Que modelo enerxético precisamos?

Factores ocultos da subida descontrolada dos preços

O economista Joám J. Romero Durán debulla nesta análise distintas teorías sobre as causas da inflación.
O keynesianismo concentrou a causa da inflação no aumento dos custos salariais e nas tensões no mercado de trabalho. (Foto: Álex Rozados).
photo_camera O keynesianismo concentrou a causa da inflação no aumento dos custos salariais e nas tensões no mercado de trabalho. (Foto: Álex Rozados).

No início do século XX, a teoria económica dominante considerava o capitalismo como um sistema eficiente e autorregulado que, em equilíbrio, conseguiria proporcionar emprego a qualquer pessoa que o desejasse. No período de pós-guerra, os monetaristas, conforme a teoria quantitativa do dinheiro, acreditavam que a inflação surge quando a oferta de dinheiro excede o aumento da oferta produtiva, reduzindo a sua natureza a um fenómeno monetário e culpando os bancos centrais por este desequilíbrio. Para além do desvio especulativo de grande parte da oferta monetária, a queda do consumo e do investimento produtivo devido à paralise pela pandemia, anulou a teoria monetarista. A oferta de dinheiro aumentou acentuadamente, mas o crescimento dos preços foi restringido.

Outra teoria muito influente após o colapso produtivo e subsequente miséria social pela Grande Depressão foi a keynesiana. Um novo paradigma, politicamente aplicável, baseado na dependência da despesa pública como motor da procura agregada, que estimularia o crescimento económico, o emprego e os rendimentos, alimentando a procura e que produziria um efeito multiplicador sobre a produção e o emprego. Contudo, este efeito inicial poderia ser atenuado. Ou, porque o aumento da despesa pública levaria a um défice e o consequente aumento das taxas de juro desencorajaria o investimento, ou, porque o incremento dos salários monetários poderia levar à inflação. Mais tarde, verificar-se-ia que a aproximação do pleno emprego poderia causar inflação. 

As pressões de custos desde a pandemia não têm vindo dos salários, mas de outros factores: energia, matérias-primas e insumos industriais

O keynesianismo concentrou a causa da inflação no aumento dos custos salariais e nas tensões no mercado de trabalho. Isto deu origem a propostas altamente atuais, tais como o chamado "pacto de rendimentos" do governo espanhol. Porém, a crise dos anos 70 confirmou a falência da teoria keynesiana: inflação com elevado desemprego, baixo crescimento e pobreza crescente, contradizendo o falso dilema entre inflação e desemprego representado pela curva de Phillips. 

O economista britânico Michael Roberts diz que a teoria dominante hoje em dia é a das expectativas inflacionistas, que fala de desemprego voluntário e da expectativa de inflação como determinante das pressões sobre os preços. Uma obsessão subjetivista que não se eleva acima do nível da propaganda.

Teorias alternativas

A ignorância do legado da teoria do valor-trabalho desacredita as teses monetaristas e keynesianas. Os preços de produção são determinados pela intervenção do trabalho na produção de valor. A causalidade na identidade monetarista MxV=PxT teria o sentido oposto. Os preços estabelecem a quantidade necessária de dinheiro em circulação, e não o contrário. Esta é a principal diferença entre o keynesianismo e a teoria marxista, que considera os salários como um custo de produção que determina o lucro. 

O crescimento económico adoita propicia maiores lucros frente a salários mais elevados. As pressões de custos desde a pandemia não têm vindo dos salários, mas de outros factores: energia, matérias-primas e insumos industriais. O capital necessita de certa inflação que absorva o aumento salarial e amplie o lucro. Logo, o aumento da oferta monetária pelos bancos centrais, ao serviço do capital, compensa parcialmente a tendência para o declínio da criação de valor através da capitalização tecnológica, porque reduz os salários reais. Assim, é a procura de investimento com fins lucrativos, ajudada por um aumento da oferta de dinheiro, que impulsiona a inflação. A economia produtiva continua a ser decisiva na determinação da inflação de base.

A pressão inflacionista seria condicionada pelo esforço de investimento, como uma relação entre investimento e lucro

Para além do aumento da oferta monetária, é a evolução dos lucros e da procura de investimento que irá exercer pressão sobre os preços. O professor Anwar Shaikh refuta empiricamente o dilema inflação-desemprego. A pressão inflacionista seria condicionada pelo esforço de investimento, como uma relação entre investimento e lucro. Isto explicaria a simultaneidade do estancamento económico, ou recessão, e da inflação, conhecida como estagflação, que ocorreu nos países desenvolvidos nas décadas de 1970 e 1980 e poderíamos estar a experimentar novamente.

Segundo Guglielmo Carchedi, investigador da Universidade de Amsterdão, as empresas tentam aumentar a produtividade laboral aumentando a composição orgânica do capital, reduzindo-se o valor contido em mais bens e gera uma pressão deflacionária subjacente sobre os preços, que pode ser corrigida por políticas monetárias. Existe uma taxa de inflação de valor que determina os preços de produção como resultado da acção combinada da evolução, dos lucros e da oferta de dinheiro. A correlação entre o valor e a inflação de preços torna-se evidente a longo prazo. Após 2020, a grande expansão da oferta monetária ultrapassou a queda generalizada dos salários e dos lucros, levando à inflação dos preços.

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