Opinión

Síria no marco da luta pela hegemonia global

No momento em que um modelo civilizador entra em colapso, um novo paradigma orientador surge das cinzas deste antigo sistema cultural e cosmogónico. 

A velha visão mecanicista nascida a partires de Newton e Descartes (tão precisa na sua época para humanidade aperfeiçoar sua mente racional) está agora em declínio. A velha visão darwinista, mal focada por Malthus, e aproveitada pelo império Britânico, para legalizar seu domínio sobre o orbe (aproveitando-se do magnífico trabalho de Thomas Henry Huxley) deve ser já ultrapassada. O imaginário coletivo ainda viçado nessa visão de luta pela supremacia e sobrevivência dos mais adaptados, deve ser já reformado; pois ja em 1902 com a publicação do livro "Ajuda Mútua" de Kropotkin, foi demonstrado que uma sociedade baseada na complementaridade é factível, dentro das leis naturais e, a vez, este fator converter-se em fomentador de harmonia e facilitador da regeneração cíclica das redes da vida... De ai, que agora, estéjamos já a precisar implementar na psique global, esta mudança precisa, para daí fazer vibrar no imaginário coletivo as ideias que tanto Eric Fromm, em seu livro "Ter ou Ser"... Como o grupo Eranos, durante 5 décadas de reunião, sintetizaram, junto a muitos outros, para poder-mos nós agora realizar esse transito coletivo duma sociedade de confronto (em todos os níveis: familiar, de trabalho, entre naçoes, entre alianças...) em face duma nova sociedade de confraternização. Obrigação de todos e todas devera ser travar a viragem material das últimas décadas, aborrecida já pelos índices recorrentes de excesso de consumo. 

Viragem material atual, afirmada já desde fai décadas, pelo Endeusamento do Mercado e o poder de atração dos Oráculos de Índice de Bolsa de Valores – Leia-se Wall Street – City Londrina - Tókio. O trunfo da Iconografia primeiro do dólar – agora do Cartão de Credito. Com a China concorrendo, no tabuleiro económico, de modo muito eficiente, dentro dum mundo ainda virado na Guerra – como forma de imposição, dentro da ainda estreita visão de dominar ou ser dominado, resulta cada vez mais difícil de administrar com um planeta carregado de armas nucleares, onde por necessidade a visão de confronto, teria de ser substituída pela prevalência da complementaridade, mais adequada para resolver conflitos ocasionados por interesses contrapostos. 

Ja em 1902 com a publicação do livro "Ajuda Mútua" de Kropotkin, foi demonstrado que uma sociedade baseada na complementaridade é factível

 

Ate tal ponto enraizada no imaginário coletivo (a luta), que viramos da guerra fria – confronto entre modelos de livre mercado e planificado; para a nova guerra económica: confronto entre poder financeiro privado ocidental e poder financeiro estatal chinês. Desta nova realidade geopolítica, deriva todo o mapa de guerras e confronto no mundo, assim como as lutas em regiões quentes, pontos de fricção - onde os interesses de ambos bandos embatem. 

Sendo necessário dominar a Rússia, para conter a expansão comercial da China (dado as bases norte-americanas no pacífico rodeiam já pelo mar o gigante asiático, podendo mesmo parar a navegação comercial chinesa). Daí que a velha política do império britânico de contenção da Rússia (ainda em vigor, com bases norte-americanas também cercando o espaço de possível expansão russa na Eurásia) tem de ser acrescentada agora ao Gigante Amarelo. Dai a aliança crescente russo – chinesa. Dai a necessidade de evitar o predomínio chinês e russo no Meio Oriente (corredor fundamental da energia, tráfico de pessoas, drogas e armas). 

Assim que para impedir China realizar seu sonho de ativar, de novo, a velha Rota da Seda; conectando agora África, Europa e Ásia... Preciso será garantir o domínio total das rotas no Meio Oriente. A China precisa materializar por terra o seu sonho de hegemonia comercial (apoiada pela finança própria), tentando evitar passar por território controlado pelo Ocidente. Para isso a Rússia é fundamental (baste simplesmente deitar uma olhada no mapa). Mas para Rússia esse interesse chinês fomenta também, a sua vez, o poder de intermediação russo na Eurásia, e combina de maravilha com sua ideia central, de substituição do paradigma global cultural ocidental "racionalista", por um novo paradigma global oriental "mais holístico" (segundo a Conceição intelectual de Alexander Dugin). Se a maiores somamos, que a única potencia com capacidade para defrontar militarmente o ocidente é a Rússia (a pesar do incremento dos orçamentos militares por parte de Beijing)... poderemos ter um panorama mais acertado do relacionamento vital Sino-Russo.

