Susana Sánchez Aríns, autora do libro 'Seique'

"Se fez isso aos da casa que faria aos de fora"

Conversamos coa sobriña-neta de Manuel García Sampayo, un dos "máis brutais represores do Salnés" segundo a memoria oral recollida. Sánchez Aríns é autora do libro Seique (Através Editora). Facémolo como punto de partida do A Fondo que publicaremos esta quinta feira co Sermos Galiza sobre os vitimarios da represión franquista.

Susana Sánchez Aríns
photo_camera Susana Sánchez Aríns [Imaxe cedida]

Esta quinta feira acompaña o semanario en papel un caderno monográfico sobre os vitimarios da represión na Galiza. Poñémoslles nomes e apelidos a quen exerceu o terror en forma de asasinatos, tortura e humillación. Neste A Fondo, coordinado pola investigadora Cilia Torna e no que escriben Bernardo Máiz, Carlos Nuevo, Eliseo Fernández, Dionisio Pereira, Manuel Pazos Gómez e o propio X.C. Garrido (autor desta entrevista), repasamos a represión levada a cabo no país após o golpe de estado de 1936 desde unha perspectiva diferente á habitual, poñendo o foco nos seus responsábeis. 

Como adianto do monográfico, publicamos a entrevista a Susana Sánchez Aríns, autora de 'Seique' e sobriña-neta dun represor. 

Quen foi Manuel García Sampayo?

Eu escrevim que foi um fascista tão sem importância que nem sequer aparece nos arquivos. Mas aí errei, pois sim apareceu, num expediente que localizou Xosé Álvarez Castro. Se fazemos caso do cura de Besomanho (Riva-d'Úmia) foi um de los feligreses que merece ocupar un puesto de los más distinguidos por su docilidad, humildad y religiosidad nada comunes, contribuyendo con su buen ejemplo a la moralización de sus compañeros y vecinos. E se atendemos ao informe da Guarda Civil de Cambados colaborou con entusiasmo en el restablecimiento del orden público y en las batidas en los montes para la detención de extremistas. A memória oral apõe-lhe fama de ser um dos mais brutais repressores no Salnês. Ademais de todo isto, Manuel García Sampayo era um dos irmãos da minha avó Glória. Quer dizer, é o meu tio-avô. 

A memória oral apõe-lhe fama de ser um dos mais brutais repressores no Salnês


Hai nas familias dos represores tamén desmemoria?

Pola experiência na minha casa, creio que se dão as mesmas atitudes que quando tratamos das vítimas: tanto pode dar-se o silenciamento como a recordação insistente, dependendo também do benefício ou prejuízo que essa figura tenha causado na família. A minha avó escolheu não falar do assunto, igual que a maioria das irmás e irmãos. Eu sei de curmãs do meu pai que nada sabiam desse passado fascista de tio Manuel, e menos da sua fama de repressor. Por contra, tia Ubaldina, outra irmã da minha avó, sempre falou do tema na sua casa, e foi à sua família a quem pudem recorrer para saber. 

Como se lembra nestas familias e que diferenzas aprecias a respecto das das vítimas? 

A sensação que recebim toda a vida foi a do medo a pronunciar. A frase que figem leit-motiv da minha narrativa, essa de “se fez isso aos da casa que faria aos de fora”, escuitamo-la sempre na casa dos avôs. E nunca ninguém foi além. Insinuava-se a maldade, nós podiamos inferi-la das palavras, com o tempo, contextualizando, pudemos imaginar que tipo de danos eram referidos, mas nunca se disse claramente, como se existisse o pudor de admitir que alguem causante de tais atrozidades pudesse partilhar sangue com nós. Era como um evitar nomear o demo, como se calando desaparecessem os feitos.

A sensação que recebim toda a vida foi a do medo a pronunciar


“Seique” é un libro difícil de definir e sen embargo parece que está a resultar un éxito editorial, que che comentan os lectores a respecto do seu interese por unha obra inclasificábel? 

