Opinión

E por que não MAIS independentismo, precisamente?
 Réstia de perguntas à esquerda “não independentista”

Por que não a independência da Galiza? Qual é o problema da autoorganização da “gente” a todos os níveis? Qual é o problema duma ordem jurídica, do grau de formalização que for, que permita formas económicas e sociais emancipatórias próprias (p. ex. usufruto em mão-comum, democracia de base, economias sustentáveis, anti-extrativismo, soberania energética…)?  Onde está escrito que a pertença a um quadro jurídico superior (Estado Espanhol, Europa) permita mais facilmente a emancipação e a igualdade? Qual é o problema da articulação duma Galiza independente com outros âmbitos auto-determinados, da Península Ibérica ou do mundo?  E qual é a necessidade dum governo de ordem superior, sobretudo quando lutamos por uma sociedade tão diferente que esses governos mais amplos (militarizados, burocratizados) só poderiam ser um atranco?  Que eiva histórica (ou genética?) têm as galegas e galegos que lhes impediria avançar na auto-consciência do independentismo solidário em lugar da crescente imersão num falacioso “não-nacionalismo” que só é a cara eleitoral-mercantil do nacionalismo espanhol?  E quem diz (onde está escrito) que para reclamar essa independência seja obrigatório professar o nacionalismo ideológico (e muito menos etnicista, essencialista) como máxima forma de identificação coletiva?  Porque, onde estão as fronteiras entre a autogestão e democracia de base e a independência nacional/coletiva?

Por que não a independência da Galiza? Qual é o problema da autoorganização da “gente” a todos os níveis?

Por que não mais independentismo no caminho ao socialismo? Que obrigas deve manter a esquerda galega de demorar a sua procura do socialismo nas aras duma solidariedade “internacionalista” com outras esquerdas do atual estado espanhol que não está provado que dê mais frutos do que a procura do caminho próprio no nível mais imediato? Porque, que ilusões e miragens, até megalómanas, estarão a iluminar as decisões de certos setores do independentismo e do soberanismo galego para caminharem junto a esquerdas do Estado Espanhol que nem precisam de nós nem aguardariam por nós (ver Catalunha) para a sua própria “desconexão”?  Onde está teorizado que o caminho do “direito a decidir” no seio dum estado monolítico e duma ordem constitucional fossilizada que consagra o capitalismo até pola via militar seja “mais realista” e menos utópico do que o caminho da desconexão unilateral pola via da mobilização e dos feitos consumados na construção e exercício da soberania? Por acaso não estaremos assistindo ao último ato da glorificação interessada dos efeitos da “pequena política” eleitoral para a transformação social, por cima dos atos de verdadeira política de aliança progressista no âmbito civil?

Isto é, por que não mais independentismo, precisamente, no atual contexto de crise partidária na Galiza? Até quando teremos que auto-vitimizar-nos por ter “fracassado” na socialização dum “nacionalismo” cujos minguantes resultados eleitorais são tanto fruto dos seus próprios erros políticos quanto da sua permanente demonização e distorção por parte, precisamente, de forças de “esquerda” e direitas que historicamente reclamam o seu poder simbólico do pretenso facto de “naõ serem nacionalistas”? Quem nos explica, então, como se pode “não ser nacionalista” no seio dum estado definido inerentemente como a imorrente plasmação da essência nacional espanhola, mesmo na inimaginável forma duma “nação de nações”, no seio da qual o neológico eufemismo “direito a decidir” se apresenta como uma benigna (e portanto digerível) distorção sem dúvida moderna do inalienável direito à autodeterminação dos povos, em qualquer circunstância, sob qualquer ordem jurídica? Ou é que, no seu intuito circense de reproduzir o impossível duma “Quarta Socialdemocracia” europeia (num contexto em que o Capital já não dispõe de valor excedente para repartir alegremente em “direitos sociais” e procura, porém, uma nova e mais brutal fase de acumulação solipsista), a esquerda de identificação espanhola precisa até de retorcer teoricamente o sentido dos princípios ideológicos mais inquestionáveis, no jogo da adequação mercantil da ideologia ao discurso em lugar da transformação real, performativa, para que seja a sociedade que se aproxime desses ideais? No entanto, quanto tempo histórico se está a perder com a dança das cadeiras parlamentares, das deslegitimações, da desmemória sobre o alcançado, por mor da pretensa construção dum “sujeito político próprio” cujas manifestações por enquanto são apenas mimeses parciais de assemblearismo e participacionismo urbano, mas não formação ideológica, criação de tecido transformador, pulsão emancipadora (independentista!)?

Que ilusões e miragens, até megalómanas, estarão a iluminar as decisões de certos setores do independentismo e do soberanismo galego para caminharem junto a esquerdas do Estado Espanhol que nem precisam de nós nem aguardariam por nós?

Por que não, então, a independência como alvo mais racional desse sujeito próprio, intersubjetivamente reconhecível da Marinha a além-Minho, de Fisterra a Seabra, e mutuamente reconhecível e reconhecido com outros sujeitos e agentes coletivos? Que razões poderosas dá para o seu NÃO à independência a esquerda não-independentista (isto é, anti-independentista), em termos da superação do capitalismo e da construção do que podemos chamar genericamente socialismo? Sobre quem recai a “carga da prova” da via mais racional e efetiva a impulsar? Sobre nós, as pessoas ou coletivos independentistas, que acreditamos que só quebrando ativamente (e com resistência) os quadros jurídicos e políticos do capital, exercendo e profundizando nas máximas formas de autogoverno democrático sobre a matéria, o trabalho, a cultura e a vida social poderemos caminhar face à igualdade, justiça e liberdade reais? Ou será sobre vós, as pessoas que vos negades (e nos negades) a que procuremos primeiro o nosso direito a emancipar-nos politicamente no imediato?  Que tipo de legitimação superior vos auto-atribuídes para impedir este básico exercício da vontade dos povos? De onde procede este supremacismo, dizede-o claramente? Do fulgor simbólico do imaginário España?  Do capital simbólico das vossas lutas históricas, que enxergades como inerentemente superiores às dos povos retrasados? Ou da, no fundo, posição de classe que chegou a alcançar a vossa prática burocratizada da luta, sancionada pola mercantilização eleitoral?

Em definitivo: se não sodes independentistas, se não queredes a independência da Galiza, por que queredes e lutades com tanta força pola independência de Espanha?

Este artigo está tirado do blogue do autor, Desde a Margem.

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