Opinión

Protocolo de resistência, boa educaçom e sentido comum

Pilar Alhegue: Mui ao meu pesar polo respeito que lhe professava, vejo-me na obrigaçom de contestar, rebatendo o manifestado por você, o artigo relativo à história da Associaçom Cultural Amigos da Cultura de Ponte Vedra que fai parte do número 180 da revista Terra e Tempo (editada pola Fundaçom Terra e Tempo de Estudos Nacionalistas, vinculada à Uniom do Povo Galego), dedicado à história do associacionismo cultural nacionalista durante a etapa final da ditadura franquista.

No meu ánimo está pôr no seu conhecimento, e no das pessoas que podam ter interesse na história de Amigos da Cultura, os verdadeiros factos relacionados com a vida desta associaçom desde 1982, dado que o totum revolutum de inexatitudes, baleiros e superficialidade recolhido no seu artigo desfigura e manipula o acontecido no seio dumha entidade que fai parte do património do movimento galego e da história de Ponte Vedra.

É, aliás, umha questom de respeito polos companheiros e camaradas, alguns infelizmente já mortos, que aportárom a seu trabalho desinteressado (militante) durante muitos anos e em diferentes etapas da associaçom. Um trabalho militante do que, modestamente, me sinto mui orgulhoso e que me levou a assumir responsabilidades como a de secretário e presidente da associaçom em várias ocasions. Um compromisso com o País de muitas pessoas que também nos supujo, para além de trabalho, multas do Gobierno Civil e mesmo, nalgum caso, represálias como a perda do posto de trabalho. Isso sim, sendo fieis à verdade, cumpre dizer também que nom todas as pessoas que passárom pola associaçom, e até assumírom cargos destacados, o faziam por este compromisso. Houvo quem só figurou e houvo quem só buscou o luzimento pessoal.

Afirma você que o seu artigo é resultado de entrevistas a algum "dos/as atores da associaçom", dada a pouca informaçom existente nos "arquivos principais da cidade". Quiçá um repasso na imprensa velha a teria surpreendido positivamente, posto que podo assegurar-lhe que nela há informaçom relevante sobre a atividade da associaçom desde a sua fundaçom em 1967 (e mesmo dados importantes sobre o contexto prévio). Fico com a dúvida de se, na sua visita ao arquivo do Gobierno Civil tivo a oportunidade de consultar informaçom da Mesa para la seguridad provincial, aquele organismo que tanto queria à nossa associaçom.

Nom sei quem som esses "atores da associaçom" consultados. Pola minha parte, dado que para contrastar a minha memória e a minha documentaçom consultei a maioria dos companheiros que realmente TRABALHÁROM em Amigos da Cultura, podo afirmar que nengum deles confirma boa parte dos factos que aparecem no seu artigo. Abofé que as suas fontes nom fôrom as mais acaídas para a elaboraçom dum artigo rigoroso e quiçá conhecendo-as saberíamos o por quê das inexatitudes, manipulaçons e prejuízos deitados sobre a história da associaçom e também sobre a minha pessoa.

Podemos começar dizendo que é falso que Fernando Martínez Vilanova fosse presidente da associaçom até 1986. A presidência desta pessoa, à que você menciona em mais dumha ocasiom outorgando-lhe um papel destacado que nom tivo, finalizou em 1984, quando foi substituido por Xosé Luís Villalba Barros, eleito por unanimidade em assembleia junto com a nova Junta Diretiva que ele encabeça. Aquela votaçom, que tivo lugar no antigo local de Amigos da Cultura na rua da Oliva 22, deixou para a nossa pequena história um facto abraiante: o até daquela presidente marcou-se um autêntico "farol" afirmando que levava umha proposta de nova Junta Diretiva que assegurava que estava encabeçada polo mesmíssimo Carvalho Calero e da que ele fazia parte. A alegada proposta estaria recolhida num envelope que o próprio senhor Martínez Vilanova portava. Ao nom ser aceite a sua "proposta" e após rejeitar integrar-se na nova direçom como vogal, o já ex-presidente abandona a assembleia. Qual nom seria a supresa das pessoas assistentes quando ao comprovar o conteúdo do envelope em que trazia a sua proposta pudemos ver que estava vazio. Nunca mais se relacionou esta pessoa com Amigos da Cultura.

No ámbito do galeguismo, infelizmente, também há espaço para histórias como estas e para os figurons. Esse mesmo homem, na sua etapa de presidente, nom tivo reparos em deixar-nos "tirados" a Xosé Luís Villalba Barros, a Francisco Cimadevila e a mim mesmo em meio da luita pola instalaçom do monumento a Castelao em Ponte Vedra, umha iniciativa de Amigos da Cultura sufragada por suscriçom popular e que tivo que superar a resistência das autoridades locais da altura. O nosso flamante presidente, após ter precipitado a inauguraçom fictícia da escultura pola sua pressa em ir-se de férias a Cuba, deixou-nos com o monumento depositado em Moanha, deitado na praia e pendente do seu translado e inauguraçom física em Ponte Vedra e no decurso das negociaçons com o Concelho (em concreto com o alcalde Rivas Fontán) e com o Gobierno Civil.

A década de  1990 é umha etapa despachada por você em seis linhas. Um espaço breve mas suficiente para deitar os seus prejuizos (ou quiçá os doutros) contra mim, responsabilizando-me de "diversos conflitos" nom especificados no seio da Junta Diretiva (conflitos que caracterizariam essa fase segundo você) e vinculando-me falsamente à Frente Popular Galega.

