O filme foi visto na Corunha há poucos dias

Agustina e os sofisticados diálogos de "A Portuguesa"

Agustina Bessa-Luis é conhecida como escritora. Mas a sua aportação ao cinema como criadora de sofisticados diálogos é igual de importante.

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photo_camera Fotograma do filme "A Portuguesa", com diálogos de Agustina Bessa-Luís

Toda a imprensa deu conta da morte de Agustina Bessa-Luis. O Governo português decretou para hoje, terça-feira, um dia de luto nacional pela morte da escritora, nascida em 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e afastada da vida pública, por razões de saúde, há cerca de duas décadas. 

O nome de Agustina Bessa-Luís destacou-se em 1954, com a publicação do romance A Sibila, que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz; em 1983 recebeu o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, pela obra Os Meninos de Ouro, um galardão que voltou a receber em 2001, com O Princípio da Incerteza I – Joia de Família.

Também foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015.

Foi condecorada como Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada, de Portugal, em 1981, elevada a Grã-Cruz em 2006, e ao grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, de França, em 1989, tendo recebido a Medalha de Honra da Cidade do Porto, em 1988. Entre as muitas distinções que recebeu ao longo da vida está o prémio Rosalia de Castro outorgado pelo PEN Clube da Galiza em 2006.

Agustina e o cinema

É muito conhecida a relação de Agustina com o cinema. Especialmente com Manuel de Oliveira. Foi em 1981 que Oliveira adaptou o livro de Agustina Bessa-Luís Fanny Owen, para cinema. Francisca foi o nome dado ao filme feito a partir do livro desta escritora, que a partir de então tem colaborado com o realizador nos seus trabalhos.

Em 1993 adaptou um outro livro, Vale Abraão, cujo nome é o mesmo do filme, atingindo com esta obra um enorme êxito internacional. A crítica recebeu com agrado esta obra, tendo obtido com ela vários prémios internacionais. De um outro seu livro, As Terras do Risco, Oliveira retirou a ideia para realizar O Convento (1995). No entanto, a cooperação com Agustina Bessa-Luís é mais extensa. Já em 1982, esta autora escreveu os diálogos de Visita ou Memórias e Confissões, voltando a ser solicitada em Party (1996), para a mesma tarefa. Aliás, neste último filme os diálogos são o cerne da obra, são eles que dão vida à sucessão de "retratos" já habituais nas obras de Manoel de Oliveira.

Mas sendo Oliveira o mais conhecido não foi o único. Em 2009 a Corte do Norte foi levado ao cinema por João Botelho e dela são os diálogos de A Portuguesa, realizada e dirigida por Rita Azevedo e projetada no CGAI da Corunha no passado vinte e três de maio. A Portuguesa baseia-se na segunda das três historias que compõem Three Women, de Robert Musi. A crítica qualifica-a como uma obra rica e variada quanto às personagens e sofisticada nos diálogos, cheios de referências a grandes obras da arte, a literatura e o misticismo.

O diálogo como cerne do cinema, o diálogo como cerne da vida.
 

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