Opinión

O “unitarismo”, adulteraçom senil do movimento operário e popular

Após a comemoraçom de duas efemérides importantes no calendário reivindicativo do movimento operário, 8 e 10 de março, Dia da mulher trabalhadora e da classe obreira galega, e perante as tendências hegemónicas que mantenhem atrapada na desmobilizaçom e no ilusionismo eleitoral a luita das trabalhadoras e dos trabalhadores, considero imprescindível situar o objetivo estratégico da luita de classes na agenda política das organizaçons que se definem de esquerda transformadora e revolucionária.

Semelha absurdo refletir sobre esta questom, quando deveria ser um princípio definitório,e portanto inquestionável. Mas este debate acompanha a trajetória do movimento operário desde praticamente a sua génesse e tem provocado permanentes turbulências no seu seio.

Nom é um debate teórico alheio à realidade. Tampouco umha reflexom historiográfica. Aqui radica o cerne da derrota na que leva instalado o movimento operário desde há décadas, após a vitória da Revoluçom bolchevique e os posteriores processos revolucionários chinês, cubano, vietnamita e outras luitas anti-imperialistas inspiradas na experiência de 1917.

Na etapa de luitas populares de início deste milénio, prévia ao primeiro governo Zapatero e no equador do segundo governo Rajói, e na fase crepuscular do fraguismo, a hegemonia reformista no movimento de massas galego popularizou com grande sucesso duas palavras de ordem. “A culpa de quem é: do governo do PP” e “Há que ir morrendo Manolo, há que ir morrendo”; sintetizam o erro teórico que provoca o atual descalabro da esquerda revolucionária e a carência de perspetivas de reativar a curto e meio prazo o movimento operário à margem da agenda do fetichismo das urnas.

Considero imprescindível situar o objetivo estratégico da luita de classes na agenda política das organizaçons que se definem de esquerda transformadora e revolucionária

Estes dous eslogans reforçam a lógica do turnismo eleitoral sobre o que se ergue a ditadura da democracia representativa burguesa que permite o funcionamento do capitalismo sem grandes convulsons. Desvia o movimento popular das suas tarefas: intervir na política como classe para si, com programa próprio, resistir e frear as agressons, imbricada numha estratégia de acumulaçom de forças visadas na toma do poder, combatendo o ilusionismo eleitoral e esse artificial eixo esquerda/direita que maquilha e oculta as coincidências entre partidos que respondem a idênticas lógicas. Pois PSOE-PP, embora a sua base de apoio em termos de classes nom é a mesma -por simplificar, -mas também poderiamos incorporar mais siglas -, a mesma merda é!

Com o intuito de resituar-se para evitar perder espaço eleitoral nesta profunda crise estrutural do capitalismo, muitas das organizaçons e partidos que tentam recuperar do faiado aquele marxismo epidérmico que vernizava a sua prática de colaboraçom de classes, resgatárom fraudulentamente a tese leninista de que “sem teoria revolucionária nom há movimento revolucionário”. Mas obviamente esta viragem discursiva nom passa de umha oportunista operaçom que procura aproveitar a crise de representaçom dos partidos burgueses tradicionais, tentando ocupar umha parte do seu espaço com um “novo discurso” e atrativas roupagens, em base a simples promessas e declaraçons de intençons, que coincidem em ocultar a mais mínima vontade de questionar o modo de produçom capitalista e portanto a sua superaçom. Transitoriamente a operaçom tem servido para impulsionar a esquerda eleitoral permitindo abandonar as margens que ocupava. Reforçando assim a estabilizaçom sistémica que a burguesia necessita para disciplinar a classe operária imprescindível para manter a sua taxa de ganho. Para isso oferecem-se como forças auxiliares da burguesia capazes de “domesticar” as pretensons das classes mais exploradas.

Todos contra o PP

A defesa da unidade da esquerda como mecanismo para atingir imediatos êxitos eleitorais visados para deslocar o PP dos governos de Sam Caetano e de Madrid é o objetivo que sostem umha linha discursiva que aparentemente ninguém questiona.

A fórmula nem é nova, nem original. Foi formulada em 1935 por Dimitrov e transformada em lei inquestionável no movimento operário desde que se converteu em dogma no 7º e derradeiro Congresso da Internacional Comunista.

A unidade das forças operárias, populares e patrióticas em base a um comum denominador seria essencial para atingir vitórias e derrotar a direita. Mas esta atrativa tese que converte a unidade num fetiche nom só é umha armadilha que desvia o conjunto da classe operária dos seus objetivos estratégicos, favorecendo exclusivamente os interesses das camadas intermédias, está na origem das derrotas e/ou degeneraçom de todas as revoluçons do século XX e das tentativas revolucionárias do século XXI.

Francisco Martins Rodrigues, um dos mais brilhantes teóricos marxistas da segunda métade do século XX, tem estudado a fundo esta adulteraçom centrista que como umha metástase corrói a contradiçom antagónica entre proletariado e burguesia, incorporando umha linha conciliadora, introduzindo a capitulaçom oculta tras os apelos à unidade, nos partidos comunistas e organizaçons que se autodefinem como de “esquerda revolucionária”.

