Multidão acompanha funeral das ativistas curdas assassinadas em Paris

Um milhão de pessoas despediu-se em Diyarbakir, a cidade capital do Curdistão turco, das três ativistas pelos direitos do povo curdo assassinadas recentemente em Paris.
Enterro activistas curdas en París
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Selahttin Demirtas, presidente do Partido da Paz e da Democracia, representado no Parlamento turco, declarou que o crime não irá deter os curdos de lutarem pela paz. O primeiro ministro curdo, Recyp Erdogan, ameaçou que as ações militares irão continuar.

As urnas transportando os restos mortais de Salikine Cansiz, Fida Dogan – que completaria 33 anos esta quinta-feira – e Leyla Solemez, cobertas de cravos vermelhos e com a bandeira do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), de que as ativistas eram militantes, percorreu as ruas de Diyarbakir através da multidão que afluiu à cidade deslocando-se de várias regiões da Turquia.

O funeral transformou-se em mais uma grande manifestação pela paz e pelo reconhecimento dos direitos nacionais da minoria curda, que representa atualmente 20 por cento da população da Turquia. "O PKK é o nosso partido, viva Apo", gritaram os manifestantes à passagem do cortejo fúnebre invocando pelo diminutivo o nome do dirigente do PKK, Abdullah Oçalan, condenado a prisão perpétua e preso pelas autoridades turcas em isolamento numa ilha do Mar da Mármara.

"O funeral transformou-se em mais uma grande manifestação pela paz e pelo reconhecimento dos direitos nacionais da minoria curda",


"Estas três mulheres dedicaram as suas vidas ao povo curdo", disse Gulistan, trabalhador da construção civil citado pela agência Reuters. "Não temos confiança na Turquia", acrescentou. Milhares de manifestantes tinham esperado desde muito cedo na quarta-feira a chegada das urnas com os restos mortais das três vítimas ao aeroporto de Diyarbakir. Muitas lojas da cidade estiveram encerradas em sinal de luto durante o dia de quinta-feira.

No Senegal, onde se encontra de visita, o primeiro ministro islamita turco, Recyp Erdogan, declarou que as operações militares no Curdistão, como as que ocorreram nas últimas horas incluindo bombardeamentos aéreos, vão continuar "enquanto o PKK não depuser as armas".

Erdogan sabe, porque os seus enviados têm estado em conversações com Oçalan, que o PKK não reclama já a criação de um Estado independente curdo mas sim o reconhecimento dos direitos da população curda da Turquia, designadamente a utilização comum da sua língua nas escolas e na comunicação social e o fim de todas as formas de discriminação política, social e cultural.

As autoridades francesas continuam em silêncio quanto às investigações que prometeram realizar sobre o assassínio das três mulheres, que fonte policial no local do crime qualificou como provável "execução".

"As autoridades francesas continuam em silêncio quanto às investigações que prometeram realizar sobre o assassínio das três mulheres",

O assassínio decorreu numa altura em que decorriam negociações entre o governo de Ancara e Oçalan. Sabe-se que, no quadro institucional turco, as forças armadas e os serviços de segurança nem sempre têm estado em sintonia com o atual governo islamita em relação aos passos dados na questão curda, destacando-se desde sempre, incluindo os períodos da ditadura militar, pela repressão absoluta dos direitos curdos.

A questão turca é, por outro lado, muito sensível para os Estados Unidos, as potências europeias, a NATO e também para Israel, que desenvolve presentemente intensa atividade diplomática para se aproximar de Ancara. A diplomacia israelita admite, segundo informações divulgadas nas últimas horas pelas agências, enviar uma carta de desculpas à Turquia pelo assassínio de nove cidadãos turcos da Flotilha da Liberdade para Gaza.

A Turquia tem atualmente um protagonismo reforçado em relação ao Médio Oriental, devido ao seu papel como base da intervenção internacional que alimenta a guerra civil para provocar a mudança de regime na Síria e também à sua importância na estratégia de ameaças e isolamento contra o Irão.

Razões como estas fazem com que as constantes violações dos mais elementares direitos humanos do povo curdo pelo regime da Turquia não provoquem reações das principais instâncias internacionais.

Artigo tirado de Esquerda.net

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