Morre Manuel Pedro Pacavira, um dos fundadores do MPLA angolano

Na segunda feira dia 12 morreu em Lisboa, vítima de doença, Manuel Pedro Pacavira, membro fundador do MPLA, escritor e deputado à Assembleia Nacional.

Pedro Pacavira participou na luta anticolonial, tendo estado preso em várias das cadeias do regime colonial português entre 1960 e 1974, primeiro no Campo Missombo, no Kuando Kubango e depois no Tarrafal, em Cabo Verde. Ao lembrar a sua figura, o secretário do Bureau Político do MPLA para as Relações Internacionais, Julião Mateus Paulo “Dino Matross”, disse que Manuel Pedro Pacavira “é um dos ícones da revolução de Angola, pela sua perseverança, e foi um nacionalista e africanista convicto, tendo, por causa disso, conhecido as cadeias coloniais desde muito cedo”.

Dino Matross lembrou que “Manuel Pedro Pacavira ingressou no MPLA em 1956, onde se destacou como um militante activo, que coordenou vários grupos de patriotas dos mais diversos estratos sociais do povo angolano”. Dino Matross disse ainda que “perder Manuel Pacavira é perder um filho de Angola, um pai, amigo, profissional e companheiro”.

Além da trajectória política, distinguiu-se pela veia literária: Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria de Literatura

Após a independência, foi embaixador da República de Angola na Itália, representante de Angola junto das Nações Unidas, embaixador de Angola na República de Cuba.

Além da trajectória política, distinguiu-se pela veia literária: Prémio Nacional de Cultura e Artes na categoria de Literatura, em 2013, era membro da União dos Escritores Angolanos, e autor, entre outras, das obras "Gentes do Mato", "Nzinga Mbandi" e "JES - Uma Vida em prol da Pátria", dedicado ao Presidente José Eduardo dos Santos.

Em reacção a morte do escritor e político ocorrida segunda-feira em Lisboa por doença, a ministra Carolina Cerqueira indica que foi “un incansável combatente pela liberdade dos angolanos do jugo colonial”

Fragmento de Gentes do Mato

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Uma enorme sala o gabinete de trabalho do Chefe. Pintadas de branco, ostentam as paredes uma quantidade de fotografias de “altas individualidades” – e uma carta da geografia político-administrativa da Vila.

O chão rasgado, remendado e muito encardido, com nódoas de sangue. Duas janelas se abrem para a rua. Por móveis: dois polidos armários empilhados de livros – e duas secretárias de metal que assentam sobre dois velhos e rotos tapetes. A outra secretária é a do sr. aspirante – em cima da qual se vê uma colossa palmatória de madeira cheia de furinhos, e um chicote de cavalo-marinho, ao alto, pendurado na parede. A um outro canto, frente a frente ao lugar do Aspirante: a secretária do Chefe.

Assentaram.

Conversa. Mas só o velho colono fala – “a propósito da maca do Zanobe e o genro”.

Faz o Chefe de estar a examinar uns papéis que lhe pejam a secretária. Diz o sr. Albano: - “Deveras delicado o caso do Zanobe e o genro. Uma maca dos diabos a exigir ponderada solução. Sem coração. A cabeça acima de tudo. Para não se deixar levar por considerações de ordem tradicional.

E convinha. Tanto que já corriam uns zunzuns de estarem alguns comerciantes da vila a preparar um abaixo-assinado ao Governador-Geral contra o Chefe”.

Meio-dia. Muda o tempo de aspecto. Grandes lufadas de vento lá fora. O tecto treme. Num bater constante as janelas – de cá para lá, de lá para cá: pá! pá! pá! pum!... Uma ventania maluca. Ruge. Sacode as árvores: chapas de zinco e folhas e ramadas.

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