No universário de Fernando Pessoa

O 13 de junho cumpriram-se 131 anos do nascimento do genial Fernando Pessoa, quem, segundo o crítico literário Harold Bloom –na sua bíblia O cânone ocidental– foi, com Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Neste artigo, o professor Carlos Quiroga aborda as fortísimas conexões do escritor com a Galiza, apesar de Galiza, quando menos a institucional, não parece excessivamente interessada no seu reconhecimento. Eis un extracto do texto publicado no número 350 do semanario en papel Sermos Galiza.

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FS_2_3_Pessoa“No tempo em que festejavam o dia dos meus anos/ Eu era feliz e ninguém estava morto…”, escrevia Álvaro de Campos. Um poema com voz desgarrada pela saudade de antigas celebrações que só parecem grandes na infância. Uma voz já resignada a sobreviver como um fósforo frio, juntando alentos derradeiros antes de apagar-se. Mas, ao contrário do apagamento, como aquelas velas que assopradas mais se incendeiam, somamos 131 anos da data a festejar e ninguém está morto, antes todos mais ruidosamente aí, o pai de Campos e o resto, por ele todos redivivos. O natalício celebra-se com força crescente à medida que a idade do homenageado avança.

Com tal pretexto virado universário, em que legião se quer juntar à lenda, temos da Galiza especiais motivos para exigir convite, mesmo espaço pertinho da criatura na foto com bolo. Se a Literatura anda turistificada tampouco adianta esconder-nos pudorosos por trás dos guiris, disso já se ocupam os tugas. Em 2011 a Cidade da Cultura dedicou-lhe um dos sábados de autor no seu Céu das Letras e chamou-lhe “da nossa vizinhança”. Era para tanto e mais. Porque este escritor, hoje em todos os céus laicos das letras do globo de forma persistente, tem tanto de nós que as reverências de vizinhança não serão de país mas até bairristas no sentido literal, como vamos sumariamente mostrar a partir do pretexto astral.

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu num 13 de junho e recebeu o nome do santo neste dia comemorado (Fernando de Bulhões se tinha chamado o depois Sto. António de Lisboa, morto perto de Pádua). Talvez recebesse também o dom mágico da visão à distância –estando na Itália, o outro via o que acontecia em Lisboa e era capaz de projetar o corpo astral muito longe, segundo parece e pouca gente sabe–, porque algo disso dirá Pessoa de si, e da comunicação mental com Sá-Carneiro em Paris. Não será improcedente o comentário, dada a importância que o poeta concedeu às ciências ocultas e em particular à numerologia. Por isso estaria encantado de saber que o aniversário do seu último antepassado galego, Caetano, acaba de duplicar os mesmos anos do seu, e vai atingir em setembro o bicentenário exato da morte. Certeza que chamava para o retrato de universário este nosso chegado, que agora apresento.

Advirta-se antes que o poeta sabia da sua origem galega, pois menciona a Côrtes‑Rodrigues (1914). Mas ignorava a peripécia de Caetano, o antepassado galego pobre que iniciou carreira militar no corpo de Artilharia em Portugal. No tempo de serviço na Príncipe Real até teria cruzado o Atlântico e estado na Bahia. Seria a bordo deste superbarco onde também ascendeu de 2º tenente a capitão, acabando nos Açores, onde chegou a reger várias disciplinas na Academia Militar da Ilha Terceira. Foi enterrado no templo mor da diocese de Angra do Heroísmo, fará em breve 200 anos.

[Podes ler a información íntegra no número 350 do semanario en papel Sermos Galiza, á venda na loxa e nos quiosques]

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