Opinión

Solidariedade desde 1998

Saúde, companheiros e companheiras da Insumisa. Permitide que tenha o atrevimento de chamar-vos assim, apesar das distâncias sobre tudo geracionais. Saudo-vos desde 1998, estamos em Primavera e acabamos de saber que o governo municipal de Oleiros pretende despejar a Ocupa da Ria. Este centro social ocupado e autogestionado está sediado num antigo paço... tem uma finca muito ampla e num recuncho da mesma inclusso puidemos constroir uma ampla zona para concertos. Muitas bandas de punk, hardcore, metal, ska passaram pelo cenário desse espaço cuberto, e se somamos à inquantificável legião de bandas que atuaram nesse espaço as que previamente o fizeram na sala contigua ao antigo bar, onde depois se instalara a confraria de mariscadores é impressionante o histórico de concertos acumulado pela Ocupa da Ria... nada que invejar a nenhuma sala de concertos comercial. Ponho-me a enumerar, e penso em MOL, Meninh@s da Rua, À Deriva, Fame Neghra, Zënzar, Use of Abuse, Fucking Family, Zombie Riot, Trauma, Muertos de Cristo, Nen@s da Revolta, Frustradicción, Puagh!, Skornabois, Lágrimas y Rabia, Ghamberros...e muitos mais que omito por sintetizar, ainda que por muitos que cite sempre serão mais os que esqueça. Têm-se feito também conta-contos, teatro, recitais de poesia, palestras de todo tipo, obradoiros...e mil coisas que dificilmente teriam cabimento nos espaços que põe a disposição (teoricamente de todo o mundo) a Câmara Municipal.

Mas seique saiu ontem pela radio municipal o Presidente da Câmara, um tipo que seique é referente para a esquerda galega e espanhola, a dizer que “os ocupas são adolescentes rebeldes que se querem rebelar à autoridade paterna” e que “o que necessitam é disciplina”; que a Ocupa da Ria “é desnecessária” porque “a Câmara Municipal já oferece múltiplas atividades aos jovens”. Seria falso afirmar que por aquí apenas se achega gente jovem, ainda que seja certo que o pessoal que tira disto não costuma ultrapassar os trinta anos de idade, mas vir vem gente de idades diversas. O que não parece querer entender o nosso “Amado Líder” municipal, é que a gente que se junta aquí não está interessada em atividades tuteladas e dirigidas, e concretamente a gente jovem que se dá cita aquí não se sente atraida cara esse role passivo que este iluminado da revolução localista de cartão-pedra lhes quer assignar.

Saudo-vos desde 1998, estamos em Primavera e acabamos de saber que o governo municipal de Oleiros pretende despejar a Ocupa da Ria

 

Tenho vinte e cinco anos, sou vizinho de Oleiros e estou anojado do tratamento que se lhe dá à gente jovem neste concelho... parece que apenas podemos sair de excursão pelo monte, ir de visitas culturais por Europa, praticar desporto, e tudo sob a olhada atenta de monitores perfeitamente ideologizados no “vidasanismo”, esse limbo puritano que pretende salvaguardar a juventude oleiresa de hábitos de vida e influências culturais erradas. Podedes procurar analogias em certos regimes políticos e provabelmente teredes razão.

Que em Oleiros se tenha ocupado um prédio é um exercício de auto-organização juvenil e popular sem precedentes em muitos anos nesta localidade onde quase não há, paradoxalmente, corpo associativo salvo agrupações folclóricas, clubes de futebol e associações de vizinhos... curiosamente todas as freguesias, da mais grande à mais pequena têm as três coisas... e não há absolutamente nada mais. Ainda assim, este não é o primeiro despejo que se produz em Oleiros, antes já despejaram ao Colectivo Ecoloxista e Naturalista Biotopo da Casa da Xuventude, mas alguns incautos não quiseram ver a relação entre um e outro facto. Ao governo municipal resultou-lhe útil a presença dos ocupas, precisamente para neutralizar as vozes críticas com algumas formas de fazer política do projeto que atualmente governa este concelho, Alternativa dos Veciños, que mais poderiamos associar a estados totalitários do que a instrumentos políticos realmente populares e democráticos. Agora, os ocupas estorvam porque seique em escritórios onde se tomam certas decisões que jamais se consultam com o povo, acordaram que o traçado do passeio marítimo que arrodeará a Ria do Burgo passará justo por aquí. Naturalmente, nem sequer se nos dá alternativa. Já não nos necessitam.

Dentro de uns minutos assistirei a uma assembleia onde estaremos membros de assembleias de diferentes etapas da Ocupa da Ria. Será para dessenhar umas jornadas de resistência onde haverá debate, haverá reflexão, haverá reivindicação e naturalmente festa, porque o facto de manifestar-nos vivos e dispostos a lutar também merece celebração. Mas antes escrevo-vos estas linhas desde outro tempo para lançar-vos ânimo, já que me chegam notícias do futuro. Notícias esperançadoras no sentido de que dentro de vinte anos continuará havendo gente disposta a ocupar, mas um bocado desiludintes no sentido de comprovar que a história se repete.

Escrevo-vos estas linhas desde outro tempo para lançar-vos ânimo, já que me chegam notícias do futuro. Notícias esperançadoras no sentido de que dentro de vinte anos continuará havendo gente disposta a ocupar

 

A política institucional de determinado sesgo ideológico segue empenhada em instrumentalizar as lutas populares para a sua propaganda, e o problema já não é tanto essa teima de certos profissionais da política em pensar as coisas só em termos de rendibilidade eleitoral, mas a crueldade com a que punem o nosso atrevimento a negar-nos a entrar no jogo. A minha total solidariedade com as pessoas mancadas pelas forças policiais municipal e estatal na quarta feira 23 de Maio do futuro 2018. Dizer-vos que eu vou estar na manifestação do Sábado seguinte, e desculpade que me permita manifestar certa sensação de déjà-vu... isto sempre dito com absoluto respeito cara a vós que agora estades na vanguarda deste tema (quando eu não) A minha conclussão é que em lutas que se movem no terreno do alegal não cabem pactos com o poder institucional ainda que este tenha carimbo de esquerda.

A boa notícia disto tudo é que a luta continua. O movimento popular segue vivo e a ocupação continua sendo uma forma de lutar que não entende de componendas mesquinhas entre grupos de pressão políticos, empresariais e demais índoles. Os da Marea Atlántica no ano 2018, igual que Alternativa dos Veciños no ano 1998, cada um no seu âmbito, negam-se a entender isso.

Vemo-nos na rua e por suposto DEZ... CEM... MIL CENTROS SOCIAIS!!!

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