Timor Leste na ONU

O português como prioridade

Apostar no potencial económico da CPLP e que o português volte a ser a língua mais falada, compromissos de Timor Leste perante a Assembleia da ONU

Escola portuguesa en Timor Leste
photo_camera Escola portuguesa em Timor Leste

Quer em intervenção perante a Assembleia da ONU (“É no mesmo pensamento que Timor-Leste como membro da CPLP, durante a sua Presidência tem levado ao debate dos seus Estados Membros o conceito de potencial económico resultante desta constelação transregional distribuída pela Europa, África, Américas e Ásia”), quer em posterior entrevista para Rádio ONU, Rui Maria de Araújo destaca a necessidade de colaboração entre membros da CLPL (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) para poder dispor de professores aptos a ensinar o idioma num território em que, além do português, o tétum é também a língua oficial e conta com outros 15 idiomas locais usados no ensino como ferramenta de "transição suave para a aquisição das línguas oficiais"

Necessidade de professores

De acordo com o site oficial do governo, mais de 1,1 milhão de pessoas vivem em Timor-Leste. Ensinar o idioma de Camões para as gerações futuras, especialmente para a população de áreas rurais, está nos planos do governo, segundo manifestou o primeiro-ministro em intervenção perante a 71 Assembleia geral da ONU, na mesma intervenção em que reclamou o fim do bloqueio a Cuba.

“Apelamos à necessidade célere do desbloqueio comercial, financeiro e económico por parte dos Estados Unidos da América à República de Cuba”

Mas pôr em andamento esses planos requer ajuda: "Não se consegue reintroduzir o português num ápice em Timor-Leste. Portanto, o que estamos a fazer é trabalhar com os parceiros da CPLP, nomeadamente Portugal, Brasil e Cabo Verde, para ver se conseguimos trazer mais professores desses países para formar nossos professores e então reforçar a disseminação dos professores que dominam a língua para o ensino do português particularmente nas áreas rurais"

"Estamos a fazer todos os esforços para que nos próximos 10 a 15 anos, o português volte a ser a língua mais falada"

A situação é diferente conforme se tratar de zonas rurais ou urbanas. Segundo o primeiro-ministro Rui Maria de Araújo, o ensino do português "está muito mais intensivo nas áreas urbanas". Em relação ao domínio, ele afirma que houve progressos qualitativos e quantitativos nos últimos 10 anos.

Qual a razão de duas línguas oficiais?

Em 2002, com a promulgação da Constituição que prevê a língua portuguesa como um dos idiomas oficiais, Timor Leste vive um momento de consolidação da independência. O 90% da população timorense não era alfabetizada em português. Por que elevar o português a língua oficial? Aclara-o Taur Matan Ruak, ex-líder do movimento de resistência e presidente timorense desde 2012.

Ruak retrata o porquê da escolha constitucional do português como idioma oficial e como o idioma sobreviveu no país, mesmo diante da política de proibição dos indonésios

Segundo ele, o uso do português manteve-se firme devido a quatro fatores: “Primeiro, a presença da classe dirigente lusófona; segundo, por ser a única língua ortograficamente desenvolvida; terceiro, porque era a nossa língua oficial definida desde sempre; por último, porque era uma das armas para contrapor à língua malaia no âmbito da luta cultural, ressurgindo como desejo de oficialidade para afirmação identitária dos timorenses”

Os idiomas locais como idiomas de ensino e aprendizagem

Em base ao anterior e desde a consolidação da independência, o governo timorense vem promovendo uma reforma progressiva dos currículos escolares. Tal reforma visa introduzir o ensino do português desde os primeiros anos de alfabetização, como contempla o Projeto de Reintrodução da Língua Portuguesa em Timor-Leste (PRLP), implementado através do decreto do Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional (PED).

O PED determina o uso dos idiomas maternos enquanto língua intermediária para a aprendizagem das línguas oficiais, pois o tétum não possui um léxico publicado, uma terminologia técnico-científica.

Tendo sempre em vista melhorar o acesso à educação e criar bases sólidas em termos de literatura e escrita em português e tétum,"os idiomas locais serão usados como idiomas de ensino e aprendizagem, no primeiro ciclo do ensino básico, proporcionando uma transição suave para a aquisição das línguas oficiais de Timor Leste, de acordo com as recomendações da Política de Ensino Multilíngue baseada nas Línguas Maternas para Timor-Leste.”

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