Governo português adia privatização da RTP e quer despedir centenas de trabalhador@s

O Governo português decidiu adiar a privatização da RTP e anunciou um processo “doloroso” de reestruturação da empresa. Segundo o Diário Económico, o Governo quer despedir 620 trabalhador@s
photo_camera [Foto: SG]


A CT da RTP considera que o adiamento da privatização é “uma grande derrota do ministro” e, quanto à reestruturação, afirma que “os trabalhadores da RTP sempre acharam que a empresa deveria chegar ao século XXI”, mas não aceitam “uma reestruturação para o serviço público e para os postos de trabalho”.

Em entrevista à RTP, o ministro dos Assuntos Parlamentares, que tem a tutela da empresa, confirmou o adiamento da privatização. Miguel Relvas garantiu, no entanto, que a proposta do Governo continua a ser a privatização do canal público, tendo afirmado: "Garanti e garanto, mantém-se aquela que é a proposta que está no programa do Governo", que é a "privatização de um canal".

Para justificar o adiamento, Relvas disse que a queda de publicidade no último ano foi "muito significativa e a avaliação que foi feita e os estudos que realizámos" foram no sentido de não criar condições que destruam o setor da comunicação social no país.

Alguns órgãos de comunicação referem que a decisão de adiamento foi tomada em reunião entre Passos Coelho e Paulo Portas. Questionado na RTP sobre se o adiamento se deve à oposição do ministro dos Negócios Estrangeiros, Miguel Relvas disse: "Não há decisões do ministro A ou do ministro B". Em entrevista ao Diário Económico desta sexta feira, Relvas lamenta, no entanto, o adiamento.

Na entrevista, o ministro anunciou também um processo “doloroso” de reestruturação e modernização que custará 42 milhões de euros. Disse ainda que a RTP custou no ano passado 540 milhões de euros e que a partir de 2014, só receberá o montante recolhido com a taxa de audiovisual e com as receitas de publicidade.

Segundo o Diário Económico, a reestruturação da RTP que o Governo quer fazer significa o despedimento de 620 pessoas, entre 2013 e 2014, sendo mais de 300 no centro de produção do Norte.

"Foi uma grande derrota do ministro”

"Foi uma grande derrota do ministro e foi uma grande vitória para os trabalhadores da RTP e para todos os trabalhadores da comunicação social que nos apoiaram nesta luta e para as pessoas da sociedade civil que perceberam que a RTP é um bem essencial à democracia em Portugal", afirmou Camilo Azevedo da CT da RTP à agência Lusa.

Sobre a reestruturação, o porta-voz da CT declarou à Lusa: "Os trabalhadores da RTP sempre acharam que a empresa deveria chegar ao século XXI e, para isso, precisa de ser reestruturada e modernizada. Agora não aceitamos uma reestruturação para o serviço público e para os postos de trabalho".

Entretanto, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera que o processo de reestruturação está “ferido de clara ilegalidade”, porque as organizações representativas dos trabalhadores não foram ouvidas, sublinhando o seu presidente "que devem ser ouvidas ainda numa fase muito precoce".

O presidente do SJ, Alfredo Maia, considera ainda que o adiamento da privatização resulta da "pressão" dos operadores privados de televisão, mas também de um "fortíssimo movimento da opinião pública", que envolveu "inúmeras personalidades" da sociedade civil.

Também em declarações à Lusa, o realizador António Pedro Vasconcelos, porta-voz do manifesto “Em Defesa do Serviço Público de Rádio e de Televisão", afirmou: "A não privatização é a única atitude sensata, por razões mais que óbvias. O que é pena é que o Governo tenha levado um ano e meio a decidir uma coisa óbvia". António Pedro Vasconcelos disse ainda à Lusa que teme que a reestruturação seja um “eufemismo para despedimentos” de trabalhadores, depois da "degradação visível" na estação pública, em virtude das incertezas e dúvidas em torno do seu futuro.

(Artigo tirado de Esquerda.net) 

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