Nove câmaras para despir as vergonhas da Troika

Oito fotógraf@s e um realizador de cinema unem-se para capturar as consequências sociais das políticas neoliberais em Portugal sob o nome de Projeto Troika.

O objetivo é fazer do seu trabalho um documento histórico. Capturar com os lentes de suas câmeras as consequências da crise económica, social e política que asolaga Portugal. Seus nomes : Adriano Miranda, António Pedrosa, José Carlos Carvalho,Lara Jacinto, Rodrigo Cabrita, Vasco Célio, Bruno Simões Castanheira, Paulo Pimenta e Pedro Neves .

Tod@s são fotógraf@s de referência no país vizinho e gozam mesmo de reconhecimento internacional após efetuarem diversas exposições e publicarem vários livros e filmes. Agora, juntaram os seus esforços para pôr a andar uma iniciativa coletiva: o Projeto Troika.

"O desemprego nunca esteve tão alto e a taxa de emigração voltou aos níveis dos anos 60

Falamos com um deles. Adriano Miranda. Dele foi a ideia inicial de documentar através da fotografia e do cinema "as consequências e resultados na sociedade portuguesa das intervenções impostas" pelas instituições financeiras internacionais com a ajuda dos sucessivos governos portugueses. E há material suficiente.

"Portugal vive numa situação dramática", explica Adriano Miranda a Sermos Galiza. "O desemprego nunca esteve tão alto, a taxa de emigração voltou aos níveis dos anos 60, os salários baixaram em média 25%, as reformas também baixaram. Dos serviços públicos fica bem pouco, acrescenta, "a escola pública e o sistema nacional de saúde estão degradados com os cortes orçamentais brutais" e "o Estado social está em perigo".

Na mira das câmaras, as políticas de austeridade que deitam "um desalento enorme" entre a população. "A população está sem confiança e sem alternativas. Há muita miséria, muita miséria encoberta de pessoas que até há pouco viviam bem e de repente ficaram desempregadas e não tem dinheiro para comer". E o resultado é "um país profundamente pobre" e "em situação de rotura" . Mas, uma rotura que, diz, "só ainda não aconteceu porque a apatia das pessoas faz com que não se proteste". 

Face esta situação, estas nove pessoas decidiram botar a andar seu próprio projeto de resposta. Uma iniciativa que embora não procurar combater a realidade imperante nem pular por profundas transformações políticas, econômicas e sociais, visa deixar testemunha direta do que está a acontecer. "Portugal foi intervencionado pelo FMI nos anos 80. Para estas novas gerações saberem o que aconteceu recorreu-se muito a imagens da época que documentavam um Portugal estranhamente pobre", ressalta Adriano Miranda. Assim é que cerca de 30 anos depois "queremos efetuar o mesmo" .

Um livrro, um documentário e uma exposição

Para isso, percorrem o país de uma ponta a outra fotografando e filmando a realidade de seu povo, da classe trabalhadora, estudantes, @s idos@s, os jovens, mas também as ruas,os protestos e a opulência das ( poucas ) pessoas que estão-se tornando mais ricas. "9 reflexões, postas numa nova perspectiva sobre a sociedade contemporânea portuguesa, em que nos propomos construir um documento visual" que "possa ser uma memória para as gerações futuras, sublinha no seu portal web.

Mas para sair adiante, o projeto precisa fundos. É assim que lançaram uma campanha de crowdfunding com que financiar o Projeto Troika. " Achámos que o apoio tinha que ser da sociedade. Daqueles que acreditam em nós. Por isso lançamo-nos no crowdfunding em www.projectotroika.com", diz Miranda. No primeiro dia que lançaram a proposta para as redes "recolhemos 2000 euros", agora contam já com 30% do orçamento. Assim, publicarão um livro/DVD com fotografias e um documentário que visam apresentar "por todo o país e a Europa", mas que também gostarão de apresentar em "colectividades, associações, escolas" em onde falar "do Projeto Troika, o que vimos e o que queremos para Portugal".

 

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