A TORRE DE TREZENZONIO

Escravos e servos

Uma palavra estendida por média Europa. 

caravana
photo_camera [Capture and Coffle of Enslaved Africans, Angola, 1786-87]

A palavra escravo é a mesma ou moi parecida em todas as línguas romances: escravo no galego-português, esclavo em espanhol, esclave em francês, schiavo em italiano, sclav em romeno. E também noutras línguas, é sclábhaí em irlandês, mesmo skllav em albanês.

Também aparece nas línguas germânicas, com lixeiras diferencias, assim: slave em inglês, slave em dinamarquês e norueguês, slav em sueco, slaaf (m) e slavin (f) em neerlandês.

Parece bastante claro que escravo vem de eslavo. Nalgumas línguas como o inglês, a palavra era a mesma ainda que depois começou a diferenciar-se slav, eslavo de slave, escravo. Para estar tão estendida parece uma palavra bastante recente, no inglês não se registra até o século XIII, o dicionário de Corominas a registra no século XV no espanhol, e os dicionários galegos e portugueses não registram uma data.

Servos

Servo vem da palavra servus, que empregava o latim para designarem o que hoje chamamos escravos. E cando falarmos de escravos o caso de Roma era o mais duro da Antiguedade: o escravo era definido juridicamente por Varro como instrumentum vocale (a ferramenta que fala). Isto é, não tinha categoria de persoa, era um tipo de cousa.

Por isso, resulta chamativo que a palavra servo acabasse por representar na nossa língua —e nas outras línguas romances, e no inglês— algo assim como um criado, de condição social moi baixa pêro libre. O câmbio do significado só se explica por um câmbio paralelo da condição jurídica e social dos servos. Os servos da gleba que se mencionam nalguns textos já não eram escravos, tinham alguns dereitos, família e propriedades, ainda que não podiam, legalmente, deixar as terras que trabalhavam.

E o dito câmbio implica que nalgum momento deixou, na pratica, de haver escravos ate o ponto de esquecer-se o significado da palavra que os designava. Tanto se esqueceu que cando voltou a haver escravos foi preciso empregar uma palavra nova: escravo.

Eslavos

Os eslavos eram pouco conhecidos na Europa Ocidental antes da Idade Média. Durante o Império Romano, só há uma menção deles em Ptolomeo. Aparecem menções deles do século VI em diante, mas são poucas até bem depois do ano 1000.

Pola contra, na Península, aparecem citados desde cedo em Al-Andalus: Abd al-Rahman ibn Habid al-Siqlabi, era o comandante duma fracasada invasão de Al-Andalus a favor do Califado Abasí de Bagdad, que tivo lugar no ano 777. Al-Siqlabi significa o eslavo.

O tráfico de eslavos é da época anterior ao ano 1000. Sabemos que o Califado de Cordova, estabelecido no ano 929, era um grande importador de eslavos e o emirato anterior, provavelmente também. Estes eslavos eram empregados, sobre todo, como soldados. A condição jurídica claramente não era a mesma que nos tempos de Roma, agora os escravos eram considerados pessoas.

Estes eslavos vinham da Europa do Leste por Bizancio a donde os transportavam os varegos, mercadores escandinavos no Don e no Volga. Isto é, eram vikingos com outro nome.

Os vikingos eram os principais principais traficantes de escravos, tanto de eslavos como de outros. Os ataques contra as nossas costas e as dos outros povos da Europa Atlântica, aos que os vikingos chamavam westmen tinham como principal objetivo a caça de escravos. Mas isto será tema doutro artigo.

A conclusão

Todo o anterior quer dizer, que na altura dos século IX-X, cando começam a chegar eslavos em cantidades importantes ao califado de Cordova, a escravatura já desaparecera e fora esquecida no Ocidente da Europa.

Isto tivo que suceder após a queda do Império Romano de Ocidente ou pouco depois. Mas sabemos por um incidente contado polo cronista anglo-saxão Beda o Venerável que na própria Roma havia um mercado de escravos no século VII. Isto leva a muitos historiadores a pensar que no resto da Europa seria igual. Como acabamos de ver, deveu ser a excepção e não a regra.

Dum feito tão importante na história da Europa como pode ser a desaparição da escravatura não temos documentos, nem historiadores para no-lo contar. Nem para o conjunto da Europa nem para a nossa nação. O que temos é uma sociedade baseada no trabalho escravo durante o Império de Roma e outra sem escravos vários séculos depois, cando voltamos a ter documentação. Co problema engadido de que as palavras que empregam os documentos são as mesmas, mas a realidade cambiou.

As vezes o importante é o que não aparece nas notícias.

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