A ALA CENTRISTA DO PARTIDO RECUSA UMA ALIANçA COM BLOCO E CDU

Deputado do PS demite-se por temor a que Costa faça um governo de esquerda

Tensões na direção do partido socialista: a ala mais conservadora e pro-UE acha que o secretário geral, António Costa, está a tentar fazer um governo com o apoio parlamentar do Bloco e a CDU.

Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS
photo_camera Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS

Os movimentos dos últimos dias de António Costa -teve reuniões com as direções do Bloco e a CDU- deram a entender a um sector do Partido Socialista que o seu secretário geral contempla a hipótese de não viabilizar a formação dum governo de Portugal à Frente, a coligação da direita que é a minoria maioritária na Câmara (com 104 escanos, a 12 da maioria absoluta).

Já desde a mesma noite eleitoral, as forças da esquerda real -que no seu conjunto têm 36 assentos em São Bento, 19 o Bloco e 17 a CDU- amostraram a sua disposição para viabilizar um governo do PS sempre e quando estivesse disposto a rachar com as políticas ditadas pela Troika. Bloco e CDU concordaram em dizer que o PS teria o governo se tiver vontade política de mudança.

Costa olha todas as hipóteses, que em realidade são duas: abster-se na votação do programa de governo de Passos Coelho ou votar em contra e rumar face uma negociação com o Bloco e a CDU

Este discurso aparentemente tem dado no alvo e neste momento o secretário geral do PS estaria a olhar para todas as hipóteses, que em realidade são duas: abster-se na votação do programa de governo de Passos Coelho -tentando suavizar as suas políticas pro-Memorando- ou votar em contra e rumar face uma negociação com o Bloco e a CDU para um governo de esquerda.

Só o facto de Costa não descartar esta opção está na origem da demissão como membro do Secretariado Nacional do partido de quem até hoje tem sido um dos seus mais fieis colaboradores, o deputado Sérgio Sousa Pinto, ex líder da Juventude Socialista e no seu momento lugar-tenente do ex alcalde de Lisboa quando este manobrou para tombar da secretaria geral a António José Seguro.

Sousa Pinto evoluiu desde as posições mais de esquerda dentro do PS até zonas partidárias mais tépidas. Centrista, critica agora que Costa olhe para a hipótese dum acordo parlamentar com Bloco e CDU quando, alega, estes partidos não estão disponíveis para entrarem no governo.

O problema para António Costa, claro, não está focalizado só numa pessoa: Sousa Pinto representa a ala que prefere um acordo com Portugal à Frente, dentro da ortodoxia da zona euro, antes do que explorar qualquer hipótese de aliança com Bloco e CDU.

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