Os ‘conspiranoicos’ tinham razão: Tesouro EUA e banqueiros intrigaram para eliminar regulação financeira no planeta

Greg Palast, autor de vários artigos de investigação para a BBC, o Observer e o Guardian, divulga o conteúdo de um memorando que demonstra que, em finais dos anos 90, os mais altos representantes do Tesouro dos EUA “conspiraram secretamente” com alguns dos mais importantes banqueiros para “eliminar a regulação financeira em todo o planeta”.

“O memorando confirmou todas as fantasias dos fanáticos por conspirações”: em finais dos anos 90, os mais altos representantes do Tesouro dos Estados Unidos da América (EUA) “conspiraram secretamente” com alguns dos mais importantes banqueiros para “eliminar a regulação financeira em todo o planeta”, avança Greg Palast.

A jogada seria “eliminar, de uma vez só, o controlo sobre os bancos em todas as nações do planeta”

O oficial do Tesouro em causa era Larry Summers, considerado, por Barack Obama, como o candidato ideal para a presidência da Reserva Federal dos EUA (Fed). “Se o memorando confidencial é autêntico, então Summer não deveria integrar a Fed, ele deveria cumprir uma pena pesada em alguma masmorra reservada aos criminosos dementes do mundo das finanças”.

“O memorando é autêntico”

Greg Palast adianta, entretanto, que, de facto, o memorando é autêntico, e aponta que o mesmo começa com o “lacaio de Larry Summers, Timothy Geithner, a lembrar o seu chefe de ligar aos figurões da banca para darem ordem de marcha aos seus exércitos de lobistas”.

“À medida que entramos no jogo final das negociações de serviços financeiros da Organização Mundial de Comércio, creio que seria uma boa ideia conferenciar com os CEO...", refere o documento, que enumera os contactos privados dos representantes do Goldman Sachs, Merrill Lynch, Bank of America, Citibank e Chase Manhattan.

Segundo explica o jornalista e investigador de fraudes corporativas, em 1997, o secretário do Tesouro Robert Rubin empenhava-se em desregular os bancos, o que requeria a revogação do Glass-Steagall Act, por forma a desmantelar a barreira entre os bancos comerciais e os bancos de investimento. Por outro lado, os bancos queriam jogar um “jogo de alto risco: a transação de produtos derivados”.

Larry Summers, então secretário adjunto do Tesouro, que viria a substituir Rubin como secretário, bloqueou qualquer tentativa de controlar os derivados.

“Mas qual era a utilidade de transformar os bancos americanos em casinos de derivados se o dinheiro voaria para outras nações com leis bancárias mais seguras?”, questiona Palast, replicando que a jogada seria “eliminar, de uma vez só, o controlo sobre os bancos em todas as nações do planeta”.

Para consegui-lo, Summers e os banqueiros planearam usar o Acordo sobre Serviços Financeiros (FSA), no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), forçando as nações a aceitar o comércio de ativos tóxicos e a abrir os seus mercados ao Citibank, JP Morgan e aos produtos derivados.

Conforme refere Greg Palast, coube a Timothy Geithner, que foi nomeado embaixador na OMC,transformar a FSA no instrumento dos banqueiros.

“O novo FSA tirou a tampa da caixa de Pandora do comércio mundial de derivados”, frisou Palast, apontando como exemplo o facto de o Golden Sachs (onde o secretário do Tesouro Rubin foi copresidente) ter negociado com a Grécia um contrato swap baseado em produtos derivados que, em última análise, “destruiu aquela nação”.

No seu artigo, Greg Palast enfatiza que Rubin, após deixar o cargo de secretário do Tesouro, foi diretor e depois presidente do Citigroup, de onde saiu com um total de 94 milhões de euros, e, posteriormente, tornou-se num dos principais benfeitores da campanha do então jovem senador estadual Barack Obama.

Summers tornou-se consultor financeiro de Obama após a sua eleição e, em 2010, voltou a prestar consultadoria ao Citibank e “a outras criaturas de desregulamentação bancária”,cujos pagamentos têm alimentado o seu património líquido de 23 milhões de euros. Geithner assumiu a secretaria de Estado do Tesouro.

O facto de Obama vir agora, “a pedido de Robert Rubin, escolher Summers para encabeçar a Fed significa que, infelizmente, estamos longe do fim do jogo”, remata Palast.

Tirado de Esquerda.net

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