Opinión

O presidente Feijoo e suas moratórias

No mês de fevereiro de 2021, Feijoo anunciou uma moratória para a plantação de eucaliptos na Galiza. Esta medida apareceu como uma disposição adicional da Lei de recuperación de terras agrarias, em trâmite. Desde os grupos ecologistas denunciamos a medida por não solucionar o grave problema ambiental criado por esta monocultura, que ademais provocou uma avalanche de plantações em toda Galiza.

Foi como um “aproveitai antes de proibirem”. Segundo os dados do Inventario florestal de especies productivas, na Galiza havia, em 2018, 300.500 hectares de eucaliptais puros e 121.700 em mistura com outras espécies. No Plano florestal de 1992 colocava-se em 245.000 hectares para 2032. Polo tanto, estamos quase no duplo do previsto.

No passado março, Adega e mais o Sindicato Labrego Galego denunciavam que esta moratória estava a provocar um efeito chamada para intensificarem-se plantações desta espécie a eito por todo o país. Ainda, a 26 de outubro Adega vem de denunciar a ocupação ilegal com eucalipto duma superfície equivalente a 200 campos de futebol desde a moratória.

O abuso de monoculturas de alta produtividade como o milho e o eucalipto transformam a terra no que se chama “deserto verde”. Para terem uma alta produtividade o consumo de água tem de ser voraz e realizado em muito pouco tempo, o que deixa os acuíferos esgotados.

É lógico: “O palheiro não se faz sem palha”. A produção forçada deixa as terras empobrecidas em biodiversidade. Rompe a biosfera nesse conceito global simbiótico de terra-vida que é a característica deste planeta. Na sabedoria antiga diríamos que a cobiça rompe o saco. A esse respeito, Maria Reimóndez vem de publicar um livro terrível e apocalíptico que aconselho: Cobiza.

O decrescimento é uma necessidade, não uma desgraça 

Feijoo, amigo das multinacionais acaparadoras das riquezas, anunciou uma moratória para as eólicas e outras energias alternativas, que vai vigorar a partir de janeiro de 2022. Acaba de produzir-se o mesmo fenómeno. Muitas empresas estão a apresentar projetos para apanhar seu lugar de ocupação do território. Já estão admitidos a trâmite 7.200 megawats, quase o duplo do que existe na atualidade para 275 novas ocupações.

Na Galiza produzimos um excedente de energia a custo do nosso património ambiental, histórico e social de um terço do que necessitamos. Todos os grupos ecologistas exigem a mudança desde a energia baseada nos combustíveis fósseis para renováveis. Isto ficou patente na manifestação do dia 16 de outubro em Madrid. Convocada por Aliente, juntou mais de 180 plataformas de toda Espanha.

Desde a Galiza também estivemos lá. Todo o mundo quer isso. Todo o mundo gostaria de ter um ambiente saudável. Mas há que especificar o como. Nada adianta mudar desde uma forma de energia para outra se não mudamos o modelo de produção. Solicitar mais energia eólica e fotovoltaica sem termos em conta o modelo de economia colonial que está a imperar no planeta é não saber de onde vêm os tiros.

O aumento das emissões de CO2 para a atmosfera são o sintoma do grande desarranjo que a Terra está a ter. Nesse desarranjo tudo colabora: lixo, destruição de culturas tradicionais para as monocultura do deserto verde, agrotóxicos, adubos em excesso, macrogranjas de animais maltratados, transportes e construção de estradas, ocupação das sagradas montanhas, deterioro dos mares, etc. Tudo faz parte dum sistema podre e em decadência. Desde Adega propomos o modelo dos três “S” para a transição energética: Soberana, Social e Sustentável. Mas sempre tendo em conta o conjunto e os limites da biosfera. Este último conceito é fundamental. O sistema económico e social atual ignora-o. Mas a realidade é teimosa e vai-se impondo. Agora temos crise mundial por escasseza de recursos, por quebra no sistema mundial de transportes, por desequilíbrios geopolíticos. Mas isto é apenas o adianto. Deveríamos preparar-nos para sermos o mais auto-suficientes possível. O decrescimento é uma necessidade, não uma desgraça como os meios de des- informação querem nos fazer crer. Cómpre recuperar formas de vida compatíveis com a natureza, menos urbanas e mais rurais. A sabedoria tradicional ainda está viva. Não a percamos.

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