Todas as chaves sobre o debate no Bloco de Esquerda nas vésperas da sua Convenção

Até cinco documentos político-organizativos apresentam-se a debate na Convenção que o Bloco de Esquerda realiza o 22 e 23 deste mês. Visões diferentes e mesmo divergentes sobre o rumo duma organização que atravessa os seus piores momentos nos seus 14 anos de história. VÍDEO INCLUÍDO NO INTERIOR.

Bloco de Esquerdas

Lisboa acolherá a finais deste mês (22 e 23) a IX Convenção do Bloco de Esquerdas, uma cita que decorrerá sob o lema ‘Romper com a austeridade: paz, pão, habitação, saúde, educação' e que se realiza num dos momentos mais delicados na história desta organização política nada em 2000 da confluência da UDP (marxistas), PSR (trotskistas) e Política XXI (ex-militantes do PCP, independentes...). Diferenças internas, retrocessos eleitorais (nas legislativas obteve 8 deputad@s face aos 16 da anterior), controvérsia a respeito de algumas responsabilidades e decisões... a IX Convenção chega num momento de profundo debate e questionamento interno. Até cinco moções apresentam-se para o debate.

Durante estas semanas, representantes de cada uma destas cinco moções estão a participar em debates conjuntos em diferentes vilas e cidades, bem como através das redes sociais ou a meio de streamming.

Todas as correntes reconhecem que o BE perdeu referencialidade. Discordam em como conseguir recuperá-la

Moção A: dialogar com a esquerda, sem exclusões

‘Uma resposta de esquerda’ é o nome da moção A, que tem entre os seus valedores o advogado de Viana do Castelo Luís Louro. O documento chama para um diálogo do Bloco com toda a esquerda, “sen exclusões” e insta a formação a pôr “condições mínimas para apoiar ou participar num projeto de governo” que se preocupe “mais pela vida das pessoas que pela afirmação do seu acantonamento”.

As pessoas assinantes desta moção vêm principalmente do norte de Portugal: Viana do Castelo, Caminha, Braga...

Moção B: refundação num movimento

Um dos seus rostos mais conhecidos é o do professor universitário Adelino Fortunato, mais não só. ‘Refundar o Bloco na luta contra a austeridade’ é a chamada que se faz na moção, que afirma que o BE atravessa “o momento mais crítico desde a sua fundação”. As e os apoiantes desta via falam em “se refundar num movimento que resgate da burocratização” o Bloco, ao tempo que chama a se “fortalecer a partir da base”. 

No texto ressaltam a necessidade de “pôr empenho” nos movimentos sociais, falam em ‘eco-socialismo’ e olham para o “sucesso” de Podemos no Estado espanhol.

Moção E: Recuperar um discurso próprio

‘Bloco plural, factor de viragem’ é o nome que leva esta moção, em que se aglutina a corrente Esquerda Alternativa à qual pertencem quatro dos oito deputados do BE na Cámara portuguesa, entre eles o porta-voz parlamentar e impulsor desta moção Pedro Filipe Soares.

Chamam para “recuperar a identidade do Bloco de Esquerda num novo contexto político” e denunciam que a organização teve uma “linha política e incoerente” que afastou “muitas pessoas”. Rejeitam as piscadelas que, ao seu entender, se têm feito ao Partido Socialista e pedem para o BE “um discurso próprio”. Assim, e a respeito do PCP, dizem que “há diferenças relevantes na política e na ideologia”, embora reconhecem “há pontes que devem serem reforçadas na luta contra a austeridade”.

Apelam ao eco-socialismo, chamam para aprofundar nas autonomias regionais e no que diz respeito ao euro dizem que “a saída não é uma prioridade e estar lá não é um dogma”.

Moção R: O Bloco como o Partido das Solidariedades

‘Reinventar o Bloco’ é a invocação que já desde o próprio nome lançam os e as defensoras desta proposta, que apontam que “vencer a crise é derrotar o capitalismo”. Põem sobre a mesa o debate sobre o produtivismo e a esquerda, afirmam que nestes anos o Bloco de Esquerdas “é visto” pela gente “como um partido igual ao resto” e chamam para “se afastar do fetiche silencioso do Partido Socialista”.

Propõem um Bloco como um “partido das solidariedades” com os setores mais desprotegidos e golpeados da sociedade, visando tecer com eles “uma fronte social” contra a austeridade.

Moção U: Por um polo unido à esquerda para derrotar a austeridade

Os atuais coordenadores do Bloco de Esquerda Catarina Martins e Joao Semedo são as figuras mais conhecidas desta moção, que leva por nome ‘Moção unitária em construção’ .Quer Martins (da corrente ‘Socialismo’ criada pelo ex-presidente Francisco Louçá para tentar ultrapassar os 3 movimentos originais do BE) como Semedo (da tendência Forum Manifesto) voltam a se candidatarem para a coordenadora.

Reconhecem que o Bloco “atravessa dificuldades que cumpre ultrapassar” e que há uma percepção estendida dentro e fora da organização de que a ação institucional tem um “peso esmagador” no conjunto do partido. No documento salientam a prioridade da mobilização social e acreditam que “no país de abril, um novo levantamento social é possível”.

Põem como prioridade um programa centrado em acabar com a austeridade e falam num “polo unido à esquerda” para derrotar a austeridade. A respeito das eleições presidenciais, são partidários de apoiarem uma candidatura independente que tenha como alicerces a luta contra o Tratado Orzamentário e a austeridade, embora não descartem apresentarem uma candidatura própria.

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