Senhora Alhegue, toda umha doutora em Filosofia deveria ter algo mais de rigor. Seguro que sabe que eu fum militante da UPG durante anos, naquela altura compartilhámos militáncia nas organizaçons políticas do nacionalismo e também no seu breve passo por Amigos da Cultura. Já nom sei se sabe que posteriormente abandonei esse partido e formei parte do PCLN e logo, sim, da FPG originária. O que está claro que nom sabe é que eu deixei a minha breve militáncia nesse partido em 1989 polo que é falso o dado da minha pertença ao mesmo nos anos em que você ma atribui. De onde tirou esse "dado" desconheço-o, mas o facto da sua inclusom deixa entrever a presença de preconceitos políticos bastante clarificadores.

E é que a militáncia política fai parte da história de Amigos da Cultura. A entrada da UPG numha associaçom que nom fora criaçom sua, passando a dirigi-la (e sei bem do que falo posto que eu participei nesse processo desde finais da década de 1970, como membro da UPG e ativista da sua Frente Cultural), supujo umha mudança na orientaçom da mesma, reforçando o seu caráter reivindicativo e combativo e a defesa da cultura popular frente à orientaçom inicial, mais próxima do elitismo culturalista. Nom convém esquecer que Amigos da Cultura, sem negarmos o meritório do seu trabalho em plena ditadura e nos começos da transiçom, nasceu da mao de figuras do galeguismo culturalista, mesmo de elementos colaboracionistas com o franquismo como Filgueira Valverde (pequeno detalhe que nom menciona, quiçá porque nom fica mui bem, mas é a verdade).

Mas posteriormente a UPG perde o controlo e Amigos da Cultura passa a estar mais próxima do independentismo. Assim, podemos destacar atos, durante os anos noventa, em que a associaçom reclama a liberdade dos presos independentistas do EGPGC, ou o facto de a ela estarem vinculados e vinculadas, também durante estes anos, jovens independentistas que nalguns casos conformariam a AMI em Ponte Vedra e que andando o tempo impulsionariam a criaçom do centro social Revira.

A sua ligeireza ao falar da década de 1990 também oculta o nível de atividade que Amigos da Cultura tivo durante estes anos, dado que nom é até 1997 que a associaçom fica num estado de inatividade por causa da falta de entendimento e dos atrancos postos por alguns membros da Junta Diretiva (da que eu já nom formava parte) diante da vontade de trabalho das pessoas mais novas, como o último presidente nesta etapa, Vítor Acunha (presidente em 1996-97, nom em 1995 como você escreve erradamente).

E é que no seu artigo dá a entender que nesta década o único destacável fôrom esses conflitos no seio da associaçom, quando a atividade seguiu a ser mui importante, dando continuidade a linhas de trabalho como a defesa do património histórico-artístico local (contra a desfeita dos azulejos da Alameda, denúncia do abandono do castro de Matalobos e dos petróglifos da Caeira, defesa dos restos arqueológicos da ponte do Burgo, posicionamento contra a venda do Teatro Principal a Caja Madrid, campanha de reivindicaçom do valor arquitetónico de muitos portais de vivendas da cidade, defesa da praça da Galiza e do seu projeto jardinístico...), assim como a reconhecidas atividades como os prémios Moucho de Prata e Ponla de Tojo (no primeiro caso, premiando nestes anos o lavor da militante nacionalista Carminha Granha, do crego rebelde e inteletual António Rodrigues Fraiz ou do jornalista basco-galego Pepe Rei). Mas também com posicionamentos novos e mesmo pioneiros como as campanhas contra as touradas sob a legenda “Lástima de bois”, as atividades internacionalistas de solidariedade com Euskal Herria e Cuba (viagem à vila basca de Zestoa; campanhas de recolhida de joguetes, material escolar, medicamentos e roupa para Cuba), o apoio à luita dos jovens insubmissos ou ao coletivo Érguete na sua luita contra a droga. Sem esquecermos as publicaçons e apresentaçons de livros, as exposiçons fotográficas e de pintura, as homenagens a personalidades destacadas (Agostinho Portela, Lueiro Rei ou António Odriozola), a convocatória de prémios para trabalhos de jornalismo (Prémio Suárez Picallo) ou de economia e sociologia (Prémio Alexandre Bóveda) ou a convocatória de concursos literários. Eis um resumo da atividade de Amigos da Cultura nesses anos.

Essa maior vinculaçom com o independentismo continuou posteriormente na última etapa de Amigos da Cultura, reativada  em boa medida por militantes da extinta Nós-Unidade Popular entre 2010 e 2016. Por certo, e rematando, cumpre destacar aqui outra das falsidades do seu artigo, posto que para desmontar a sua alegre afirmaçom de que nesta etapa "nom há mostras públicas de atividade" é suficiente com consultar o blogue da associaçom, ainda presente em internet. Poderá comprovar que a atividade foi bem pública, e bastante maior do que a protagonizada por algumha associaçom fantasma do nacionalismo institucional em Ponte Vedra.

Quiçá esta vinculaçom com o independentismo explique algo da mistura de esquecimento, preconceitos e manipulaçons que sofre a história de Amigos da Cultura, umha história que está por escrever de jeito rigoroso. Desde logo o seu artigo nom vai supor nengum fito no caminho da recuperaçom da memória dumha entidade que merece mais respeito.

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