Opinión

Queda sistémica: auge dos totalitarismos

"Não existe mentira pior que uma verdade mal-interpretada pelos que a ouvem“ — William James 


Chris Hedges advertia num recente artigo intitulado “A próxima depressão” que “os bancos centrais do mundo inteiro, incluindo o Federal Reserve dos EUA, injetaram milhares de milhões de dólares no sistema financeiro mundial. Este dinheiro falsificado criou uma dívida mundial de 325 mil milhões de dólares, ou seja, mais do triplo do PIB mundial”... O sistema está falido, o grande poder das finanças acode ao poder forte, para controlar as massas trabalhistas descontentes. A terceira via, social-democrata, foi derrubada (em parte por suas próprias falhas, como na Suécia, cuja mala gestão migratória, permitiu a criação de guetos exclusivos, onde a violência, trafico de drogas e marginalização vão em aumento. Da mão muitas vezes da versão islâmica jihadista radical, que contrala esses bairros – que aparentam pequenos estados, fora do controlo estatal). Por toda parte cresce o radicalismo. Mesmo o poder Financeiro Norte-Americano, instala clones de Trump nos poderes periféricos do Império Ocidental e nas áreas próximas que ainda controla.

A decisão da elite é cada vez mais unânime: a margem para governos verdadeiramente democráticos fica reduzida. Ante a ameaça dum confronto global com a aliança Russo-Chinesa, poder também totalitário, Ocidente ruma pela mesma senda. Numa tentativa de contra-restar o poder vertical dos seus concorrentes? A independência dos três poderes: legislativo, executivo e judicial, tem os dias contados. O auge do totalitarismo sempre afoga ou apaga esta relativa autonomia, pois em realidade sempre existe um poder coordenador, por cima destes poderes, que os unifica e guia. Mas o coordenador permite autonomia —absoluta, não.

 
Em esta nova dicotomia, os países do sul, baixo comando Ocidental, têm de entregar todas suas riquezas ao centro imperial: penetração massiva dos agro-negócios, industrias mineiras extrativas, petróleo no subsolo e solo, deverão unir-se à entrega de empresas estatais nos sectores vitais: energético, civil, militar. O Poder Financeiro e Transnacional Ocidental não quer ter oposição ao plano das privatizações. A entrega de todo o tecido produtivo, e a toma dos Bancos Centrais Estatais, que ainda não estão em posse do sector bancário privado, nas regiões baixo seu domínio, é preciso (mas fazer-se-á devagar, para não levantar suspeitas). Por isso assegurar um “poder duro” interior, que impeça a desobediência civil, que possa desmontar o plano, é preciso. 

A decisão da elite é cada vez mais unânime: a margem para governos verdadeiramente democráticos fica reduzida

 

Já não se podem injetar artificialmente mais bilhões de dólares no pulmão do sistema, nem regalar-lhe ao capital mais empréstimos a zero, para viver a conta duma economia baseada nas rendas. Criando gigantes empórios zumbis, que somente podem manter-se em pé, comprando-se a si mesmos seus próprios ativos (a conta de socializar perdas e privatizar ganhos). Este tipo de políticas atingiu seu limite biológico. O engano do atrelo às dívidas ficou clarificado —a sociedade não pode chegar a ver a luz, por trás dos véus enegrecidos: a farsa bancaria dos empréstimos, acima do dinheiro criado do nada, num computador, não pode ser desvelada.  

O império mediático Murdoph aliado a Trump encarregar-se-á de facilitar a transição duma democracia tutelada, pelo capital a uma mínima democracia em favor do capital.  A Mídia global, para hegemonizar o pensamento, tem de criar dentro do imaginário coletivo e individual, a orientação precisa: a palavra de ordem favorável ao Império belicista. 

Com aquele sinal verbal podem voltear as massas em favor dum projeto de controlo total do indivíduo e sociedade; fazendo acreditar ao proletariado ser precisa uma nova ordem nacional baseada na: nação, a família e o credo. Simulando essa ordem (na realidade velha ordem), ser sinónimo de progresso.  

O império mediático Murdoph aliado a Trump encarregar-se-á de facilitar a transição duma democracia tutelada, pelo capital a uma mínima democracia em favor do capital

 

O adormecimento das populações permitirá políticas regressivas no social, no económico, no político e na morte momentânea  duma hipótese de independência viável nas regiões periféricas, nomeadamente ao sul do Equador.  A ameaça Russo-Chinesa permite criar um espelho virado e vicado, onde o totalitarismo campa do Oriente ao Ocidente. 