Se nas década dos anos 30 do passado século a luita contra o fascismo desarmou a classe operária sob as fracassadas fórmulas de Frentes Populares, nas duas últimas décadas a necessidade de deslocar o PP dos governos pressiona as forças revolucionárias a participar em deslavados espaços de ampla unidade que alinham o povo sempre polo nível mais baixo, renunciando aos objetivos revolucionários da classe operária pois é a maneira que facilita e permite a hegemonia incontestável dos partidos progressistas pequeno-burgueses, do reformismo sobre a classe operária.

Tal como manifesta o brilhante revolucionário comunista português, este unitarismo democrático bloqueia a revoluçom proletária porque sacrifica as reivindicaçons operárias em programas unitaristas que só procuram no melhor dos casos remendos à lógica da exploraçom de classe, e no caso concreto da Galiza a opressom nacional.

Sem desprender-nos do dimitrovismo, que consciente ou insconscientemente empapa o conjunto do acionar da esquerda patriótica e da esquerda espanhola atuante na Galiza, nom é viável vertebrar umha alternativa revolucionária

O temor ao isolamento político pressiona a “passar polo aro” e mesmo força a renuncias conscientes no campo sociopolítico que perserverantemente seguimos tentando articular desde 1996.

Sem desprender-nos do dimitrovismo, que consciente ou insconscientemente empapa o conjunto do acionar da esquerda patriótica e da esquerda espanhola atuante na Galiza, nom é viável vertebrar umha alternativa revolucionária socialista/comunista e independentista, nem criar as condiçons subjetivas para superarmos a resignaçom e carência de perspetivas reais de possibilidades de mudar o presente para conquistarmos o futuro.

A inicial doutrina interclassista da “revoluçom nacional-popular” da UPG reformulada no frentismo nacionalista do atual BNG, a “Posiçom Luís Soto” de Ferrín, as confluências cidadanistas das Mareas, a “unidade da gente do comum” que promove o populismo de Podemos, como alguns dos exemplos mais destacados do nosso presente, possui idêntico comum denominador: projetos definidos polo taticismo eleitoralista que nom questionam a lógica da dominaçom do Capital e que portanto -à margem do seu relato aparentemente mais ou menos radical-, renunciam aos objetivos da toma do poder, alimentando a ilusom de que é possível construir umha sociedade mais justa e livre sem desmontar o Estado burguês, sem a confrontaçom de classes, sem a complementaçom de todos os métodos de luita. A comum estratégia que todos compartilham, plasmada na introduçom de um boletim numha urna, tam só reforça o estado de domesticaçom, ingenuidade e desmobilizaçom na que se acha a classe trabalhadora, bloqueando a Revoluçom galega.

A prática totalidade das forças políticas e sociais desse magmático universo que na Galiza podemos denominar “esquerda” segue enlamado nas possibilidades de um governo de coaligaçom que substitua o do PP de Rajói, e as de deslocar Feijó da Junta da Galiza.

Nom nos deixámos enredar no debate dimitroviano que confrontou o BNG e aliados com Anova e os seus espaços de confluência na conformaçom de umha candidatura galega no passado verao

A pressom que este unitarismo exerce é tam grande que mesmo incide na coesom interna da totalidade do reformismo. Mas as suas nefastas consequências vam muito mais alá, pois lava a cara e branqueia umha força tam reacionária como o PSOE, e alimenta ilusons de que as cousas vam mudar entre a nova geraçom de jovens galeg@s que se incorporam à luita social e política sob esta cultura de acreditar em novas caras, sorrisos e gestos televisivos, carentes de um programa de rutura com a lógica do postfraquismo, a ditadura do Ibex 35 e da troika.

Segue plenamente vigente a acertada formulaçom do 5º Congresso de Primeira Linha [2010], embora necessitasse aperfeiçoar-se na prática, que a estratégia de alianças na Galiza se deve articular em base à defesa de umha ampla aliança em base a programa avançado, descartando pois unidades estreitas com projetos de mínimos.

Eis polo que nom nos deixámos enredar no debate dimitroviano que confrontou o BNG e aliados com Anova e os seus espaços de confluência na conformaçom de umha candidatura galega no passado verao, eis polo que nom podemos intervir com comodidade em plataformas “unitárias” como a da defesa do setor pesqueiro que aglutina armadores e marinheiros, porque ambos exemplos concretos estám castrados por tabelas reivindicativas de falsos remendos que tam só aliviam e atrasam as agressons do imperialismo contra a classe trabalhadora e a Galiza.

Somos, como sempre fomos, pola unidade da classe obreira, das camadas populares, do povo empobrecido da Galiza, por umha unidade forjada na luita nos centros de trabalho e ensino, com a luita anticapitalista nas empresas e a rua como centros de gravidade, pola unidade dotada de um programa ruturista com o capitalismo e a opressom nacional que padecemos por Espanha e a UE.

Galiza, 7 de março de 2016

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