Opinión

De como a RAG subiu aos céus

A Desmemória, o grande problema da Galiza.  Como do Seminário de Estudos Galegos ninguém sabe nada, e algo tão parva como a RAG foi subida aos céus do galeguismo.

A Espanha, Castela/espanha, sempre fez o máximo esforço no controle da sua história.

A sua história do que é a nação espanhola no sentido do teórico jurídico alemão Carl Schmitt, no que bebia o franquismo e no que segue bebendo o estado democrático pleno do 1978 (pleno..., espanha sempre necessita qualificativos esplicativos, antes era democrácia orgânica, agora é plena...). Para Schmitt os inimigos, não são nunca sujeitos de direitos. E para Schmitt a unidade da nação é o fundamento de todo direito, e a nação é esse construto, esse projeto que fundamenta todo o que vem depois, incluídos todos os direitos.

Em setembro de 2017 o presidente do poder judiciário no ato de abertura do ano judicial, Carlos Lesmes, dirigia-se ao rei e dizia no seu discurso, o mesmo que logo Llarena faria figurar na ação contra os arguidos nacionalistas catalães. “ La  unidad de la nación espanhola es el baseamiento último, nuclear e irreductible de todo el derecho de un estado” (Karl Schmitt diria o mesmo). O que faz que a concepção da democracia que haja no estado, seja ela diferente, de qualquer democracia homologável, já que por cima  dos direitos individuais da carta das Nações Unidas, e do quadro jurídico europeu, está a INDISSOLÚVEL UNIDADE DA NAÇÃO ESPANHOLA. E a nação espanhola tem que ter um projeto de história comum  integrador, onde espanha -eles- “somos todos”, e da maneira como a entenderem, as elites jurídicas e culturais nacionais espanholas, e isso deve ser, a que se abençõe e se incuta, por todo lado.

O controlo da história, como baseamento do futuro, alicerzado em raízes comuns que explicam o presente  -nacional- e dão forma ao projeto nacionalizador, é para as conceições de Karl Schmitt, é dizer as espanholas, fulcral

O sucesso de Castela/espanha com a Galiza, foi o de conseguir de nós “sermos em grande medida um povo sem memória,” é a nossa história clínica que diria Carvalho Calero como explicativo de isso.

Na Galiza Castela/espanha gasta sempre um máximo esforço no controlo da história, a história dos factos e a história é reescrita desde o presente em todos os campos. Como diz Ernesto Vasquez Souza, No campo da língua há que compreender que o que há que estudar, e como se formulou e com que velocidade se implantou (com agentes ativos, cesões e colaboracionismo) essa invenção do galego ILG-RAG... nomeadamente porque essa ideia de Galego, desde o presente, condicionou não apenas o futuro quanto também o passado, as escolhas, as narrativas a construção cara atrás do que é a língua... .

Ao sermos um povo sem história, constroir (para nós) a nossa história como apendice particular da espanha é fulcral, e ela pode ser reescrita a cada momento, por exemplo na revista Murguia núm. 41-42, http://www.revistamurguia.com/?p=2836 o secretário editorial da revista, empregado do Instituto de Estudos Galegos Padre Sarmiento (CSIC), faz uma entrevista ao seu empregador e chefe, o director do Instituto, entrevista que conserva as respostas no castelhano original, todo uma certificação da bondade do Instituto que se reclama continuador do Seminário de Estudos Galegos (isso afirma preto sobre branco, o empregador na entrevista), grande criação do nacionalismo galego dos anos 20 do século passado,...

A entrevista esclarece o que é a reescrita da história, por exemplo, há uma pergunta sobre o reinado dos Reis Católicos, esses que submeteram ao nosso povo após uma guerra terrorista. Pergunta o empregado ao seu chefe: Vosté tamém insistiu em revisar o reinado dos Reis Católicos em Galizia... Diz o Empregador do perguntante...La interpretación de Castelão (no Sempre em Galiza) és um clamoroso disparate...Pero lo que fué i supuso para los galhegos, la política pacificadora de aquelhos monarcas merece um juízio diametralmente diferente... Em fim (lo de Castelão) todo um despropósito

A criação do Seminário de Estudos Galegos, aparece no núm. 195 d'A Nossa Terra, do primeiro de dezembro de 1923 (aniversário do levantamento de Portugal contra o submetimento dos austrias castelhanos, 1-12-1640), nasceu segundo um modelo que passados os anos serviria para que Constatino Garcia cria-se o ILG.

Nasceu afecto a secção de Filosofia e Letras da Universidade compostelã, sendo seu presidente Dom António Cotarelo Valhedor, catedrático da universidade. Dizia A Nossa Terra: "Este seminário promete ser um centro de grande importância para o fomento e cultivo nom somente da literatura rexional, senom tamém para as ciências históricas e para o desenvolvimento da vida galega num amplo orde cultural" E foi o think tank do nacionalismo galego.

