Opinión

Pachakuti: A tranformação de tudo

Escutei com admiração o discurso do novo vicepresidente de Bolivia David Chopehuanca. Identificação com a Terra a Pachamama e compromisso com a tradição. A tradición é a alma eterna de Galiza. A tradición é a eternidade (Castelao). Os povos indígenas reclamam a união com a terra e o diálogo dos povos. Uma visão holística do mundo para utilizarmos aqueles bens que a Terra nos oferece sem os esgotar. Um modelo económico baseado no Bem Comum que meda a riqueza das nações pola satisfação de seus habitantes e não polo PIB. Porque o capitalismo é colonialismo. Somente pode manter-se do lucro obtido a cambio de extração barata de matérias primas com grande impacto ambiental nos países colonizados para vende-las como produtos elaborados com valor acrescentado nas metrópoles.

Isto é o que acontece na Galiza. Fornecemos eletricidade, madeira, rochas, etc., que serão manufaturadas noutros lugares. Aqui fica o impacto ambiental e a insustentabilidade: Parques eólicos em todos os nossos montes, encoros que alagaram os nossos melhores vales, madeira barata para o resto de Espanha, eucalitais para onde quer que olhemos e perda das nossas massas florestais autóctones. Mineralizadoras que arrasam com as nossas terras para deixar nelas a pegada perpetua dos restos degradados da sua atividade. Como consequência: desemprego, emigração e abandono do rural. Galiza produz eletricidade mais que suficiente para auto abastecer-se. Exportamos para fora da Galiza o 33% da nossa produção energética. A energia renovável representa mais de 11.000 megawatios dos que o 65% originam-se nos rios e nos nossos montes a custo do nosso património natural e cultural. Mas esta energia não fica na Galiza, o modelo de Rede eléctrica espanhola está baseado na “solidariedade colonial” polo que verte ao circuito geral (pagamos as perdas por transporte desde o lugar de produção até o de consumo).

Se assim não for cada um de nós poderíamos ser energicamente auto-suficientes. Mas, ou bulra!: Como as elétricas têm de pagar o canom elétrico aos concelhos onde extraem a eletricidade, cada um dos habitantes da Galiza temos que compensa-las com impostos no nosso recibo da luz. De todas as comunidades Galiza é a que mais paga (10,36%, mentres Andaluzia ou Madrid pagam 0,33% ). A eucalitização supera a dia de hoje o meio milhão de hectares ocupadas no nosso território. Ainda a burla não acaba: Feijoo e Inditex acabam de assinar uma parceria para fabricar viscosa a partir do eucalito por 950*106 euros de fundos europeus Next Generation de recuperação e transição ecológica! (mais eucalitos!) Este processo produz resíduos contaminantes e precisa de grande quantidade de água. Galiza não pode suportar mais eucalitos nas suas terras sob perigo de degradação irreversível destas e de fortes mudanças nos cursos de água além da perda da sua paisagem. Precisamos uma mudança de modelo. Nom queremos uma economia colonial. Queremos o equilíbrio a participação e o bem comum.

Por isso identifiquei-me com o discurso exemplar de Chopehuanca. Ele faz reconhecimento da sua condição de Indígenas, com a cultura holística de identificação com a terra diferente da voraz cultura colonial e do capitalismo desbocado que tudo come e tudo consume. Que está a emporcalhar a Terra de resíduos estéreis e perigosos, que preso da avarice e da corrupção junta nas mesmas mãos os poderes político, económico e judicial, numa versão moderna de feudalismo, contrario à transparência, participação e dialogo entre os povos da Terra. Na Galiza somos indígenas. Teremos que defender nossos recursos da depredação insaciável capitalista, representada aqui pola lei de depredação do governo Feijoo (Lei de fomento da implantación das iniciativas empresariais) que reduz requisitos ambientais e sociais e expulsa as pessoas do rural.

A nos compre cuidar dos nossos sagrados Rios, nossas sagradas Montanhas, nossas Chairas e terras de labor para que nos continuem a alimentar, sem lixar a atmosfera com mais CO2. Devemos denunciar as armadilhas do capital que aproveitando os fundos europeus para a transição energética imprescindível tenta destruir todos os nossos montes com eólicos, os nossos rios e rias com poluentes e secar os nossos cursos de água com eucalitais. A tradição não é o passado. Pode ser revolucionária.

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