Convenção do Bloco: "Sim, queremos ser governo"

O Bloco de Esquerda patentizou a sua vontade de ser força de governo após as eleições de 2019 numa Convenção Nacional que referendou o liderado de Catarina Martins. A formação esquerdista pôs, porém, condições a uma sua eventual entrada no executivo, entre elas a revogação do Tratado Orçamental da UE que coloca a soberania portuguesa sob o controlo de Bruxelas.

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photo_camera Um momento da sessão de clausura da Convenção.

"Perguntam-nos se queremos ser governo. Sim, queremos ser governo. Perguntam-nos se vamos ser governo? Estamos prontos, camaradas, estamos prontos!”, disse durante a convenção um dos principais vultos do Bloco, a parlamentar e economista Mariana Mortágua.

O da eventual participação do Bloco —com o PCP, apoio actual do Governo do PS na Assembleia da República— no executivo foi o debate básico da XI Convenção Nacional da formaçao da esquerda rupturista, que decorreu durante toda a passada fim de semana em Lisboa.

Catarina Martins, a líder re-eleita, quis deixar claro que o Bloco quer estar no governo, mas não a qualquer preço. "Disse há dois anos, no fim da convenção anterior, que toda a política é luta pelo poder e pelo governo. Aqui está: esta é a nossa luta pelo governo", disse na sessão de clausura da assembleia. Em todo caso, o Bloco só asumiria responsabilidades executivas numa eventual coligação com o PS se o partido socialista estiver disposto a assumir um ambicioso elenco de pontos programáticos que em teoria não fazem parte da tradição da organização de António Costa, o mais salientável sem dúvida a denúncia do Tratado Orçamental da UE.

O Bloco tem analisado que desde a ortodoxia de Bruxelas —a Comissão intervém nas políticas orçamentais dos estados como se está a ver estes dias com Itália— não é possível a realização de políticas de ruptura real com o neoliberalismo. Isso não quer dizer que não se possam fazer coisas desde a Assembleia da República, como se fez durante estes anos de respaldo parlamentar a António Costa. Com um PS com maioria absoluta, esclareceu Martins, "os pensionistas hoje estariam pior e os trabalhadores estariam pior".

Política europeia à margem, o Bloco entraria no governo apenas se é para realizar uma "reforma estrutural do Serviço Nacional de Saúde" que reverta as políticas de corte do gasto e as privatizações practicadas nos últimos anos, bem como para estabelecer um controlo público da banca e da energia e para avançar num modelo ambiental que não dependa do consumo do petróleo.

Um Bloco coeso

A Convenção deitou a imagem dum Bloco muito unificado por volta das teses oficiais.

A moção do núcleo dirigente do partido obteve 459 votos das e dos congressistas, enquanto que os textos críticos apenas arrecadaram 49 sufrágios (40 os da moção M e 9 os da C).

Quanto às votações para a Mesa Nacional, a direção saínte conseguiu 457 votos, 70 mandatos, enquanto que o sector crítico só teve 62 apoios, 10 mandatos.

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