A cousa deixa entrever que essa aliança chinesa-russa está o pôr em xeque subtilmente o domínio global do Ocidente - pois ameaça já 2 dos três tabuleiros que comandam o mundo: o económico (onde a China já em realidade é potencia hegemónica, mas que ainda se mantêm no poder do ocidente, enquanto as agências de qualificação monetária centrais e as bolsas primordiais sigam sendo ocidentais) e o cultural-científico e tecnológico (onde ocidente mantêm ainda supremacia científico-tecnológica, mas vê-se ameaçado já na concorrência cultural)... Isto agrava-se, desde que China decidiu abrir um novo mercado de petróleo em yuans, que pode por em causa a hegemonia do petrodólar. Este novo comercio de petróleo em "contratos de futuro" pode mesmo atrair ao anel de poder chinês, a países como Rússia ou Irão sancionados pelos EEUU... Tendo assim já definido, na atualidade, uma guerra comercial e monetária, que por desgraça sempre é o epicentro duma guerra total... 

A cousa deixa entrever que essa aliança chinesa-russa está o pôr em xeque subtilmente o domínio global do Ocidente

 

Por outro lado os recentes ataques com mísseis de cruzeiro, da coligação ocidental a Damasco, sem o consentimento da ONU; nem sequer a aprovação do Parlamento inglês ou o Senado Norte-americano, deixa em aberto a possibilidade, de deixar a um lado o direito internacional e interno das nações em este confronto.... 

Como vínhamos dizendo há já algum tempo, a época de encaixe relativo entre o Ocidente e os BRICS, terminou... Certamente agora não sendo BRICS - mais claramente China - Rússia... Entre outras cousas, porque cenários como os que hoje estamos a ver no Brasil, tem a ver com este desenvolvimento geopolítico. Dado Ocidente não se pode permitir agora em esta fase pré-bélica uma independência económica da América do Sul, comandada pelo Brasil e apoiada pelos BRICS. E muito menos uma adesão do Brasil em favor da Rússia ou China. Ainda menos todavia uma aliança entre o regime castrista, bolivariano da Venezuela e o PT brasileiro... Ameaça aos interesses globais do Ocidente, que já foi removida na América do Sul. Sendo agora os governos nas nações centrais como Brasil e Argentina favoráveis ao Ocidente. 

Assim que em tempos de guerra aparente estamos a navegar sem bússola.

Por cima o confronto secular entre xiitas (representados pelo poder iraniano) e sunitas (representando pelo poder saudita e dos emiratos) não deixa passo a nenhuma possibilidade de acordo... 

O wabahismo apoiado pelos sauditas estende-se a sua vez, por todo o mundo sunita, convertendo-se um aspeto muito negativo, para a convivência da humanidade, ao representar uma visão involutiva de "única verdade". O início dum programa de construção de 560 mesquitas em Bangladesh, não deixa lugar a dúvidas sobre a intenção da Arábia Saudita (algo que está a por muito nervosos a vizinhos fortes como a Índia, sabendo que uma minoria indiana em Bangladesh estará menos protegida, si a visão do islão wabahi se impor no governo de Daca).

Este conflituoso cenário põe em evidência, que a necessidade evolutiva de confluência das culturas, está ainda muito longe de poder realizar-se... E sim essa confluência não pode haver paz e equilíbrio... Muitas pessoas ignoram, que mesmo os mais dificultosos dos interesses económicos, podem ter acomodo, si existir acomodo cultural e ideológico... Mas estamos diante de ideologias infestadas de supremacia e luta pela domínio: ancoradas ainda, no estado mental paleolítico de guerra pela sobrevivência, dentro do medo a escassez de recursos e morte.... Pouco poderá ser realizado. Se ainda os corações dos humanos seres, não foram inundados da verdade de que todas as culturas, ideologias, perceções, têm um nexo comum em toda a humanidade... E que somente mediante o dialogo aberto entre dirigentes, sociedades, e organizações diversos, podemos evitar o perigo dum confronto termonuclear... Senão formos capazes de iniciar já essa viragem do imaginário coletivo de guerra para paz, mal vamos... 

O wabahismo apoiado pelos sauditas estende-se a sua vez por todo o mundo sunita

 

Sendo que precisamente o marco de dialogo entre as nações passa pela ONU. Agora que parece muitos desejariam acabar com esse marco, criação única de imensos esforços coletivos da humanidade (trás milénios de guerra), os povos devemos tomar o comando e sair as ruas já não a suplicar, senão a exigir PAZ...

Mais do que nunca será preciso para já, criar uma rede global de Paz. Entre todos os cidadãos do mundo, de todas as cores, raças, credos e visões culturais... Para que duma vez por todas nossos dirigentes entendam que o tempo da guerra já foi.

Não fica tempo para hesitar, o tempo para uma guerra é cada vez mais curto... Mas temos todo o tempo do mundo sempre para paz. Pois em ausência de violência o tempo é eterno.

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