Opinión

Minaria e crise ambiental

A minaria é um fator decisivo no desencadeamento da crise ambiental. Com a tecnologia atual podem-se mover montanhas, secar rios e deixar totalmente inutilizados milheiros de hectares de terras que ficam no nosso ambiente como “estéris”. A restauração que a lei impõe rara vez se cumpre. Baste ver hoje Pacios da Serra no Courel, ou Casaio no Barco de Valdeorras: mais de 300 km2 da Serra do Eixo, antes ocupados por carvalheiras e soutos, são apenas moreias de entulhos de mais de 400 metros de altura. As piçarreiras aproveitam apenas o 4% do material que extraem deixando cair os restos montanha abaixo no modo mais económico para a empresa. Não respeitando mais lei que a da gravidade. Porque os poderes políticos, Xunta e Confederação Hidrográfica, não lhe-lo exigem. A minaria nunca vai ser sustentável, porque o que se arrinca da Terra já não volta, mas poderia haver compensação ambiental dependendo do lugar e do tamanho da exploração, das técnicas de trabalho, do aproveitamento dos materiais minimizando rejeitos, da honestidade no restauro. Antes de qualquer início de exploração mineira devera ser obrigatório um estudo dos valores ambientais e culturais da zona e um plano da sua gestão, prévios a Avaliação de Impacto Ambiental. Desta maneira, poder-se-ia fazer um balanço do património para sabermos que foi destruído, que ficou e que poderia ser restaurado.

A Lei de Fomento da Implantación das Iniciativas Empresariais em Galiza ou “Lei de depredación” abre as portas para a ocupação agressiva do território por parte das grandes empresas que sempre estão em conivência com o poder. Resulta perigosa na Galiza onde existem muitos minerais que na atualidade são procurados, como Cuarzo, Terras Raras, Ouro, Cobre, Wolframio ou, recentemente, Coltan. O Coltan, indispensável para os telefones, foi encontrado nos refugalhos da mina da Penouta. A procura destes materiais sobe cada ano pondo o ambiente em perigo. Para a obtenção dos mais de 14 elementos que compõem o telemóvel é preciso mover muitas toneladas de terra, produzindo um grande impacto ambiental. Por isso é necessário reduzir a demanda e procurar outras fontes. É imprescindível mudar de sistema.

A minaria urbana pretende “escarvar” nos aparelhos em desuso que se escondem nas casas ou se deitam ao lixo. Introduz o conceito de Vida Útil de qualquer aparato em duas etapas: a) Desenho e fabricação; b) Reciclagem. A primeira tem que ter em foco sempre a segunda para facilita-la e fazê-la mais eficaz. Favorecer este reciclado desde a administração mediante ações positivas e também punitivas faz-se imprescindível se queremos reduzir a pegada da minaria. Há quem diga que isto não é económico. Mas não acredito que seja mais barato desfazer uma montanha e secar os rios do que reciclar os materiais, for de um telemóvel ou outro instrumento qualquer. Acontece que os custos de abaixar uma montanha, poluir as águas e o ar que todos os seres vivos precisamos para viver, não figuram como custos nas empresas. O crescimento tem de ser questionado e reduzir a procura que sempre vai provocar processos extrativos. Isto é o que há que travar. Não vamos substituir o capitalismo atual por um capitalismo “verde” que reproduza o modelo de exploração ambiental e humana com miúdos trabalhando nos testeis ou nas minas, com minerais de sangue como no Congo, ou o Lítio de Bolívia.

No Barroso, Portugal há projeto para a maior mina de Lítio a céu aberto da Europa. Irão abrir um buraco de 150 metros de profundidade por 600 metros de diâmetro. O pó, as explosões e os entulhos substituirão as fontes, os prados, as pessoas e outros animais. A demanda deste mineral para baterias de autos “ecológicos”, telemóveis e outros aparelhos de alternativa aos combustíveis fósseis, mostra suas gaçoupas para destruir um território onde seus habitantes recusam-se a mudar seu ambiente por um dinheiro que nunca vai compensar a perda da sua terra. Precisamos consumir tanto? Energia, telefones, automóveis, ainda que forem elétricos? Ou preferimos cuidar das montanhas, do ar e das águas? Esta é a questão. A Terra é finita e nossa única casa.

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