Opinión

Bençoa o Papa os mercados?

Leio no artigo de um colega destas paginas (Alberte Blanco) sobre a organização internacional “Council for Inclusive Capitalism (with The Vatican)” que “o Papa bençoa os mercados”. Fala da participação do Vaticano num projeto que quere “humanizar” o capitalismo com o conceito de “capitalismo inclusivo”; nela participam alguns nomes significativos do capitalismo transnacional (Rothschild, Ford, Rockefeller Johnson&Johnson, Mastercard ou VISA). Leio também nesse artigo a surpresa do autor de que o papa Francisco, “hai anos moi beligerante co capitalismo de rapina... preste o logotipo vaticano e se associe directamente com o mesmo Satán”.

Porém, o certo é que a atitude crítica do Papa com o capitalismo non é só de “há anos”, mas algo reiterado nas suas manifestações e recentemente expressada na ultima encíclica “Fratelli tutti”, que comentei aqui (“Todos irmãos/ãs”, 14 outubro). Dizia ali que a encíclica molestou nos sectores conservadores/liberais pela sua crítica da propriedade privada como inviolável, da “agressividade sem pudor” dos poderosos (118ss), da indiferença ante o caído, o débil, etc. propondo sociedades com “coração aberto” (129ss), frente ao populismo liberal egoísta (155ss).

Eu penso que o capitalismo liberal, como sistema político e económico, é inmoral e irredento; a resposta é um socialismo popular e democrático. Mas, a realidade atual dos milhões de pessoas que carecem do necessário obriga a soluções imediatas. E isto non esta a acontecer com sistemas alternativos.

Este Conselho responde ao reto do Papa Francisco de aplicar princípios de moralidade ás praticas empresariais de inversão (“um sistema económico san não pode basear-se em benefícios a curto prazo a expensas de um desenvolvimento”, disse), e a organização compromete-se a medidas concretas para criar um sistema econômico más equitativo. A fundadora, Lynn F. de Rothschild, reconheceu que se o capitalismo “gerou uma enorme prosperidade, também deixou muitas pessoas atrás e levou degradação ao planeta”, polo que lhe compre uma mudança profunda.  

Custa-me confiar nisto, e pode que Francisco seja ingênuo, pero non bençoa os mercados rapinentos.

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