Declínio industrial na Galiza

Perante a tendência geral de terciarização das economias, o aumento da tensão geopolítica, a crise energética, a inflação, o constrangimento nas cadeias de subministro apôs a interrupção pandémica, a suba dos juros e a reconsideração do mercado interno e o investimento público e privado como alicerces para o crescimento e a estabilidade social, as principais economias mundiais vêm-se impelidas a mudar o paradigma industrial. Da globalização, o deslocamento da produção e a sobre-exploração dos recursos naturais, que nas últimas décadas procuravam a redução de custos para salvaguardar as taxas de rendibilidade do investimento produtivo, transitamos para o ativismo industrial e a procura da soberania tecnológica. Objetivos que obrigam à relocalização das atividades mais competitivas como a fabricação de semicondutores, ao impulso institucional para potenciar o tecido empresarial nacional, e a proteger os setores estratégicos, em prol de objetivos como a segurança nacional. Forças produtivas O nosso setor industrial está a experimentar uma nova onda de destruição de forças produtivas que se manifesta em descapitalização e regressão social. Segundo o INE, entre 2009 e novembro de 2022, o Índice de Produção Industrial geral (base 2015) tem caído mais de 4 pontos, enquanto no Estado medrou 9,4. Em 2022 caiu, até novembro, uns 1,9%, frente ao aumento de 2,8% no Estado. A povoação ocupada no setor da indústria caiu em 47.600 pessoas e passou dos 18% aos 15% da ocupação total, enquanto os serviços ganharam 40.700 ocupados entre 2008 e 2022, período no que mais de 400.000 galegas e galegos tiveram que emigrar. A povoação ocupada no setor da indústria caiu em 47.600 pessoas e passou do 18% ao 15% da ocupação total De 2019 a 2022, a taxa de variação anual do valor acrescentado bruto industrial acumula uma caída superior a -17% em Galiza enquanto no Estado só caiu uns 2%, e o contributo à produção total no Estado foi em 2022 dos 6,64%, por detrás das comunidades mais desenvolvidas, segundo o Barómetro Industrial 2022 do Conselho Geral de Economistas. A taxa interanual da Formação bruta de Capital Fixo geral foi de -0,6% frente a +3,1% do Estado e a +6% da UE segundo os últimos dados do IGE. Em 2021 a FBCF galega medrara só um 1% frente aos 5,9% no Estado. Ademais, a nossa competitividade permanece no nível médio-baixo segundo o Informe de Competitividade Regional 2022 do CGEE, e ocupamos o último lugar de todas as CCAA em grau de digitalização relativo. No 3T/2022 as exportações aumentaram em taxa interanual uns 8,1%, quase duas vezes e media menos que a média estatal que foi de 18,8%. Novos projetos industriais anunciados, ou já em curso, como os numerosos parques eólicos, a regeneração da minaria de matérias-primas estratégicas como o lítio, volfrâmio ou tântalo, ou a produção de amoníaco e hidrogénio verdes supõem a assunção dum papel subordinado na especialização produtiva e o predomínio do extrativismo sobre a indústria de transformação. Assim, apesar do importante papel desenvolvido por entes públicos como o IGAPE, sociedades como Sodiga, ou a mista Impulsa criada em 2021 com 40% de capital público, e apesar da melhora de infraestruturas ou de certos incentivos fiscais ou creditícios, o devalo industrial persiste. Ecossistema próprio A rigidez institucional, avessa ao câmbio estrutural, e a renúncia à conceção dum planeamento autocentrado impedem articular um ecossistema industrial próprio, capaz de cindir a nossa dependência industrial, compatível com o alto grau de abertura externa da nossa economia e capaz de completar em Galiza os ciclos produtivos e de adaptar-se as novas revoluções tecnológicas. O Governo de Euskadi está a desenvolver uma política audaz neste sentido, tornando-se acionista de importantes companhias como CAF, Kaiku ou ITP Aero na que vem de adquirir o 6% através do fundo Finkatuz, instrumento financeiro público gerido pelo Instituto Basco de Finanças, que intenta evitar a fuga de grandes empresas. Diante da instabilidade dos mercados, da suspensão da convergência com o Estado e a UE, da crise demográfica, do nosso anémico investimento em I+D+i, da decadência de setores industriais outrora emblemáticos como o naval, da transição energética que afetou as térmicas, e das ameaças a pender sobre outros setores ponteiros como a automoção, compre uma planificação industrial orientada desde e para o País, de modo a aumentar o peso da indústria, dinamizar a atividade, garantir um emprego de qualidade e reduzir a vulnerabilidade da nossa economia. A produção industrial produz riqueza e estabilidade, afastando-se da volubilidade dos mercados financeiros.