Opinión

Damocles e a farsa ambiental de Alcoa

Segundo Ciceron, Damocles era um homem muito avarento que adulava seu rei por ser tão rico e poderoso. Um dia o Rei propus-lhe trocar-se por ele cedendo-lhe seu trono. Damocles aceitou feliz o trono do Rei. Mas olhou para cima e viu que sobre a sua cabeça pendurava uma espada de gume afiado sustida apenas por uma crina de cavalo. Aí Damocles percebeu os perigos da avareza. A fábrica de Alcoa reclama o estatuto de electrointensivas, quer dizer, devolução do que pagam para fomento das renováveis e os custos por produção de CO2. Ou seja, serem um dos causantes do câmbio climático. Também que a avaliação ambiental integrada lhe seja dada por boa. E o governo de Nunhez assim fez sendo cúmplice do dano ambiental: Alcoa tem uma balsa de 80 metros de fundo e 1 Km de largura em que bota todos seus dejetos que se encontra a 400 metros do mar Cantábrico e que só tem capacidade para três anos mais. Agora vêm-se os jorros que escoam polos caminhos do contorno, como acontece na parroquia de Lago. Já têm rompido outras balsas com produtos contaminantes de barros vermelhos como foi a de Boliden que colapsou em Alnazcollar em 1998. Em 13 de janeiro 2013 Comando actualidad de TVE fazia uma reportagem demolidora acerca da poluição que a fábrica provoca no contorno. O gado e a terra estão fortemente poluídos por Fluor, pó de alumina e jorro que escoa da balsa.

Adega denunciou em varias ocasiões e publicou vários documentos acerca da perigosidade ambiental desta fábrica. A fabricação de Aluminio a partir da Bauxita implica a utilização de sosa caustica e os rejeitos têm pH superior a 12 que é o da lixivia. A vida estabelece-se num pH de 7. Nada vivo poderia superar o contacto com os lameiros vermelhos da balsa. Se houver uma rutura o problema seria parecido ao de Kolontar em Hungria. Ainda que o caso de São Cibrão é pior porque a sua capacidade de armazém é 42 vezes a de aquela. Cada dia vertem-se nessa balsa 3.000 toneladas de refugalhos insolúveis. Se a balsa rompesse o povo ficaria alagado numa mistura de lamas vermelhas incompatíveis com a vida. E o mar ficaria grandemente afetado.

Tudo indica que este género de produção semelha mais uma licença para matar do que uma produção de riqueza permanente. A permanência bem se vê: apenas 35 anos. A fábrica arrasa com tudo o que lhe deixam as autoridades cúmplices, até que os balances da multinacional, feitos algures longe da Galiza indicam o feche. Nesse momento vão-se. Sem mais, de rosinhas, depois de destruir o ambiente, esbanjada toda possibilidade de riqueza e trabalho alternativo e deixando sua espada de Damocles pendente dum fio menor do que uma crina de cavalo. A insolência da fábrica resulta intolerável: Demanda que as leis nom se lhe apliquem!, sem qualquer cuidado para o ambiente e a saúde das pessoas e outros seres vivos. Que vergonha!!

Quanto mais sei dessa fábrica mais me indigno! O impacto ambiental deste processo fabril é igual ao do conjunto do aço, papel e plástico. Quando se ia estabelecer a fábrica houve fortes protestos da vizinhança reclamando pola contaminação e pola expropriação dos terrenos. Inclusivamente com ameaças pessoais, embora os terrenos e a cabana animal parece que foram bem pagos segundo me conta o responsável destas negociações. A fábrica estava projetada para Vilagarcia, mas os protestos populares conseguiram evita-la porque não se quis por em risco a riqueza desta ria (a maior fixação de carbono do Atlântico Norte por m3). Cabe perguntar-nos: É esse o modelo de desenvolvimento que desejamos? Será que na Galiza não temos outra maneira de viver que fazê-lo baixo duma espada de afiado gume? Perdidos os nossos montes sob os eucaliptos, parques eólicos e minaria, os nossos rios afogados por barragens, as nossas rias ocupadas por celulosas e aganadas por urbanismo descontrolado. Será que perdemos a nossa capacidade de inventiva, de imaginar mundos em que gerar riqueza não tenha que passar por destruir a nossa casa para que detrás de nós nada fique?

Eu não acredito nisso. Lutaremos por um desenvolvimento endógeno e não destrutor que proteja as pessoas e o ambiente para nossos descendentes. Por um trabalho digno na nossa Terra.

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