Susana Sánchez Arins, escritora

“Som ciente do lugar que ocupo e sei que não sou mainstream”

Susana Sánchez Arins (Vila Garcia de Arouça, 1974) cumpre neste 2019 uma década da publicação de [de]construçom (Espiral Maior), que vem sendo também o décimo aniversário do seu debute na escrita pública. Sánchez Arins está a celebrar o acontecimento numa situação invejável para qualquer autora: com dois livros na rua de distinto género e distintas editoras e imersa no seu ciclo de apresentações e difusão. Trás o sucesso de Seique (Através Editora, 2015), a sua obra converteu-se também numa referência imprescindível no referente à gestão da memória histórica, além de acompanhar e co-protagonizar um novo momento na sempre complexa relação da literatura galega com as suas formas de escrita mais dissidentes. Falamos com ela numa Compostela invernal sobre as formas do passado e os desejos para o futuro. Eis un extracto da conversa, publicada no número 330 de Sermos Galiza.

[Imaxe: Cedida] Susana S. Arins
photo_camera [Imaxe: Cedida] Susana S. Arins

6Publicas [de]construçom no 2009 depois de ganhar com ele o Premio Nacional de Poesía Xosemaría Pérez Parallé. Como lembras aquele momento com a perspetiva duma década?

O Pérez Parallé para mim supôs poder publicar, eu que era inédita em todos os sentidos e nem sequer publicara em revistas. E foi muito importante poder começar assim, com um prémio prestigioso e numa editora da relevância de Espiral Maior. E é curioso porque desde aquela nunca mais precisei de recorrer a certames para poder publicar os meus livros, algo que para mim diz muito do próprio prémio e também do carinho que lhe tenho.

O facto de não publicares antes tem algo a ver com a norma ortográfica que escolheste para escrever?

Está relacionado, mas no meu caso também funcionou muito a auto-censura: “Não vou enviar nada porque da forma na que escrevo não o vão querer”. Também chegara a apresentar-me a outro certame antes com um outro livro transliterando o texto, mudando nh por ñ e assim. Não ganhei e fiquei tranquila por poder dizer: “Não é a norma, é que falta trabalhar os poemários, dar-lhes madurez”. O seguinte foi o livro com o que ganhei o Parallé e já o enviei com a atitude vital que mantenho hoje: “Vai na minha norma e se me querem que me queiram, e se não, eles o perdem”. Nesse sentido o Parallé quitou-me o medo, serviu-me para ver que se podia publicar, ainda que haja portas nas que nunca petei e sei que seguramente não se me abririam.

Como valoras a dia de hoje o estado da questão normativa do galego?

Penso que vamos polo bom caminho. Formo parte da AGAL, que agora aposta polo bi-normativismo, e ponho muitas vezes de exemplo a minha plaquette Carne da minha carne publicada há uns meses por Apiario. Tenho que dizer que com Apiario o tema da norma nem sequera veio à conversa, eu enviei assim e assim o publicaram. Outras editoras como Chan da Pólvora ou Laiovento também acolhem propostas assim e penso que só faltam as grandes casas editoriais galegas. E mesmo nestas há atitudes que mudaram nos últimos anos: como a parceria de Xerais com Através nos volumes Bolcheviques/Bolxeviques. Penso que esse é o caminho, pouco a pouco iram caindo os preconceitos, o panorama ira-se abrindo e também acabará por eliminar-se a regra da maior parte dos prémios literários que exige apresentar as obras em norma ILGA-RAG. Bem podia ir mais rápido, mas acho que estamos nesse processo. E é certo que nos últimos dez anos avançamos muito. No 2009 foi notícia que [de]construçom estivesse em reintegrado, acho que era o primeiro livro do Pérez Parallé com o que acontecia e perguntavam por isso em todas as entrevistas. Porém, hoje já não é notícia que Carne da minha carne seja o primeiro livro que Apiario saca noutra norma, e isso é algo que me alegra. O caminho é que haja liberdade de escolha.

Nesse sentido, penso que tiveste uma experiência particular com o teu livro Seique.

Sim, é um livro que ultrapassou muito o âmbito do reintegracionismo e chegou a muitas pessoas, rompendo essa barreira do público restrito e militante. Fui com ele a clubes de leitura de adultos, de adolescentes, entrou em centros como leitura do alunado… tive muitos encontros sobre o livro. E o último que te perguntam as pessoas leitoras é por que há um lh no canto dum ll. De facto, houve quem me disse que, à hora de ler, tinha mais problemas com a escrita sem maiúsculas que com a norma ortográfica. Experiências que te fazem pensar na verdadeira dimensão da questão normativa.

[Podes ler a entrevista íntegra no número 330 de Sermos Galiza, á venda na loxa e nos quiosques]

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