Opinión

Urbanismo, aldeia e coronavirus

O Decameron é um livro escrito por Boccacio, que recolhe as narrações dum grupo de jovens refugiados fora da cidade para fugirem da peste negra do 1348. Por passar o tempo contam uma serie de contos com talante humorístico e cheios do erotismo bucólico. Nestes tempos atuais é tudo um símbolo. A volta a aldeia como refúgio, como lugar seguro onde não vão faltar alimentos e o ritmo da vida é mais condizente com a natureza parece ser uma das recomendações da saúde. Defrontadas como estamos com uma crise global, um dos conselhos que se escutam é baixar o ritmo, desacelerar: devagarinho se vai certinho. A teoria do decrescimento como alternativa a emergência ambiental parece implícita. Antes da contingência do COVID-19 já se levantaram muitas vozes reclamando parar o crescimento permanente por impossibilidade física (de espaço e de recursos -a Terra é finita e seus recursos são limitados-). Se calhar, a pandemia do Coronavírus represente uma oportunidade. Porque estamos testando a nossa capacidade de reduzir o consumo e de emitir poluentes. Nos modelos da ESSA monstra-se como gazes tais como o NO2 desceram um 300 a 100ppm em apenas um mês, sobre Europa, e a Nasa mostra como a atmosfera sobre a província de Hubei, desde onde irradiou a pandemia, reduziu em 15 dias suas emissões em 20% desde a declaração de Emergência sanitária. O urbanismo é um fator trave no desequilíbrio ecológico. Com o seu modelo de consumo desequilibrado. Concentrando as populações em núcleos esbanjadores de energia e recursos, longe da economia circular que é própria da aldeia onde produção e consumo estão perto e os resíduos são quase totalmente reciclados. Necessita do transporte das mercadorias que incrementa a pegada de carbono de produtos e habitantes. Madrid pode ser um exemplo como cidade engolidora de energia e recursos modelo “donut”. As cidades são as responsáveis pelo 18% das emissões totais de gazes de efeito estufa e produzem grandes quantidades de resíduos de difícil assimilação polo ambiente. Estes geram um grave problema económico e ambiental ainda sem solucionar. Segundo o plano Urban da EU na atualidade vivem em cidades o 70% da população e espera-se que para o 2050 esta percentagem chegue até o 80% A substituição do verde polo cimento, o modelo de consumo fazem que os intercâmbios gasosos entre a atmosfera e a litosfera cursem com vantagens para o incremento do CO2 no ar. O exemplo de Ourense de um território vazio a expensas do crescimento da capital, que hoje se espalha por Galiza inteira, lembra o modelo do terceiro mundo de urbes enormes ocupadas em sua maioria por população desarraigada ignorante das origens de seus problemas com alto grau de insolidariedade e tecido social debilitado. As esplanadas de betão ou pedra, hoje na moda, como a Praça de Maria Pita na Corunha, a da Horta do Seminário em Lugo, colaboram para o desequilíbrio térmico, destemperando o ambiente. As cidades acabam por serem “Ilhas de calor”, em que as correntes de ar diminuem aumentando o efeito poluente da atmosfera que flutua sobre elas. Um dos elementos mais nocivos é o uso do ar condicionado, que elimina a calor do interior dos prédios para o deitar nas ruas aumentando a temperatura urbana e a acumulação substancias tóxicas nas ruas como micro partículas responsáveis de doenças respiratórias. Chegamos a odiar as árvores como se odiássemos a Galiza inteira. Segundo a estratégia europeia para a transição energética, o Green Deal, a construção é o fator de maior influência no aquecimento global, por cima de pequenas industrias, transportes e resíduos. Na Galiza não deveríamos ir para este modelo de grandes urbes e espaços rurais valeiros. Nossa tradição mais próxima era o mais oposto a este. A nossa peculiar maneira de nos espalharmos polo território gerou uma cultura rica, eficiente e circular. Nós já tínhamos alcançado o Green Deal antes que estivesse de moda. Para resolver o conflito ecológico e de saúde em que estamos temos que voltar ao rural. Como os conta-contos do Decamerom. Não é fácil inverter a tendência demográfica. Pode parecer utópico, mas, que é a ecologia senão uma marcha incessante cara a utopia do equilíbrio entre Biosfera, Litosfera, Atmosfera e Hidrosfera?

 

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