Opinión

Cincuenta anos depois

Andar a procura de papeis perdidos pelas gavetas traz-nos algumas surpresas. Há dous achádegos que tive a sorte de topar: um feixe de poesias inéditas de Ánxel Fole nuns papeis velhos, creio que dalgum livro de contas,  e um “boletin” dos estudantes da Universidade Galega datado em Galicia, 8 de abril de 1968.

Um mês antes do maio francês já Santiago fervia em protestas e revoltas.


Se bem as poesias de Ánxel são bem valiosas para mim, e suponho que para toda a gente de Galiza e de Lugo, em particular, vou comentar hoje o “Boletin Informativo” que tem data de hai 50 anos. Casualmente neste papelinho, escrito a máquina por algum voluntario/a, referem-se os feitos acontecidos durante a assembleia de Medicina em que os grises entraram a saco e bateram sem piedade no ingénuo estudantado que lá estava concentrado. Como consequência desta ação, para alem de golpear na juventude levaram para o cárcere a vários/as estudantes. A Assembleia realizava-se como protesta a anteriores detenções de oito “ companheiros” ocorridas entre os dias 23 e 31 de março, e pola presença em Santiago do Director Geral. Fora convocada uma concentração na Estação do trem  e lá também batera a policia contra o estudantado. “La indignación de nuestros compañeros produjo una concentración en la Estación para despedir al Director General”. Na folha de papel faz-se referencia a “los graves hechos acaecidos el dia 28 que  consternó a toda la ciudad”. 


Pessoalmente tenho lembranças algo confusas daqueles dias. Lembro o peche em Medicina e a posterior paliza dos grises mentres íamos saindo golpeadas por eles. Lembro a um meu amigo que me salvou com sua mão dum certeiro golpe na minha cabeça. A ele reventou-lhe uma veia da mão e levaram-o para a cadeia. Sempre mantenho a minha gratidão por ele. Obrigada Enrique por me acompanhar e por me ajudar.  Outro amigo agarrou-me  e puxou por mim fora daquele barulho porque eu berrava contra aqueles energúmenos que se estavam “animando” mais e mais mentres batiam contra nós. Desde aqui, também, obrigada Luís que puxaste por mim sacando-me daquela “maia” porque eu não dava andado. Lembro as caras dos polícias sorridentes e divertidas descarregando as “porras” contra a juventude. Como iam se “embebedando” com os golpes. E lembro também as sensações posteriores.

Um mês antes do maio francês já Santiago fervia em protestas e revoltas


Fiquei sozinha polas ruas do Preguntoiro vagando cara a não sei onde. Pensei em entrar na casa de Ramom Pinheiro e não me atrevi. Julguei que eu iria comprometer a aqueles amigos da minha família onde eu costumava jantar uma vez por semana. Também não fui onde a minha tia pola mesma razão. Sentia que estava “ marcada” e que podia “lixar” a toda a gente que se tratasse comigo. Acabei no apartamento que partilhava com as minhas melhores amigas. Depois alguém levou-me ao médico por desgarro na perna e contusões em diferentes partes do corpo. Conto isto porque imagino que será parecido ao que sentiram os meus colegas. Pior eram os que estavam na cadeia. 

Pensei em entrar na casa de Ramom Pinheiro e não me atrevi. Julguei que eu iria comprometer a aqueles amigos da minha família onde eu costumava jantar uma vez por semana

 

Hoje 50 anos depois destes feitos venho de assinar contra da Lei Mordaça Municipal que se pretende implementar em Lugo. Já hai algum tempo assinei contra da Lei Mordaça Estatal que tenta restringir as liberdades e a segurança civil. 


Estejam alertas, digo a toda a cidadania. Nada há seguro e menos ainda as liberdades e os direitos civis. O PODER vai aproveitar qualquer oportunidade para afortalar-se como já fizera Hitler ou Mussoline. Estes indivíduos chegaram á presidência de seus respetivos países sem dar um tiro (deram-o depois e com graves consequências). Porque a lei eleitoral favorecia ao partido mais votado. Em Itália nunca permitem isso para evitar um novo Mussolini. Cuidado com essas demagogias como a do Partido Ciudadanos ou do PP que apoiam o governo das listas mais votadas. 

Não se venham lamentar depois.


Franco teve que fazer uma guerra cruel para impor seu regime autoritário que dura ainda com dissimulo mal logrado (presos políticos catalães e de outras partes do Estado são tidos em prisão por tempos indefinidos sem terem julgamento, por exemplo).


Hoje 50 anos depois de termos corrido diante da policia, de termos que fugir do país para evitar ser detidas/os parece que nos topamos numa situação de perigo. Não vou dizer que seja a mesma. Mas parece-se-lhe. Ainda assim, confesso que nos anos da minha juventude tinha um medo que agora não sinto. De falar , de manifestar as minhas opiniões, de que me colhesse a polícia, de passar a fronteira.  O que vejo hoje é que as nossas liberdades estão sendo agredidas e que a situação social e de segurança jurídica está deteriorando-se.


Espero que seja passageiro e que possamos viver em liberdade e em paz. Faço votos por que assim seja. Mas isso não basta.


Agir é preciso.

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