UNHA ESCOLMA DO PAPEL

“A UE concentra a riqueza e a atividade económica, e marginaliza naçons da periferia como Galiza”

Os graves efeitos das políticas anti-sociais impulsadas pela Troika, da que fam parte a Comissom Europeia e mais o Banco Central Europeu canda o Fundo Monetário Internacional, voltarom pór no primeiro plano o debate arredor da Uniom Europeia e da sua moeda única. O economista Bernardo Valdês explica que consequências tivo para Galiza a entrada do Estado Espanhol e achega algumhas chaves para resolver as principais questons arredor do papel da Galiza en Europa

bernardo
photo_camera Bernardo Valdês

-Som frequentes as denúncias de que a entrada do Estado espanhol na UE supujo un golpe impor- tante contra os setores produtivos galegos (pesca, agro, indústria...). Que efeitos tivo neles?

-Evidentemente a repercussom nom foi idêntica para todos os sectores, umha resposta rigorosa exigiria analisar os distintos sectores. Porém creio que umha visom global permitenos constatar que a nossa economia perdeu peso de forma significativa desde a nossa integraçom: passamos de 9% do emprego do Estado a menos de 6% em 2008, antes do estalido. Estes três pontos de menos equivalem a médio milhom de postos de trabalho.

-Porén, há quem contrapom os fundos de cohessom e outras ajudas. Trouxo algumha vantagem para Galiza?

-Nom devemos desprezar o papel dos fundos estruturais. Sem embargo tampouco devemos cair numha visom simplista. Lembremos que os fundos estruturais tenhem umha dotaçom mínima no conjun- to da economia comunitária. Em muitos casos acabam beneficiando o centro económico e as grandes empresas ao destinase à compra de bens ou serviços que elas vendem ou facilitando a penetraçom do capital exterior. Ademais, no caso do Estado Espanhol em numerosas ocasions desviáromse recursos que teoricamente deveriam servir para as zonas menos desenvolvidas cara outras áreas, por exemplo Madrid.

Por último é importante ter em conta que numha economia de mercado como a comunitária os fluxos económicos privados som muito superiores aos públicos. Nom se pode analisar a dinâmica dos desequilíbrios territoriais a partir unicamente das despesas públicas sem ter em conta os fluxos privados, muito mais importantes quantitativamente.

-A denominada 'Europa das duas velocidades' é resultado dumha política ou está no cerne do modelo da denominada construçom europeia?

-Acho que nom há dúvida, está no seu próprio cerne. A liberdade de circulaçom de mercadorias, serviços, capitais e força de trabalho facilita a concentraçom da produçom e reforça o poder das transnacionais. É um desenho que concentra a riqueza e a atividade económica, que marginaliza a naçons da periferia económica como Galiza.

Ademais as políticas comunitárias, o destino do seu orçamento, nunca permitiu concluir que a correçom dos desequilíbrios fosse um objetivo relevante.

Este modelo de construçom comunitária foi inicialmente partilhado por todas as forças políticas e sindicais estatais. Nom só a integraçom na CEE senom o mesmo Acto Único Europeu, todo um trunfo para o neoliberalismo, foi apoiado entusiasticamente polos partidos estatais (AP/PP, PSOE, IU).

-De que maneira as políticas comunitárias e o mesmo modelo da UE favorecerom a implantaçom do grande capital-monopolista? Que consequências tem isso para a nosa economia?

-A esse modelo que favorece a concentraçom, podemos somar-lhe muitas decisons que beneficiam as grandes empresas e as zonas mais desenvolvidas. Som muitos os casos que poderíamos citar (naval, pesca,...). Por citar um, pensemos na que é a principal política de gasto da UE, a Política Agrária Comum, arredor de 40 por cento do orçamento comunitário. Som uns fundos com umha distribuiçom muito injusta social e territorialmente e que prejudicam especialmente Galiza introduzindo umha grande “desvantagem competitiva” para as exploraçons galegas. Nom existe livre mercado, há decisons políticas, em muitos casos partilhadas no Estado español por todos os partidos estatais, que discriminam a agricultura galega.

-As políticas da Troika, das que participa a UE, respondem também a um desenho territorial (castigo à periferia do Sul e do Leste...)?

-Há muito tempo que o marxismo mostrou que o capitalismo se desenvolve criando desigualdades, sociais e também territoriais. O desenvolvimento do centro nom causa o desenvolvimento da periferia, ao contrário pode acentuar a subordinaçom. Há muito tempo que Lenine falou de imperialismo e outros o figérom antes. Algo que a esquerda estatal esquece interessadamente.