O que chegou a mim nos lançamentos e encontros com leitoras foi a familiaridade da história que conto. Literalmente. Muitos comentários começavam com um “também na minha casa, na minha aldeia...”. Até a frase que o coro repite insistente era pronunciada noutros lugares. Creio que esse é um dos acertos do livro: contar a estória que escondia a minha família e que vem sendo uma estória semelhante a tantas outras que escondem outras casas. E fazê-lo respeitando o estilo oral em que essas estórias foram contadas às agachadas, nos escanos das cozinhas ou na escuridade da invernia. Isso reforçou a sensação de proximidade na leitura. 

En que medida a literatura permite achegarse a unha verdade que na historiografía ten un acceso vedado? 

Inicialmente eu quigem escrever História, assim com maiúscula. Mas encontrei um obstáculo para fazê-lo: a ausência de fontes. A historiografía requer dados verificados e contas bem botadas. As historiadoras não podedes afirmar nada sem um documento que vos garanta. E isto é um problema em contextos como o da repressão franquista, em que as acções paralegais, como os passeios, não constam nenhures e na que os arquivos foram limpados e saqueados e muitos dos documentos mentem mais que qualquer testemunho oral. Sem ir mais longe, o único que aparece documentado sobre o tio Manuel são essas louvanças morais das forças vivas do lugar e os seus nomeamentos como alcalde. Se atendemos à papelada só podemos afirmar que foi um cidadão sem tacha. 
Na literatura não estamos coutadas por essas servidões e, mesmo correndo o risco de não ser verídicas, as nossas narrativas podem chegar a ser mais verdadeiras. Todo isto sem entrarmos no debate de se é possível a historiografia fugir à literatura, que eu acredito que não.  

Em contextos como o da repressão franquista, e as acções paralegais, como os passeios, não constam nenhures e os arquivos foram limpados e saqueados

Hai conciencia de débeda da situación social e económica dos descendentes dos represores e en que medida unha persoa de ideoloxía contraria é quen de asumir as súas raíces familiares no terror franquista? 

Para mim é difícil respostar a isto, pois não me considero descendente de um repressor. Ainda que me toca na família, considero a minha avó uma outra vítima das suas andanças e estou totalmente convencida de que a minha família direta sufriu, muito mais do que é quem de admitir, as acções do tio Manuel, polo que me vejo mais como descendente de vítimas que de vitimários. As pessoas têm perguntado se não me custou falar do tio Manuel e hei de admitir que não me custou nada: não o conhecim nem tenho relação com as suas descendentes diretas, polo que não se deu em mim esse pudor afetivo que sim me produziu, e assim o relato, falar da minha avó como vítima, pois ela nunca quis relatar-se assim. Porém, tendo em conta isto, eu sim assumim o seique como uma responsabilidade cívica. Defendo os princípios de verdade, reparação e justiça para as vítimas da guerra civil e a repressão franquista. E não me parecia justo reivindicar esse lema sem pór em cima da mesa aquilo que eu sabia da verdade histórica: o nome de um repressor, os lugares em que atuava, as vítimas possíveis da sua violência. O pouco que eu conhecia podia servir a alguém para atar cabos, conhecer a verdade e exigir a reparação correspondente.  O fermoso desta responsabilidade assumida é que conhecia, sem saber, uma familiar dumas das supostas vítimas de tio Manuel e, quando falamos, ela agradeceu, simplesmente, poder dar nome ao assassino dos seus ascendentes. O ato de reparação foi tão singelo como esse e estava da minha mão (está das nossas mãos): dar um nome. São agora os oitenta anos do golpe de estado e do começo da guerra. Oitenta anos são suficientes. Acredito fundamente em que não se passa nada por admitir o que aconteceu e dizer sem reviravoltas que figeram os nossos familiares daquela. Todo o contrário: podemos contribuír a aliviar o sufrimento doutras famílias.
 

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