Carvalho no ativismo socio-cultural galego contemporáneo

Percurso pela cultura de base e don Ricardo
Carvalho Calero no II Simpósio Internacional da Língua Galego-portuguesa
photo_camera Carvalho Calero no II Simpósio Internacional da Língua Galego-portuguesa

A sua vida foi ativismo puro. Político na época de pré-guerra e cultural ao longo de toda a sua vida, sempre focado na restauração da identidade nacional. Não é de estranhar que quando a censura e a repressão deixaram certas fendas, Carvalho estivesse aí novamente, nem que, trás a morte do ditador, apoiasse a sua tribo com a sua presença e a sua palavra. Não surpreende vê-lo, sobretudo na década dos anos oitenta, a colaborar com o associacionismo cultural, a rede de inspiração nacionalista que se começara a tecer nos últimos anos da ditadura. Também não surpreende que fosse essa rede quem lhe dera suporte para publicar os seus trabalhos, algo que lhe negava quem outrora o fizeram, o holding, trás lhe impor a excomunhão, como ele costumava dizer. As merecidas homenagens nacionais, também lhas fizeram sempre os seus.

Na última etapa Carvalho participou e colaborou em múltiplos atos e iniciativas convidado pelas associações de todo o país. Muito frequentemente, chegava acompanhado pela professora Aurora Marco: "Teve uma atividade frenética e estava feliz. Gostava muito de se relacionar com a gente nova e acordar novas consciências para o galeguismo. Entre eles transformava numa pessoa loquaz, alegre e próxima, e engaiolava com o seu saber erudito".

As viagens por toda a Galiza foram uma constante. "Ele já tinha colaborado com várias associações", relata a sua discípula. "Para o Facho, da Corunha, prologara o curso pioneiro O Galego Hoje. Em 1983, em que o Dia das Letras se dedicou a Leiras Pulpeiro, foi convidado a conferenciar na Catavento de Noia, e ali nos reunimos com a sua presidenta, Ana Blanco e com o vice-presidente, Avilés de Taramancos. Acabamos eles os dois e eu recitando poesia, era algo de que ele gostava imenso".

Carvalho era reclamado em todo o lado, e não duvidava em acudir, cheio de vontade e ilusão

Durante esses anos, Carvalho era reclamado em todo o lado, e não duvidava em acudir, cheio de vontade e ilusão. "Em 82, a Medúlio, Alexandre Bóveda, AGAL, AS-PG, Ateneo da Corunha, e outras muitas que enviaram a sua adesão, organizaram uma homenagem nacional na Corunha que foi muito importante para ele. Estava muito satisfeito de tal reconhecimento feito pela Galiza viva. Um ano antes fora em Ferrol, na Medúlio. E nesse mesmo ano tanto a Associação de Escritores em Língua Galega como a Associação Galega da Língua fazem-no membro de honra. De igual modo, a revista O Ensino, em 87, publicou um número duplo na sua honra, em que ele também colaborou", relata Aurora Marco. Também em 1987, o professor abria o Simpósio de Literatura Galega Estradense, organizado pela Associação Cultural A Estrada.

Com a Associação Sócio-Pedagógica Galega teve também uma relação ininterrompida desde a sua criação até a sua morte. "Participou no primeiro ciclo de conferências organizado pela AS-PG, Problemática das línguas sem normalizar. Situação do galego e alternativas, pelo 1978. Carvalho fechara o ato com a conferência 'A fortuna histórica do galego', na Aula Magna da Faculdade de Económicas. As mais de 500 pessoas assistentes deram tão comprida ovação que soava a gratidão e, também, a homenagem a uma trajetória firme na defesa do idioma", explica o ex-presidente da entidade, Alberte Ansede. 

A AS-PG fora também uma das associações convocantes do Encontro sobre o estado atual da normalização linguística em 1986 em Compostela, depois do cal se constituiu a atual Mesa Pela Normalização Linguística, junto da Associação de Escritores em Língua Galega, Federação de Associações Culturais Galegas, Associação Galega da Língua e Coletivo de Professores Promotores do Manifesto. E ali estava também Carvalho, patrocinando a nova iniciativa e fazendo o ato de encerramento.

O ilustre professor também colaborou noutro projeto com a AS-PG, o ciclo Literaturas do âmbito linguístico galego-português-brasileiro, acompanhado, entre outros, por Pilar Vázquez Cuesta. "A sua disposição incondicional a participar em qualquer das atividades que se lhe propunham –lembra Ansede– só encontrava um limite: arranjar o deslocamento por não dispor de carro. Por isso multiplicaram-se as ocasiões em que esteve presente, particularmente nas Jornadas do Ensino que anualmente se organizavam (e continuam a organizar) para o professorado".

Com a AS-PG teve uma relação ininterrompida desde a sua criação até 
a sua morte

Foi também decisão da AS-PG realizar a gravação de uma entrevista encarregada a Francisco Salinas à que ele acedeu, mais uma vez, sem reparos. Carvalho já não chegou a tempo para corrigir as provas do livro. "Mais tarde, em 1991, A Nossa Terra em coprodução com a AS-PG, publicou o vídeo Carvalho Calero, a possibilidade de retificar a História, com guião de Francisco Rodríguez, que recolheu muitos fragmentos da que seria a sua última grande entrevista", relata Ansede.

A sua relação e colaboração total com a Associação Galega da Língua foi também verdadeiramente intensa, desde o momento da sua fundação "que se converteria nos anos sucessivos no seu círculo de companhia mais querido, por ele considerado como uma espécie de testamenteiro dos seus ideais linguísticos. Ele copresidiu os dois primeiros congressos da língua organizados pela AGAL em 1984 e 1987 respetivamente", aponta Montero Santalha na biografia que preparou para o site da associação, carvalho2020. gal.

A AGAL botara-se a andar em 1981 em Compostela e nela colaboraram estudantes universitários. Um deles, Bernardo Penabade, que chegaria a ser o seu presidente, entrou em contacto com o grupo composto por estudantes e professorado universitário que se integrou na associação. "Carvalho colaborava enviando textos a toda a entidade que lho pedisse. Eu mesmo tenho mediado para o envio de artigos a revistas locais mesmo tipo fanzine", como Olláparo, da Sociedade Cultural Chirlateira de Cedeira. "O primeiro evento em que eu colaborei foi no lançamento do livro Letras Galegas, em 1984. Ele soube-o e desde esse dia sempre o teve em conta. Por isso nos apoiou nos grandes eventos que organizamos no Campus, como o Encontro de Didática e os cursos do Burgo, de onde saíra uma grande parte da gente de prática reintegracionista de hoje".

[Artigo patrocinado pola Deputación da Coruña]

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