As políticas da Troika, em boa medida continuidade de políticas anteriores, som mais umha mostra do submetimento das instituiçons comunitárias, com o engadido do FMI, aos interesses do capital com as consequências conhecidas em termos sociais e territoriais.

-Que papel joga a moeda única em todo isto?

-A integraçom de realidades económicas muito heterogéneas numha uniom monetária, eliminando polo tanto da caixa de ferramentas económicas dos Estados a política monetária ou cambiária, com um orçamento da Uniom insignificante que nom permite corrigir os desequilíbrios, deu lugar a graves problemas que a crise pujo ao descuberto com toda a sua virulência. Problemas que eram conhecidos anteriormente, numerosos informes alertavam sobre os riscos.

A criaçom da moeda única nom contribuiu a corrigir os desequilíbrios na zona euro. Ao contrário o défice comercial dos Estados menos “competitivos” aumentou notavelmente. No EE houvo um forte incremento do défice comercial, chegou a ser superior a 10% do PIB. Um défice que dificilmente alcançaria semelhante nível se o EE nom adoptasse o euro. Ademais o Tratado de Mäastricht limitava as possibilidades de actuaçom através do gasto público para corrigir os desequilíbrios.

Se o défice comercial da periferia aumentava, outros Estados beneficiavam-se dum notável incremento do seu superávit, entre eles Alemanha. As duas caras da mesma moeda.

Criou-se também o Banco Central Europeu que tem proibida a concessom de créditos aos Estados-Membros. Estes em caso de necessitarem fundos devem acudir ao “mercado”, criou-se umha nova fonte de negócio para o capital financieiro e favoreceu-se a espiral de endividamento público.

-Há quem aponta como paso necessário abandonar o euro, e mesmo a UE, para resolver a crise de maneira favorável aos interesses da maioria social. Que opina?

-Paul Krugman afirmou que ao Estado Espanhol lhe iria melhor se no seu momento nom adoptasse o euro, ao que acrescentava que, umha vez dentro, está prisioneiro do euro, o que o deixa sem nengumha boa opçom, referindo-se com isto à escolha entre permanecer no euro ou abandoná-lo.

As políticas da Troika som mais umha mostra do submetimento da UE aos interesses do capital

Efectivamente os custos de ambas opçons som elevados. Porém, acho que o debate nom deveria situar-se tanto na questom de euro sim ou euro nom, mas nas políticas económicas que se devem adoptar. Desde umha óptica galega, a soluçom é volver à peseta e às políticas económicas (fiscais, monetárias, industriais, agrárias,...) anteriores à entrada do euro? Creio que nom. Agora bem, a dia de hoje é difícil pensar que dentro do marco institucional do euro é possível mudar radicalmente as políticas.

-Até que ponto a arquitectura política da UE e o euro som atrancos para o exercício da soberania dos Estados membro?

-Muitas vezes quando se fala de soberania ou de direito a decidir dá-se umha visom reduzionista destes conceitos, limitando o direito a decidir à possibilidade de celebrar um referendo sobre a possibilidade de independizar-se ou nom. Nesta visom é evidente que o principal obstáculo ao exercício do direito a decidir nom está no ámbito comunitário mas no estatal.

A nossa economia perdeu força de forma significativa desde a nossa integraçom na UE

Sem embargo, nom se deve cair nessa visom reduzionista, mais desde posiçons progressistas, no âmbito económico a soberania implica a plena capacidade para decidir sobre os nossos recursos. Neste sentido a soberania dos povos é um estorvo para o grande capital. Dai o interesse do grande patronato em afastar o poder de decisom dos povos, em consolidar a UE. A centralizaçom do poder económico e as políticas contrárias à maioria social vam da mao. De facto a crise está sendo aproveitada na UE para tentar dar mais umha volta de porca na centralizaçom do poder político, particularmente no âmbito das políticas económicas.

-Na sua opiniom, o actual modelo de UE é refor- mável ou pola contra exixiría umha emenda à totalidade?

-A arquitectura institucional da UE e a dinâmica política nos diferentes Estados-Membros fam que pensar numha reforma progressista da UE resulte a dia de hoje umha questom de fé. Como povo na vez de seguir tendo fé no que decidem fora (em Madrid, Bruxelas, Berlim...) deveriamos acreditar mais em nós mesmas/os.

Esta entrevista viu a luz no número 39 do A Fondo, o caderno de análise do Sermos e fixo parte do número 69 do semanario, publicado a 17 de outubro de 2013

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