António Costa afirma que o euro “tem fracassado como instrumento de convergência”

O Governo do PS começa a assumir um discurso crítico a respeito do euro, mas não até o ponto de demandar a saída de Portugal do espaço monetário europeu.

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photo_camera António Costa

Nunca nos últimos 30 anos teve Portugal um governo tão crítico com Bruxelas como o que neste momento lidera o PS com o apoio parlamentar de Bloco e PCP. Em pleno debate sobre os orçamentos para 2017, o primeiro ministro, o socialista António Costa, questionou esta sexta feira o euro como factor de convergência.

“É indiscutível que nos 30 anos de participação de Portugal en Europa nós tivemos 15 anos de forte convergência e temos tido os segundos 15 anos [desde que entrou em circulação o euro] duma prolongada estagnação onde temos alternado crescimentos bastante medíocres com épocas de recessão”, afirmou o primeiro ministro na Assembleia da República.

Costa frisou ainda que “hoje é reconhecido por todos” o facto de o euro ter “fracassado como instrumento de convergência”. Pelo contrário, salientou, “tem sido um instrumento de divergência”.

A economia portuguesa tem divergido da europeia durante os últimos quinze anos por culpa do euro, admite Costa

O dirigente socialista recorreu ao premio Nobel de Economia Joseph Stiglitz como fonte de autoridade -o norteamericano publicou um estudo sobre esta matéria- à hora de defender o estabelecimento dum “conjunto de reformas” na zona euro que permita a retoma do crescimento às economias do sul da UE.

Em realidade, Costa está entalado numa contradição: reconhece por um lado as falências do euro, mais pelo outro reclama reformas para “fortalecer a zona euro” e para a tornar num espaço de convergência e não de divergência.

A mesma contradição tem-na no debate orçamental: para o fazer aprovar precisa à vez do placet de Bruxelas e do Bloco e PCP, as forças da esquerda que, nomeadamente a comunista, são muito críticos com a existência do euro (a formação liderada por Jerónimo de Sousa até defende preparar o país para abandonar a moeda comunitária).

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