Opinión

Ecofeminismo

Otema que nos traz aqui não diz a respeito da simples contemplação da paisagem, mas sim a respeito do compromisso com a vida.  Será ecofeminismo a simples defesa ou gosto pela natureza relativa as mulheres? Rosália já nos está dando a resposta. Não. Eco faz referencia a casa, a lar e feminismo é revolta. Mas uma revolta total. Soterrada e evidente ao mesmo tempo. A luta mais feroz dar-se-ia no agachado do lar, onde as lutas de poder entrecruzam-se com os sentimentos mais fundos e os interesses mais ou menos evidentes. Em 1947 a PIDE censura o livro Terra sem Pão (1947) de Maria Archer por: “expressões que pouco dignificam a auctôra, na sua qualidade de senhora”, e não se detém tanto na formosa paisagem de Sintra. O tema que nos traz aqui não diz a respeito da simples contemplação da paisagem, mas sim a respeito do compromisso com a vida e com a Terra. Fraçoise d’Eaubonne criou o termo como resposta ao sistema patriarcal que exerce o domínio absoluto dos varões sobre a fertilidade da terra e das suas mulheres. Auxiliado pelas religiões monoteístas que sacralizaram este poder. E as ditaduras que se lançam como aves de rapina sobre nossos corpos e nossas almas. O resultado deste despotismo é a actual destruição medioambiental a que estamos assistindo. Se queremos resgatar os ecossistemas terrestres e a diversidade vital da Terra cumpre mudar o paradigma moral, na procura de uma ética global que prime o respeito pelo comum, pela diversidade e pela equidade entre seres vivos, incluídos os humanos, e a natureza. Segundo a ONU, as mulheres são as mais afetadas pela crise climática, representando 80% do total de refugiados climáticos. Porém, são também as mulheres, sobretudo as do Sul Global, as que menos responsabilidade têm na devastação dos ecossistemas, uma vez que é maior a probabilidade de viverem em condições de pobreza extrema Neste contexto associa-se patriarcado com colonialismo. Definindo regiões de sacrifício como lugares extrativos e submetidos a castigo ambiental da mesma maneira que as mulheres resultam fornecedoras de alimento, educação, cuidados e vida ao grupo, de jeito gratuito. Vandana Shiva coloca os cuidados dos seres vivos e cuidado da família no centro da questão não considerando que esta qualidade de cuidadoras seja de origem genética, pelo que pode ser praticada por homens e por mulheres. Maria Novo faz força na ideia da visibilidade e da abordagem sistémica. Quer o ambiente quer a mulher devem serem visibilizadas para serem apreciadas na sua reportação ao Bem Comum. Noutros artigos já me referi á Economia do Bem Comum como alternativa ao sistema capitalista extrativista que visa o crescimento perpetuo como objetivo, na falácia de ignorar que a Terra é um grande ecossistema integrado e limitado de tamanho e de recursos. Baseando o lucro em ocultar os custos ambientais de seus processos e fundamentado na lógica da competição continua. Como piratas. O ecofeminismo propõe a colaboração e a empatia também com o ambiente. As redes tróficas que governam a vida são complexas, imensas e inesperadas, estabelecidas desde mais de 4.500 milhões de anos da aparição da vida sobre a Terra. Nestas redes a simbiose , colaboração para beneficio mútuo, foi transcendental par a evolução conjunta dos seres vivos e o ambiente, como já enunciara Lynn Margulis. A única possibilidade que temos de sobreviver como espécie é compreende-las e colaborar com elas. Perante o assalto ao Território das Eólicas, e antes da minaria, das barragens, etc, forjou-se na Galiza um movimento de repulsa em que muitas mulheres aparecem liderando a revolta. Quis saber se no seu posicionamento havia um sustento ideológico que transcendesse a simples luta pontual e perguntei a algumas delas. Em geral colocam o problema no sistema capitalista sustentado no patriarcado como eixo fulcral que desencadeia a destruição ambiental junto com as desigualdades sociais e de género. Dora Cabaleiro agricultora em Negueira de Munhiz, Jessica Rei defensora da comarca de Ordens, Belem Rodriguez, coordenadora de Adega, Margarida Senra do Berço etc, concordam em rejeitar o sistema colonial e predador sabendo perfeitamente qual é sua luta e porque. No mundo o movimento indigenista merece toda a nossa atenção porque defendem o lar comum. Com martires como Berta Cáceres, lideres como Sonia Guajajara: “Vocês defendem o lucro, nós defendemos a vida”. Sejamos indígenas numa simbiose com a natureza e partilhando com Wangari Mathai a filosofia do beijaflor: Eu faço o que podo por pouco que seja.

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