Cuidado! O seu telemóvel pode atrair um ataque de drone

Reportagem do jornalista Glen Greenwald no novo site The Intercept mostra como os ataques desfechados pelos EUA com aeronaves não tripuladas baseiam-se cada vez mais em vigilância eletrónica, e não em informação recolhida por pessoas no terreno, e por isso erram tanto os alvos.

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photo_camera Novo site de jornalismo investigativo não tem publicidade.

Os jornalistas Glenn Greenwald e Jeremy Scahill publicaram sob o título 'O papel secreto da NSA no Programa de Assassinatos dos EUA' uma extensa reportagem acerca do uso de vigilância em massa dos sistemas de telecomunicações e Internet para guiar os ataques de drones contra alvos que os Estados Unidos consideram “terroristas”. Esta estratégia é considerada pouco fiável por antigos operadores de drones ouvidos na reportagem e tem como resultado a morte de muitos inocentes e pessoas que nunca foram identificadas.

Esta estratégia é particularmente usada em países onde as agências de segurança americanas pouca gente têm no terreno, como o Iémene, a Somália ou o Paquistão, e baseia-se na deteção dos cartões SIM dos telemóveis dos alvos. A vigilância em massa serve para localizar os telemóveis e para identificar o seu dono. Feito isto, o ataque com um drone é desencadeado, sem que haja a certeza de que o telemóvel é efetivamente da pessoa em causa, e se está realmente na posse dessa pessoa.

Um antigo operador de drone ouvido pela reportagem diz que quando a bomba atinge o alvo num ataque noturno, o operador sabe que o telemóvel está lá, mas não quem está atrás dele. Assume-se que o telemóvel pertence a uma pessoa que é nefasta e considerada um “combatente inimigo desleal”.

A questão é que os alvos, assim que perceberam que os cartões SIM são usados para a sua localização, podem usar dezenas de cartões, e permutá-los entre várias pessoas para causarem confusão. Numa reunião despejavam os cartões SIM num saco e, no final, recolhiam-nos aleatoriamente.

O Bureau de Jornalismo Investigativo estima que pelo menos 273 civis inocentes foram mortos em ataques com drones no Paquistão, Iémene e Somália.

Novo site não tem publicidade

A extensa reportagem é baseada em documentos revelados pelo ex-analista da CIA Edward Snowden e fontes ouvidas pelos jornalistas. É o artigo de estreia do novo site de jornalismo investigativo The Intercept, que entrou na rede pela primeira vez na última segunda-feira 10 de fevereiro.

The Intercept é a primeira publicação da First Look Media, empresa que resultou do investimento de Pierre Omidyar, fundador do site de compras e leilões Ebay. The Intercept foi criado por Glenn Greenwald, Laura Poitras e Jeremy Scahill, e tem um total de 12 jornalistas na redação. Não conta com publicidade nem patrocínios.

A intenção é que uma empresa na área tecnológica do mesmo grupo dê lucro suficiente para financiar o trabalho dos jornalistas. Omidyar pretende investir 250 milhões de dólares no projeto, o mesmo valor que o dono da Amazon, Jeff Bezos, gastou para comprar o Washington Post.

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