PROSSEGUEM AS NEGOCIAçõES EM PORTUGAL

PCP intensifica a pressão sobre o PS: "Só não formará governo se não quiser"

No editorial do último Avante, o órgão do comité central, o Partido Comunista Português acusa o presidente da República de estar a trabalhar para a continuidade da direita no governo.

PCP
photo_camera Imagem do último congresso do PCP

Os 17 escanos da CDU, a coligação liderada polo PCP, são chave para fazer governo de esquerda no palácio de São Bento. A adição PS (86 assentos) e Bloco de Esquerda (19) ficaria aquém dos 106 escanos obtidos o 4 de Outubro por Portugal à Frente. Esta quarta feira já foram apurados os votos dos distritos da emigração. A abstenção ultrapassou o 88% e os 4 escanos da diáspora distribuíram-se assim: 3 para a plataforma da direita e 1 para o PS. Não altera isto nada o balanço de forças na câmara: o arco que viesse dar suporte a um governo de esquerda atingiria 122 assentos, 6 por cima da maioria absoluta.

Mas as coisas não são assim de fáceis. Continuam as intensas pressões por todos os flancos sobre o PS, que ainda não tem tomado uma decisão definitiva a respeito do que fazer, embora seu secretário geral, António Costa, se inclinar pelo acordo com Bloco e CDU. Esta quarta feira, a RTP, a televisão pública, entrevistou o eurodeputado socialista Francisco Assis, velho aspirante, já derrotado face António José Seguro, à secretaria geral. Não só amostrou a sua disposição a lutar pela liderança do partido como também discutiu a virada à esquerda sugerida estes dias por António Costa. A aposta em Assis não é ir ao governo, mas se manter na oposição à Portugal à Frente (o que necessariamente supõe deixá-lo governar: sem os votos do PS na câmara -no mínimo a abstenção- Passos Coelho não poderia obter a aprovação do seu programa de governo).

António Costa ressalva que se tem deitado por terra o "muro" que desde 1975 fez impossível a comunicação entre PS e PCP

O secretário geral do PS esteve em Bruxelas e manteve o básico do seu discurso. O mais salientável, a ênfase em dizer que nestes dias se tem deitado por terra o "muro" que incomunicou desde o ano 1975 os distintos blocos da esquerda, a social-democracia que representa o seu partido e o marxismo do PCP. Este depoimento significa rachar com uma política quase estrutural do PS, marcada naquela altura, apenas um ano após a revolução dos cravos, por Mário Soares, com muito o vulto mais destacado na história do partido. Com o derrubo desse "muro" poderia chegar o acordo parlamentar que viesse permitir a formação dum governo presidido por Costa.

Aliás, a aliança não vai ser "fácil", ressalva o PCP num editorial publicado esta quinta feira no Avante. Isto não significa que a formação comunista não esteja disposta a viabilizar a constituição dum executivo socialista. Sim que o está. De facto, o editorial do Avante diz com clareza: O PS só não formará governo se não quiser, tendo que escolher entre dar aval e apoio à formação de um governo PSD/CDS ou tomar a iniciativa de o formar já que tem garantidas condições para a sua formação e entrada em funções.

O Avante denuncia, aliás, a cumplicidade dos meios e também do presidente da República com os movimentos de distintos actores em favor da continuidade do governo de direita.

Comentarios