Análise

Sem respirar

Bernardo Valdês Paços, economista e membro do grupo de investigaçom Ecoagrasoc da USC, prosegue o ciclo de análises económicas de 'Nós Diario'.
No útimo ano, 2021, Iberdrola vem de conseguir lucros recordes na sua história, mais de 3,9 mil milhons de euros. (Ilustraçom: Human)
photo_camera No útimo ano, 2021, Iberdrola vem de conseguir lucros recordes na sua história, mais de 3,9 mil milhons de euros. (Ilustraçom: Human)

Em 2009 Núñez Feijoo e Sánchez Galán, presidente de Iberdrola abraçavam-se. Celebrava o primeiro a sua maioria absoluta. Assegurava o segundo um G+overno amigo à frente da Administraçom galega, amável com os interesses da sua empresa.

O PP (ao igual que tentou fazer o PSOE desde a própria Xunta) garantia umha regulaçom favorável às grandes empresas do sector que começou com a derrogaçom do concurso eólico impulsado polo BNG. Um plano exigente meio ambientalmente, que previa a participaçom pública nos lucros, obrigando ademais aos beneficiários a investir em planos industriais.

Lembremos por exemplo o projeto Ventos Cooperativos, participado por quatro cooperativas lácteas, ao que lhe fórom adjudicados em 2008 perto de 200 MW. Um primeiro passo na criaçom dum grande grupo lácteo galego. Há catorze anos e seguimos sem contar com esse grande grupo industrial lácteo, as granjas galegas seguem recebendo o preço mais baixo do Estado Espanhol, a nossa capacidade para produzir energia segue ao serviço dos grandes grupos empresariais e nom da sociedade galega.

Lucros recordes

No útimo ano, 2021, Iberdrola vem de conseguir lucros recordes na sua história, mais de 3,9 mil milhons de euros. Umha notícia que seguramente alegrou a Núñez Feijoo, ao igual que a García Tejerina (antiga ministra de agricultura) ou a Acebes (antigo ministro de interior), agora membros do conselho de administraçom da empresa.

Umha empresa amplamente participada polo capital financeiro (Qatar Investment, BlackRock, Société Générale, Capital Research, Norges Bank...). Nom é a única energética, as outras grandes do sector que formam parte do Ibex 35 também vírom aumentar notavelmente os seus resultados empresariais. Todas elas com um peso determinante do capital financeiro no seu acionariado. Mesmo em Endesa cujo principal acionista é Enel, cujo principal acionista é o Estado italiano, mas na que o capital financeiro, principalmente estadunidense, tem um papel destacado. Nom é extranho achar investidores institucionais com partipaçom no capital de mais dumha estas empresas.

BlackRock administra ativos valorados em mais de 8 bilhons de euros

É o caso de BlackRock, que administra ativos valorados em mais de 8 bilhons de euros, o que lhe permite ter umha participaçom determinante em empresas com um valor muito superior a essa cifra. No Estado espanhol, ademais das grandes energéticas, também tem umha significativa participaçom no capital do BBVA, do Banco de Santander, de Caixabank ou de Telefónica, entre outras. 

Suba da fatura

Um crescimento dos seus lucros que acompanhou a suba da fatura da eletricidade e dos combustíveis. Enquanto P. Sánchez prometia que a fatura da luz no conjunto de 2021 ia ser similar à de 2018 para um consumidor médio, o preço da eletricidade no mercado maiorista marcava umha tendência claramente à alça desde Maio de 2021.

Umha tendência que continuou, segundo FACUA o recibo médio dum fogar com PVPC (preço voluntário ao pequeno consumidor) em Março de 2022 foi 149% mais elevado que um ano antes. Um incremento que está castigando a muitas empresas pondo em causa a sua continuidade. Ao igual que o número de fogares com dificuldades para pagar a fatura elétrica aumentou consideravelmente.

De 2019 a 2020, segundo o MITECO, o retraso no pagamento das faturas da luz passou de afetar 6,6% a 9,6% da populaçom, enquanto a dificuldade para manter umha temperatura adequada na vivenda subiu de 7,6% a 10,9. O Ministério nom publicou ainda os dados de 2021, mas um estudo da OCU informa dum notável incremento do número de fogares com dificuldades para fazer frente a gastos como a eletricidade ou o aquecimento.

Os fundos de investimento BlackRock, Qatar Investment e CVC Capital Partners possuem açons que representam 6% do valor do Ibex 35

Nom fórom as energéticas as únicas, o conjunto das empresas do Ibex 35 alcançou um resultado recorde em 2021, mais de 58 mil milhons de euros, multiplicando por mais de dous o resultado de 2019, o ano anterior ao início da pandemia. Mais umha vez falamos de empresas amplamente participadas polo capital financeiro. Segundo Expansión a carteira de açons dos investidores institucionais, fundamentalmente de fora do Estado Espanhol, aumentou 30% ao longo de 2021, até alcançar 78,4 mil milhons de euros em açons de empresas do Ibex 35. O início do crescimento da participaçom destes investidores está intimamente relacionado com o processo de privatizaçons começado polo PSOE e continuado polo PP, Endesa, Repsol, Gas Natural (Naturgy), Argentaria (BBVA) ou Teléfonica por lembrar só alguns nomes.

Só três desses fundos de investimento, BlackRock, Qatar Investment e CVC Capital Partners possuíam açons que representam 6% do valor do Ibex 35 de acordo à informaçom publicada por Expansión. Nada mais longe da realidade que a visom do capitalismo como um mundo de concorrência. O capitalismo é monopólio e domínio do capital financeiro, o crescente poder dumha oligarquia financeira que engorda enquanto nos deixa sem respirar.

O crescimento dos lucros deste clube de grandes empresas contrasta com o facto de que em 2021 o PIB foi inferior ao de 2019. A economia estanca-se, mas o grande capital, a oligarquia financeira afiança o seu poder em detrimento da maioria.

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