sobre o assunto.

Estamos pois falando de déficits e de problemas reais, que vão condicionar o nosso futuro, mais lá de uma conjuntura económica concreta e de uma rácio nominal imposta pelo Tratado de Maastricht. É por isto que são necessárias soluções e medidas que vaiam ao cerne dos problemas; mas há que ter vontade e soberania políticas para afrontá-los. Ignorá-los ou esquecê-los é caminhar para o desastre. Entretanto o rato está a estragar a colheita de milho no faiado e nós sem abrir a porta da casa ao gato.

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