Manter em pé a velha mentalidade de guerra fria é fabuloso para a implementação deste plano: criando divisão e confronto social, entre dous bandos, em aparência contrários e permitindo, a desunião da cidadania. Desunião precisa para implementação do plano central de controlo dos meios produtivos, de governação, de comunicação e de criação de pensamento. Assim como a fusão dos três antigos poderes, em um poder unificado —vencedor ao serviço dos Senhores das Finanças. Ocidente fica igualado a China, enquanto ao monopólio de decisão e a imposição vertical das normas de convívio e os seus limites.  

Tal como Marx previu a concentração e monopolização do capital chegou a seu máximo, o que facilita a tarefa de homogeneização da sociedade, baixo o engano da volta ao poder nacional —que em realidade é um servo— do poder internacional Imperial Financeiro. 

A globalização deve ser invertida, para impedir China tomar o controlo económico, num mercado aberto. O poder Ocidental não deve perder o comando, em nenhum dos três tabuleiros: militar, económico, social-cultural-cientifico. O Paradigma que rege a sociedade deve ser criado, planificado desde a cima, Trono Ocidental, para depois ser projetado ao mundo. 

Tal como Marx previu a concentração e monopolização do capital chegou a seu máximo, o que facilita a tarefa de homogeneização da sociedade

 

Mas esse plano agora está em risco: as relações de China com África, América Latina e Ásia —suas inversões em infraestruturas, por todo o mundo, tem beneficiado esses países, como nunca antes se tinha visto— num panorama muito atrativo. Tanto que o velho esquema Ocidental de atrelo, das economias periféricas ao FMI, e criação de bolhas e sua implosão, nada mais podem oferecer além de estagnação. Tal como reconhece o mesmo Washington Post. Eis que os investimentos da China tem permitido maior estabilidade, crescimento e emprego melhor remunerado, em todas áreas do globo onde esta colaboração se tem verificado. Esta manobra consolida China como parceiro fundamental, para os países em desenvolvimento. 

Isso tem de ser removido, mesmo pela força, se a chantagem não funcionar.     

Assim que o velho Poder Privado Ocidental em luta com o Poder Imperial Estatal Russo-Chinês, não permite já emitir uma terceira a via, no Sul, que poderia cria uma democracia real. Democracia que partindo da América do Sul, poderia ativar a conexão com o Sul da África e a Índia, unindo o Atlântico Sul, com Oceano Índico. Conexão que poderia bem ressuscitar o antigo Estado Providencia ou do Bem-Estar, (abolido na Europa, uma vez o poder financeiro não o precisar mais, como intermediário entre capital e trabalho, trás o derrubo da União Soviética). Uma nova via democrática ao Sul, com o Brasil comandado com Índia e Sul-África, no ISBA, essa posição —deve também ser evitada. 

Precisamente por isso foram derrubados, com tanta facilidade, regimes progressistas em favor dum desenvolvimento autónomo na América do Sul, sem a supervisão de Washington. 

Agora que a China aperta no 2º tabuleiro, o económico, e Rússia no o 1º, o militar, deixar a América do Sul desenvolver-se no 3º Tabuleiro, o Cientifico-Tecnológico, Social-Cultural…, seria um risco que não poderia assumir o Império Global, em tempos de paz e crescimento, menos ainda em tempos sombrios de quebra sistémica, demolição e guerra económica —política  (militar?), pela hegemonia.  

Os chamados governos progressistas da América do Sul, também demonstraram inocência geopolítica, ao não saber, não poder, ou não concluir uma fórmula de unidade esquerda-centro-direita que permitisse criar um anel de poder Sul-Americano, onde a Independência económica virasse questão de estado. 

