Opinión

O mar: berço e sustento da vida

Admite-se geralmente que a vida foi originada em mares mornos, pouco profundos e calmos. Os seres vivos mais antigos, os Estromatolitos, moram neste tipo de águas. Com uma história que vai até os 3.500 milhões de anos eles já faziam os ciclos biogeoquímicos que são a característica da vida na Terra: Tudo se aproveita tudo se recicla. Eles sabem de economia circular nos alargados tempos da sua história de vida. O pirata de Espronceda desde o seu barco canta ao “imenso mar bravio a quem ninguém impus leis”. O mar era livre e um bem comum. Os economistas liberais chamam de Tragédia dos Comuns (Hardin, 1968) à exploração dum bem comum como o mar. Porque os indivíduos motivados unicamente por seu interesse pessoal o esgotam inevitavelmente. Margareth Teacher, afirmava que não existe a sociedade, somente homens e mulheres a empresa e o mercado. No entanto Elinor Oostrom demonstrou em 2009 que a Economia dos Comuns é rendível e está estendida por todo o mundo em comunidades cooperativas. Que se dão normas de autogoverno comunitário.

É a única maneira de fazer um recurso perdurável. Na Galiza temos experiência no manejo dos Comuns: Comunidades de Regantes, Montes de Mão Comum, Confrarias de Mariscadoras que conseguem fazerem perdurar o ecossistema por muito tempo. A Terra é nosso bem comum por excelência e nela o mar, ocupa o lugar fulcral para o mantimento dos ciclos da vida no Planeta. No mar está a trave mestra que controla todos os ecossistemas da Terra e seu equilíbrio dinâmico. Infelizmente os oceanos estão a ser muito maltratados. Tudo vai parar ao mar. Deitam-se ali lixos procedentes de toda a atividade humana como se a sua capacidade de reciclar for infinita. E não é. Os mais de150 milhões de toneladas de plástico que têm atingido os oceanos nos últimos anos representa um grave problema para a vida em geral e para muitos seres vivos em particular. A pesca está a ser sobre explorada por uns poucos países para desgraça de outros que são despojados das suas pesqueirias tradicionais. E sua gente vê-se obrigada a emigrar por falta de recursos.

A capacidade de absorção de CO2 das águas tem diminuído por causa da subida das temperaturas e o deterioro de sistemas vivos como os corais. A regulação da temperatura depende do mar e está a ser afetado. Somos muitos seres humanos a demandar recursos e a comunidade social não consegue chegar a um pacto para fazermos uma boa administração destes. Equitativa e justa. O impacto ecológico duma pessoa do mundo industrializado supera em mais de 18 vezes a duma habitante subsahariana. Isso é imoral e, ainda é desestabilizador. Os bens comuns têm de ser de todos os seres vivos, incluídos os humanos. Ora bem, para o bom funcionamento da sociedade é imprescindível a entrada de energia no sistema. Foi doado na era do petróleo, gás e carvão, que a concentram na sua massa sob a forma de enlaces de Hidrogénio. Mas sua combustão expeliu CO2 e desequilibrou a atmosfera nosso bem comum imprescindível. E poluiu os mares. Empurrados pela necessidade os países mais poderosos planeiam desenvolver o sector da energia dentro do mesmo paradigma dos combustíveis fósseis. E aplicam-o as energias eólicas e fotovoltaicas que são transformadas em eletricidade. Mas isso não é correto.

Não é igual transportar petróleo, carvão ou gás natural que fabricar e exportar eletricidade. Planificam-se gigantescos moinhos para amplificar a produção e imaginam-se longuíssimas linhas de cobre para transportar até os lugares de consumo. Querem cobrir a terra de moinhos e agora projetam ocuparem os mares. Sem avaliar qual é o efeito no ambiente desses enormes engenhos e desses infinitos fios metálicos. De onde vai sair todo o cobre necessário? Qual seu efeito eletromagnético no meio marinho? Quanta aves morreram trituradas nas ventoinhas? Pelas costas galegas passa o principal corredor de aves migrantes de Europa. Que acontecerá com os mamíferos marinhos? Com os bancos de peixes e com os habitantes das costas e os pelágicos? Colocar grandes plataformas no mar para suster moinhos não oferece garantias de que esta maneira de obtenção de eletricidade não for perigosa para os nossos maltratados mares. Estamos na década da restauração dos ecossistemas marcada assim pela Unesco. Toda atividade tem que se manter no equilíbrio entre as necessidades humanas e os limites que põe o sistema Terra. Temos que consumir menos, repartir melhor e cuidar do lar comum, a nossa Terra. Não temos outro.

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