Fórum de debate

A dependência agroalimentar da Galiza

Bernardo Valdés, professor do departamento de Economia Aplicada da USC, prossegue o fórum de debate de 'Nós Diario' sobre soberania alimentar.
As empresas transnacionais teñen cada vez un maior control sobre a produción alimentaria, advirte o profesor da USC. (Ilustración: Álex Rozados)
photo_camera As empresas transnacionais teñen cada vez un maior control sobre a produción alimentaria, advirte o profesor da USC. (Ilustración: Álex Rozados)

Desde há décadas, a medida que avançou a denominada mundializaçom, os Estados centrais e os principais organismos económicos internacionais venhem apostado pola liberalizaçom do comércio internacional como a via para assegurar a segurança alimentar, combatendo a ideia da soberania alimentar das distintas naçons. As declaraçons de um membro do governo dos Estados Unidos mostram-no claramente:

"A evolução de certos países em vias de desenvolvimento para a auto-suficiência alimentar é um conceito duma outra época. Importando géneros alimentares dos Estados Unidos, esses países economizariam dinheiro. Uma abordagem moderna do comércio quer que as melhores fontes de alimentação do Terceiro Mundo sejam os grandes produtores mundiais destes produtos, como os Estados Unidos".

Um dos aspectos que caracteriza a mundializaçom é o surgimento de oligopólios mundiais num número crescente de sectores. O complexo agroindustrial nom foi uma exceçom a este processo. A transnacionais tenhem cada vez um maior controlo sobre a produçom alimentar. Os mercados de sementes, farmacêutico, de agroquímicos ou de alimentos estám fortemente concentrados. A liberalizaçom do comércio internacional acentuou o controlo das transnacionais sobre a cadeia agroalimentar.

A guerra de Ucrânia evidencia os riscos da manter umha forte dependência dos mercados internacionais para o abastecimento alimentar (alta dos preços, risco de desabastecimento), mas nom é algo novo. As duas bolhas nas quotizaçons internacionais das principais commodities agroalimentares, a finais de 2007, começos de 2008 e a finais de 2010, supugérom umha ameaça à segurança alimentar para numerosos países. A situaçom foi especialmente grave para os países com menores níveis de rendimento per capita e fortemente dependentes das importaçons para a sua alimentaçom como a FAO sinalou. No caso galego deixou-se notar na drástica reduçom das margens das exploraçons gadeiras mais intensivas e na negativa evoluçom do défice agroalimentar.

Usos florestais nom ordenados e abandono estám lastrando os resultados do sector agrário, favorecendo a nossa dependência alimentar

Cumpre lembrar que apesar do peso que tem a agricultura na nossa economia, Galiza mostra umha preocupante dependência alimentar do exterior tanto para o abastecimento da sua populaçom como para a alimentaçom da sua cabana gadeira. Nom se trata dumha situaçom conjuntural senom que é umha constante desde há décadas. Segundo o Instituto Galego de Estatística em 2018 (último ano com dados publicados) o comércio agroalimentar galego apresentou globalmente um défice de 255 milhons de euros. Por bens som os produtos transformados e os produtos vegetais, tanto os destinados ao consumo humano como os utilizados para a elaboraçom de raçons para o gado, os que concentram o défice.

Câmbio na política agrária

Em boa medida explica-se, por umha parte, polo escasso desenvolvimento da indústria agroalimentar, devido ao posiçom periférica da Galiza na divisom internacional do trabalho da agroindústria. Por outra, polas características e resultados do processo de modernizaçom da agricultura galega. O ajuste agrário implicou umha forte reduçom de produçons vegetais tradicionais e umha marcada especializaçom gadeira muito dependente das matérias-primas importadas para a alimentaçom da cabana. Umha das características do modelo de acumulaçom imposto às naçons periféricas é precisamente a extraversom. Os seus principais sectores estám orientados cara aos mercados exteriores. O denominado processo de modernizaçom das agriculturas destes países implantou umha produçom especializada, orientada a aqueles produtos mais rendíveis para o capital.

Ao mesmo tempo que o sector agrário galego mudou drasticamente a partir dos anos 60, persistiu um déficit na base territorial das exploraçons que impossibilitou para boa parte das mesmas a escolha de modelos menos intensivos e dependentes. O bloqueio no mercado de terras, a falta de ordenaçom territorial ou a carência de políticas públicas destinadas a favorecer o aproveitamento produtivo das terras som responsáveis do escasso peso da superfície agrária útil dentro da superfície total galega. Usos florestais nom ordenados e abandono estám lastrando os resultados do sector agrário, favorecendo a nossa dependência alimentar e ao mesmo gerando problemas ambientais cuja manifestaçom mais visível som os incêndios.

Galiza necessita um câmbio radical nas políticas públicas. O conceito de soberania alimentar sublinha precisamente o direito dos povos a definir a sua política agrária. Precisam-se atuaçons que tenham como eixo vertebrador três elementos chave para reforçar a nossa soberania alimentar:

1.─ Diversificaçom e incremento da base territorial das exploraçons. Entre outros aspectos, isto incide na necessidade de pôr em produçom superfícies abandonadas ou infrautilizadas e de ordenar o nosso território.
2.─ Desenvolvimento do sector da transformaçom. Precisamos dumha indústria com capacidade para acrescentar valor aos produtos gerados polo sector primário e que dê resposta aos câmbios no consumo.
3.─ Reforço dos circuitos curtos de comercializaçom.

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