Para um nacionalismo galego, que tomava a chicota a RAG essa criação sob o impulsionamento da Condessa de Pardo Bazam, que adorava a monarquia e seus estamentos e que foi quem a converteu num patronato sob a égide do Rei, de aí o de real

Eis os Estatutos originais  de la Real Academia de Cultura Galhega de la Corunha, que vigoraram até o fevereiro de 2000

https://www.boe.es/datos/pdfs/BOE//1906/262/A01118-01119.pdf

O que figura na wikipedia galega sobre a RAG, é uma página brilhante com corta e pega subtilmente do Instituto de Estudis Catalãs, página em catalão bem anterior a galega, e é modélica sobre como reescrever a história

https://gl.wikipedia.org/wiki/Real_Academia_Galega  Nos acadêmicos fundadores em 1906 nenhum tinha como língua de cultura outra que não fosse o castelhano. A gl.wikipedia não repara na instituição inane que havia na Catalunha e que foi a inspiração de algum dos promotores da Havana, A Reial Academia de Bones Lletres de Barcelona. (no arquivo da Instituiçaõ Reial Academia de las Bones Lletres de Barcelona, figuram convites da RAG de  1907, e 1908  e mais, por considerá-los os seus verdadeiros guias.

https://ca.wikipedia.org/wiki/Reial_Acad%C3%A8mia_de_Bones_Lletres_de_Barcelona

 era instituição bem pacata, e hoje totalmente esquecida na Catalunha, ainda que segue existindo, porém que estava na inspiração de alguns dos promotores havaneiros.

Nos paises catalães está outra academia patronato Real, a Real Academia de Cultura Valenciana, e que tinha entre seus impulsionares a Blasco Ibanhez, encorajado para isso, ao parecer, após uma aventura com a condessa de Pardo Bazam.

Essa Academia também está morta para o catalanismo.

A história trágica e apagada nossa (Carvalho Calero)levou a que a Rag fosse subida aos céus e que do Seminário de Estudos Galegos...., na política, ninguém se lembrar.

A Real Academia de Cultura Gallega de la Corunha, que tem toda a sua documentação administrativa, atas e demais, até 1998, em castelhano e sempre assinado La Corunha, tinha um presidente o 20 de julho de 1936, que acompanhava aos golpistas nas suas depurações. Entanto o IEC (catalã) e a Euskaltzaindia eram proibidos, a RAG fazia acadêmico de honra ao ditador Francisco Franco (acho que não lhe importava o assunto, isso sim sabia onde havia uns bons lambe c. e que isso era mais uma homenagem a sua pessoa). Entre 1942 e 1960 foi o seu presidente Manuel Casãs Picorete, cujo compromisso com a língua nacional da Galiza, dele e do resto da academia era mais bem precário(Diaz Fouces 2020. El primer Galleguisme en el Mirall catalã). Em 1950, Casãs publica um livro de reflexões pessoais, e nele escreve sobre el Problema del galhego (pág. 258): Creemos que la solucion al problema del idioma está en declarar el uso livre del castelhano i del habla materna, com la obligatoriedad del castelhano en la ensenhanza i em las relaciones oficiales.

El idioma es um médio de comunicacion entre las gentes i los pueblos, pero tambiém um instrumento de trabajo, i por elho el castelhano que hablam mas de veinte naciones há de estimar-se indispensable para um mas amplio campo de aciom, i médio adequado para mantener la lucha de la vida em condiciones de igualdad com quienes -nacionales i estrangeros- conozcan el habla lhamada espanhola.

I por último, que para Catalunha como para Vascónia i demás regiones dialetales com referéncia al problema del idioma, lo principal es que no se fomente com innecesárias hostilidades el uso de sus respetivos médios de expresion, promobiendo profundos resentiminetos, causa de probables disosaciones morales, ya que tal problema tiene um aspeto sentimental que merece todos los respetos... sigue na pag 259: ...como no compreender qual há de ser inevitablemente, fatalmente, el destino de los particularismos linguísticos de las localidades que integran la superior unidad de una nación i de um estado que a la vez disponem de um médio de comunicaciom amplio, dominante em una gram parte del mundo, como ocurre em el espanhol.

Los idiomas como todos los seres naturales obedecem a una lei biológica, los dialetos, si los pueblos que los poseen no se encierran en los confines estrechos de su rincom i quierem poner-se em contato com el mundo, tienem necesariamente que transformar-se hasta unificar-se com el idioma superior de su raza i de su civilización. (Este era também o pensamento de Constantino Garcia, o pensamento verdadeiro daquele camaleão)

Se  em Ponte Vedra a ditadura fez presidente da câmara municipal a Filgueira, um poema em honor de Franco, moveu os obstáculos, na Crunha o presidente da Academia, Casãs, foi presidente da câmra municipal por duas vezes.

O seminário de Estudos galegos foi a alma  e cerna da construção de um projeto cultural nacional, e a mais grande criação do nacionalismo no campo cultural.

Era o forno onde se coziam os estatutos, os projetos de lei, as alternativas culturais, se fazia ciência onde se iniciava a construção cultural desde uma perspetiva absolutamente galega e galegoportuguesa.

Diz o empregador na entrevista antes citada: El Seminário de Estudos galegos desaparecIó formalmente en nel verano de 1940, (por um ukase do terrorista ditador).  La determinacion partió de Xesus Carro Garcia i otros significados miembros daquele (direita galeguista ou direita que cantava as glorias do caudilho e seus crimes) mientras que su munhidor mas entusiasta fué Jesus Sanchez Cantom, quiem contó con el apoio del secretario general del CSIC (criação do franquismo inspirada no instituto musoliniano e na ideia de autarquia), José Maria Alvareda Herrera.

El hecho fué que em noviembre de 1943 se creó el IEGPS i em fevrero del anho siguiente se contituyerom formalmente su diretiva i las distintas seciones que deseguido iniciarom su atividad....

Uma última questão, sabe você quantas vezes o nacionalismo galego atuante reclamou o retorno da IEGPS à Galiza, e polo menos que deixa-se de fazer espanholismo submetidor com tanto descaro...

ZERO, é uma cousa "pequena" na que ninguém repara.

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