Opinión

Pandora: Os males do mundo liberados. Os nossos rios

Na mitologia grega, Zeus deu a Pandora, uma caixa em que se encerravam todos os males do mundo, com a ordem de nunca a abrir. Mas Pandora quis conhecer aquele terrível contido e ao levantar a tampa todos os males espalharam-se polo mundo. Assustada, tentou fechar a caixa, mas o dano já estava feito. Somente uma pequena qualidade ficou dentro: a esperança. 

A civilização ocidental atua como Pandora liberando danos que fazem mal aos seres humanos e ao planeta que nos faz de lar. O modelo capitalista, que procura benefícios a curto prazo, consegue a destruição dos ecossistemas com uma eficácia antes nunca igualada. Os acuiferos e os rios sofrem suas consequencias: ali vão parar os purins das granjas indústrias, os procedentes da construção, as sacas de plásticos, as depuradoras deficientes, as cinzas dos incêndios e, ainda os alastres erosivos das encostas desflorestadas, das beiras das estradas ou procedentes de mineralizadoras sem escrúpulos.

Porem os rios são fundamentais no estabelecimento da vida na terra. Todas as civilizações assentam-se na sua beira. Fornecem água para beber, para a agricultura, peixes de alimento e também são vias de comunicação. Mas, como Pandora, libertamos os males sobre este bem imprescindível. Temos ainda, no inconsciente coletivo, a crença de que o rio tudo o lava: tripas dos porcos, dejetos de animais e seres humanos e, inclusivamente, ouro. Mas em pouco tempo tudo mudou. Um gesto tão comum antanho como beber no rio, hoje é um perigo. Muitas atividades danam suas águas. 

Porem os rios são fundamentais no estabelecimento da vida na terra. Todas as civilizações assentam-se na sua beira

O urbanismo descontrolado, aproveita planícies de inundação para construir o que for. Em Lugo o colégio da Ponte está sobre os depósitos aluviais do Minho. Quando há cheias, no inverno, a outra beira desborda-se sobre o balneário e a estrada. Em Pontevedra, na Junqueira da desembocadura do Lerez construiram-se muitos centros educativos. Quando coincidem cheias com maré alta, a porcaria surte polos wateres de alguns destes prédios. E o rio perdeu sua capacidade natural de depuração. Em Sarria também se ocupou a planície de inundação com diversos prédios, e o rio desborda cada inverno. 

A concentração de população também dana a saúde dos rios. Os dejetos da nossa vida têm de ser depurados antes de lá ir e as depuradoras nem sempre trabalham bem. Aliás as lamas que concentram como resíduos, têm de serem eliminadas o que causa não poucos problemas. A massiva construção de estradas e de auto estradas dana profundamente o estado dos rios. Não apenas por interferência com seu caule natural, mas também a causa dos taludes que favorecem o alastre de sedimentos e de minerais antes ocultos e agora libertados. 

A massiva construção de estradas e de auto estradas dana profundamente o estado dos rios. Não apenas por interferência com seu caule natural, mas também a causa dos taludes

Nos rios da Galiza aumentaram muito a concentração de metais pesados como consequência do número de estradas e da minaria. Num informe de ADEGA do ano 2018 encontram-se níveis inaceitáveis de Cobre, Zinco, no Ulha, Hg, Cu, no Brandoso, Pb no Lanhas, etc. Os rios também são deteriorados polas plantações de eucalitos nas suas beiras, pois a capacidade destas árvores para sugar água não têm igual (42.000 litros de água por dia e por hectare). São escandalosas as permitidas nas beiras do Pedregal de Irimia, nas nascentes do rio Minho. Sendo este um lugar emblemático, quer ambiental quer culturalmente. O organismo de bacia, a CHMS, sacrifica um ben comun ante as exigências duma política florestal nefasta para Galiza, obediente ao poder das celuloses e madeireiros que procuram unicamente lucros a curto prazo. Sem pensar no mundo que deixam aos descendentes. 

Os Rios recolhem muitos dos males da caixa de Pandora com que Zeus quis castigar aos seres humanos. Ainda temos a pequeninha esperança que fica no fundo da caixa. Trabalhemos neste dom exigindo o cuidado do Bem Comun com visão de futuro. No 27 de setembro Adega, em parceria com outras associações locais, convocou o evento anual de limpeza simultânea de rios a toda Galiza. Participarom mais de 44 localidades e 22 concelhos. Neste ano cumprem-se 15 de Projeto Rios que estuda o estado e fomenta o cuidado dos nossos rios. Fica a esperança, se for acompanhada de responsabilidade para a saúde do ambiente.
 

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