Opinión

Um sonho comum de país

O sonho do século XX era um sonho comum.


O sonho do século XX era um sonho comum. Conquistar a Independência tinha como primeiro objectivo libertar o nosso país da opressão colonial. Combater essa injustiça e atingir essa conquista é um feito que devemos a várias gerações que se comprometeram com esse sonho, sendo que nem todas essas pessoas o fizeram pelos mesmos motivos. Hoje, 40 anos depois, falta-nos o sonho. Falta-nos o sonho comum. E aos leitores deste espaço lanço o desafio: qual é o sonho angolano deste século?

Alguns angolanos sonham com crescimento económico à imagem da América. Outros sonham com igualdade social ao estilo de Cuba

Todo o angolano sonha. Alguns sonham com o Prado. Outros sonham apenas com água e luz. Alguns sonham com crescimento económico à imagem da América. Outros sonham com igualdade social ao estilo de Cuba. Alguns apostam pela estabilidade. Outros pela mudança.

Hoje me vi numa longa conversa entre amigos onde nos perguntamos qual é o sonho angolano deste século? Qual o nosso sonho para os próximos 40 anos?

Talvez a memória nos falhe um pouco nesta conversa, pois ainda no século passado, houve quem prometesse uma segunda conquista, um desejo incumprido. Depois do plano mínimo – a Independência – havia o plano máximo de conseguir emancipar o povo angolano, “construir o homem novo”, através de conquistas sociais básicas. Mas esse mapa baralhou-se pelo caminho. A bússola está hoje avariada, confusa de tantos nortes diferentes, atrapalhados por guerras e outros erros imperdoáveis, para além de tantos sonhos individuais que não são compatíveis entre si, no colectivo.

Mas como fazer possíveis os sonhos de todos nós? Como é que podemos conseguir que o sonho de uns não se sobreponha aos sonhos de outros? Como sair desse conflito?

Falta consenso, isso é certo. Talvez seja necessário aceitar esse momento histórico, ao invés de negá-lo, contrariá-lo e, em alguns casos mais graves, cair em rejeição. Passadas os longas noites de pesadelo, não se pode hoje negar a vontade de sonhar mais longe. Mas será possível sonharmos juntos?

Sonho que o máximo número de angolanos tenha condições para sonhar longe, sem padecer da necessidade do mais simples

Talvez seja possível traçar uma meta comum. Talvez nivelando os pontos de partida: se não tens água e luz, é mais difícil realizar o sonho de viajar. Se já tens um Prado, sonhas com o segundo. Talvez seja necessário, em primeiro lugar, nivelar os pontos de partida, para que os sonhos sonhados sejam mais possíveis para cada um, por um lado, e sejam sonhos construídos com a máxima educação e informação possível sobre os caminhos que se pode escolher na vida.

Pessoalmente, sonho que se multipliquem as oportunidades, sem exclusões. Sonho que os sonhos dos outros nos importem o mesmo que os nossos, sem que nos atropelemos, sem avariar a bússola. Sonho que o máximo número de angolanos tenha condições para sonhar longe, sem padecer da necessidade do mais simples. E que a conversa dos sonhos não seja vaga e abstracta, como mais um luxo. Que os mais-velhos não percam a capacidade de sonhar. Que os mais novos sonhem juntos. E que nos encontremos a meio caminho num novo sonho comum de país.

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