António Costa, na Assembleia da República

"As coisas não podem ficar como estavam antes"

O primeiro ministro, acosado pela direita e com um balanço de mais de 100 mortos pelos incêndios desde Junho passado, aceitou finalmente a demissão da ministra encarregada do dispositivo contra os lumes. Hoje Passos Coelho, o líder do PSD e antigo chefe do Executivo, ofereceu o seu apoio à moção de censura formulada pelo CDS-PP, a outra força conservadora de Portugal. Costa pediu desculpas e assumiu responsabilidades pelos acontecimentos.

António Costa na Assembleia da República
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Não periga o governo do PS porque os seus sócios da esquerda -PCP e Bloco- não irão apoiar a moção de censura apresentada por Assunção Cristas, a líder do CDS-PP. Catarina Martins (Bloco de Esquerda) lembrou a esse respeito que Cristas teve no passado responsabilidades na gestão da política forestal, numa época en que, disse, o Estado se punha ao serviço dos interesses das empresas privadas.

"A ministra demite-se. Era inevitável. Mas falta também demitir-se o modelo [de política forestal] que falhou", disse Catarina Martins, quem ressalvou em ton abertamente autocrítico: "O Estado falhou. Há responsabilidades políticas que cabem à atual maioria parlamentar [da que o Bloco, com o PS e o PCP, faz parte]".

Num debate na Assembleia da República, António Costa instou os partidos da direita a que assumam as conclussões da Comissão Técnica Independente que se formou no país após a tragédia de Pedroão Grande (acontecida em Junho passado, 53.000 hectáreas ardidas, 64 mortos).

O compromisso do Governo do PS -que perante o ataque da direita mantém, com matices, o apoio do Bloco e do PCP- é o de implementar as propostas da CTI visando reformar a política forestal e de ordenação do território. "As coisas não podem ficar como estavam antes", disse Costa.

Por sua parte, o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, pediu reforçar as ajudas para as vítimas dos fogos e atribuiu a catástrofe vivida estes dias em Portugal à herança dos governos conservadores: "Pagamos a pesada factura de décadas da politica da direita", disse. Políticas que terão resultado na desertificação do meio rural e na destruição da sua base material produtiva, afirmou, a fazer uma descrição do campo português que evocava a situação do agro galego.

Em todo caso, De Sousa quis pôr em destaque que "aqui não se produziu um falhanço do Estado, produziu-se o falhanço de políticas practicadas por décadas de políticas de governos conservadores".

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