Evo Morales saúda compromissos pela integração latino-americana no Foro de São Paulo

O 19º Encontro do Foro de São Paulo encerrou-se neste domingo (4), na capital paulista, com a presença e o anúncio do presidente da Bolívia, Evo Morales, sobre a realização do próximo encontro, em 2014, na cidade boliviana de Cochabamba. Pela manhã, a plenária foi conduzida com resoluções e declarações finais acordadas após os cinco dias de encontro entre os partidos de esquerda da América Latina e de outras regiões do mundo.

Lula e Evo Morales
photo_camera Lula e Evo Morales

Entre as declarações e resoluções a que chegaram os representantes, após os debates de alto nível em diversas sessões e os encontros de mulheres, juventude e afrodescendentes, estavam a lembrança ao legado do comandante bolivariano Hugo Chávez; o apoio ao Nobel da Paz e ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela; à luta do povo e especialmente das mulheres saharauis, no norte da África; a confirmação da incorporação ao foro da Marcha Patriótica (Colômbia), da Frente Guasú (Paraguai) e do Partido do Povo (Peru); o apoio à presidenta brasileira Dilma Roussef; e muitas outras declarações ligadas diretamente com as lutas dos diferentes povos no processo de integração e construção socialista.

De acordo com a resolução difundida, “a influência positiva do FSP deve-se, entre outros motivos, à nossa diversidade e à nossa pluralidade interna”, e é parte importante do processo de mudança em curso na América Latina e no Caribe.

Entre os desafios a curto-prazo, ressaltou-se a necessidade de aprofundamento da integração regional justa, soberana e equitativa, com a consolidação dos mecanismos já existentes, como a União de Nações Sul-americanas (Unasul), o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a Alternativa Bolivariana para os povos da Nossa América (Alba), a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), entre muitos outros.

"Ressaltou-se a necessidade de aprofundamento da integração regional justa, soberana e equitativa, com a consolidação dos mecanismos já existentes, como a Unasul ou Mercosul"

Além disso, a atenção, unidade e compromisso da esquerda latino-americana com as próximas eleições deste ano e de 2014 são fundamentais para a garantia da continuidade e do aprofundamento necessários, “para que as forças de esquerda, democráticas e progressistas saiam vitoriosas, com melhores posicionamentos e maiores espaços de poder”.

Neste sentido, foi detalhado também um plano de ação pela democracia em Honduras, com um encontro entre parlamentares regionais e o envio de uma missão de observação eleitoral; a declaração de apoio aos cinco heróis cubanos detidos nos Estados Unidos, com o envio de uma declaração ao presidente estadunidense, Barack Obama, sobre os direitos dos antiterroristas e o pedido pela sua libertação; o apoio ao processo de paz na Colômbia, com o empenho pelos diálogos iniciados entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo, em 2012; e resoluções como a que aborda a questão dos presos políticos, de consciência e pessoas desaparecidas forçosamente; e a maior participação efetiva das mulheres, especialmente na representação de seus partidos no Foro, entre muitas outras.

Representantes de diversos partidos estiveram presentes para a leitura das resoluções e dos planos de ação, que abordaram temáticas diversas e fundamentais para a consolidação do processo de integração e de solidariedade entre os povos da América Latina e do Caribe, sobretudo frente ao imperialismo e para o fortalecimento da autonomia regional progressista.

"Evo falou ainda da nacionalização do gás e do petróleo bolivianos como uma garantia da independência do país com relação ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial"

Por isso, ressaltaram os jovens, através da declaração final do seu 5º Encontro, no âmbito do Foro de São Paulo: “Todos os nossos avanços nos levam a uma situação inédita para continuar nossas lutas, mas é imprescindível a construção da unidade acima de qualquer diferença que possa nos separar, inclusive a nível nacional. As novas gerações aprenderam da nossa história, dos nossos próceres da independência americana, dos nossos heróis e mártires revolucionários e também das nossas derrotas, que foram, em muitas ocasiões, produtos da desunião, do sectarismo e do individualismo”.

Perspectivas socialistas de integração

O presidente da Bolívia, Evo Morales, foi recebido pelos participantes no ato de encerramento do encontro com intensas manifestações de apoio e admiração, já que forma parte do grupo de governos latino-americanos que consolida o avanço social de seus próprios povos, a sua soberania nacional e a integração com os vizinhos no sentido democrático e progressista, como alternativa ao neoliberalismo, com políticas de solidariedade e complementaridade, e não de competitividade.

Evo, o primeiro indígena a governar um país sul-americano, definiu um partido, ou um governo socialista como aquele ligado diretamente aos movimentos sociais, o que luta pela nacionalização dos recursos naturais, o anti-imperialista, que garante os serviços públicos (e não os privados); “este é um partido e um governo socialista, mais amplo e participativo”.

Em outro sentido, criticou a Aliança do Pacífico, frequentemente ressaltada durante o encontro como uma contraofensiva imperialista contra a integração progressista da América Latina e do Caribe. “O que querem é debilitar a Unasul, esse processo de integração”, como a retomada da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), derrotada com o empenho de resistência dos governos progressistas. Com a Aliança do Pacífico, o objetivo é a abertura dos mercados e a liberalização dos serviços, “ou seja, as privatizações” dos serviços básicos, como a água, as telecomunicações e a eletricidade, “que são parte dos direitos humanos”, disse Evo.

O presidente falou ainda da nacionalização do gás e do petróleo bolivianos como uma garantia da independência do país com relação ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, com recursos que mudam a relação de dependência do capital estrangeiro em geral, seja de empréstimos ou investimentos privados, para “a independência da economia nacional”; esta foi a importância da recuperação dos recursos naturais sob o controle do Estado, explicou, contra o saqueio estrangeiro.

 "A importância do investimento da esquerda em meios próprios de comunicação (dado o “atentado midiático”, patrocinado pela direita, de que são vítimas os governantes progressistas)"

"Destacou a importância do investimento da esquerda em meios próprios de comunicação (dado o “atentado midiático”, patrocinado pela direita, de que são vítimas os governantes progressistas)"

Espaços de integração como a Alba, a Unasul, a Celac, o Mercosul, disse Evo, com governos que têm objetivos anti-imperialistas, graças a Fidel Castro, a Hugo Chávez, “que antes eram o ‘eixo do mal’. E agora somos vários presidentes do ‘eixo do mal’”, ironizou, apesar dos esforços externos contra o processo, com golpes em Honduras, na Venezuela e no Equador, por exemplo.

Evo saudou o Foro de São Paulo e a decisão de levar o próximo encontro à Bolívia, o primeiro a ser realizado no país, em Cochabamba, em 2014. Aqui, disse, “somos movimentos sociais e partidos de esquerda, que defendemos a vida, e não a morte, a paz, e não a guerra”, contra os avanços capitalistas e imperialistas. “Vamos bem”, disse Evo, “mas também temos que seguir colocando mais propostas, políticas e programas”. Esta é a obrigação dos partidos de esquerda e movimentos sociais, afirmou.

Já em coletiva de imprensa, após o encerramento do 19º Encontro do Foro de São Paulo, Evo respondeu a perguntas gerais sobre a política interna do país; a incorporação da Bolívia ao Mercosul; o encontro deste sábado (4) com o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem classificou de “um amigo” com quem tem “confiança”; a importância do investimento da esquerda em meios próprios de comunicação (dado o “atentado midiático”, patrocinado pela direita, de que são vítimas os governantes progressistas); a migração boliviana para o Brasil, entre outros temas.

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