Após o colapso soviético, assoma o colapso ocidental. E a guerra pode assomar também, num intuito de não permitir um acomodo viável de demolição sistémica programada (que teria que contar com a China, Rússia e mesmo Índia) com o intuito duma ré-organização e criação dum novo sistema ao nível das Nações Unidas. Novo Paradigma global que permitisse evitar a implosão sistémica, mesmo com a criação duma nova moeda (ou cripto-moeda?) de referência e reserva mundial e uma governação partilhada, entre Ocidente e Emergentes, com agendas concretas limitadas a planos conjuntos de ação. Algo que somente poderia efetuar-se negociando o poder Único Ocidental, nascido do fim da II Guerra Mundial e Aperfeiçoado no fim da Guerra Fria, com os novos poderes Emergentes…

Após o colapso soviético, assoma o colapso ocidental

 

Hoje já ninguém pode negar que, ativadas as duas primeiras fase da guerra, a guerra monetária e a guerra comercial, a militar pode chegar em qualquer momento. No entanto, temos ainda esperança de poder aportar a um geral e global acordo, se houver pressão suficiente em esse sentido. A triste proliferação nuclear poderia servir, em este caso, de amortecedor belicoso, ao verificar a possibilidade de destruição mútua... Aguardemos a esperança dos nobres não se esvaia. Mas a guerra mediática a cada vez está a tornar-se mais virulenta. Os poderes que controlam as diversas Mídias chegaram a um acordo tácito interior, de apagar toda dissidência. 

Emitindo opinião a cada vez mais inverossímil, mas com capacidade de controlo sobre o imaginário coletivo, praticamente sem limite (depois de decénios de televisão lixo), os povos esqueceram aquela bela reflexão de Bertrand Russell, quando afirmava: “O fato de uma opinião ser amplamente compartilhada não é nenhuma evidência de que não seja completamente absurda; de fato, tendo-se em vista a maioria da humanidade, é mais provável que uma opinião difundida seja mais tola do que sensata”. No entanto esses poderes sabem que criando pensamento absurdo, apaga-se também o pensamento crítico. Voltando a adequar-nos na psicologia do combate.


No exterior e no interior, o batalha verbal segue sem cessar, ao estilo daquela luta de contrários que magistralmente enunciou Mircea Eliade: onde o inimigo representa a encarnação das forças escuras do mal, e nós a luz da humanidade. Aquele guião de numa guerra a verdade ser a primeira vítima, se reproduz via “fake news”, a cada instante. Não importando nada a mentira a fabricar, nem sequer é medido o mal instaurado na sociedade (enquanto a incentivar ódio, medo, sede de vingança), sempre que atingir e danar ao inimigo. Uma vez esta semente abrolhar na consciência dos muitos, os partidários da morte, de qualquer tendência crescem —eliminando o caminho do meio, que conduz à evolução, realização e confraternização— e os extremos se alimentam. 

A quebra sistémica conduz a este tipo de reações: os poderes na cima somente se preocupam com manter seu cetro – custar o que custar. Quando a gente acordar, o limite para a reação será já demasiado pequeno.  

Aqueles países e regiões que sonham com a independência devem saber que a independência não se pede, conquista-se. Quanto menor seja a margem para criar um projeto unido de todas as camadas sociais, interesses diversos e espectros culturais, menor a margem para conquistar a liberdade. 

Aqueles países e regiões que sonham com a independência devem saber que a independência não se pede, conquista-se

 

Um terceira via entre a luta pelo hegemónico e a guerra entre os opostos, tinha de ser aberta. Mas com as sociedades entretidas no confronto, entre irmãos e irmãs (visionados como supostos contrários), o movimento pacifista global que poderia parar esta hipotética guerra fica enfraquecido.  

O poder mercantil já esgotou seu tempo, ao igual que no seu dia aconteceu com o poder senhorial ou o sacerdotal. Os cidadãos que serviram a estes três poderes, em diversas fases da historia (durante milenios), deveriam agora tomar o comando. Mas por falta de evolução, instrução e verdadeira formação, não estão prontos para tal façanha.  

Somente resta aos seres mais conscientes do planeta, em todos os campos, fazer frente comum em favor da paz – e pressionar com força para travar a hipótese de guerra.  Na construção do novo mundo todos e todas somos precisos. Como bem dizia o grande pensador galego Castelao: não coloqueis poréns (dúvidas) à obra enquanto não se acabe. Quem pensar que vai mal, que trabalhe nela; há lugar para todos“ E os mais conscientes devem espalhar a voz de que essa Obra do Amor, a Paz e Confraternização, sempre é possível. Com vontade, perseverança e confiança no nosso poder interno o possível sempre será realizável. Todos e todas somos um mesmo povo. 

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