A Véspera de Todos os Santos agoira o frio e a escuridão invernal

O Samaín e o Magosto, o luto pela morte do verão

“Isto, inovador faz trinta anos, hoje já não o é, quando todos partilham esta visão”, adverte André Pena Graña, arqueólogo e historiador do Concelho de Narón desde 1987, autor da reflexão ao redor do Samaín e do Magosto. 

Eis un estrato da peza publicada no número 370 do semanario en papel Sermos Galiza.

ILUSTRAÇÃO: ALFONZO FERNÁNDEZ
photo_camera ILUSTRAÇÃO: ALFONZO FERNÁNDEZ

Existe celebrando a chegada do sol no ponto mais alto de seu curso a solsticial festa de São João, a mais popular festa do lume na Europa, uma “Divisão Celeste” universal do ano: a dos solstícios e equinócios. Mas os Celtas “que vivemos (Éforo de Cime) na posta do sol, baseando‑ nos na percepção estacional pelo efeito da Corrente do Golfo, fazemos uma “Divisão Terrestre” em quatro ciclos de 90 dias, assinalando claros momentos de viragem climático, entre o acordar da vida da Mãe Terra (Mater), o 1º de fevereiro, e seu declinar, o 1º de novembro.

Começa o ano e primavera a véspera do 1º de fevereiro, Inbolc ou Candeloria; começa o verão a véspera do 1 de Maio, Beltaine, anunciando a festa dos Maios ‑o Green Man‑, a rica vegetação estival, a chegada do calor e das flores, promessas dos vindouros frutos; anuncia a colheita a véspera do 1º de agosto, Lughnasad; terminando o ano e verão em Samhain, a Véspera de Todos os Santos (‘Allhallow’sEven[ing]’) ou ‘Hallowe’(en’) 1º de novembro agoirando o frio e a escuridão invernal. Beltaine, Samaín… Estas palavras tão raras procedem do Celta Antigo Comum, língua hoje tão perdida no berço que a viu nascer: Galiza. Como esta ortografia.

Samaín ou Samhain (“fim do verão”), inaugurava a época de luto pela morte do verão, a morte da Terra. A noite de 31 de Outubro começava, coma inda se celebra na Illa de Man, o Aninovo Celta. Os noventa dias do 1 de novembro até o 1º de fevereiro, são um limite, de três meses: novembro, dezembro e janeiro, com o tempo e o espaço congelados e as leis suspensas.

Era quando o corio, “banda armada de jovens” solteiros da tribo de *co “juntos” e *wiros “jovens”, fazia mascaradas e se punha temporariamente à margem da lei como mesnada fantasmal, Estadiña, Mesneéd’Hellequin ou Herlatingui. As entronizações tinham lugar o 1º de novembro, pois a “morte da Terra” simbolizava o fim do reino. Os lavradores pagavam as rendas e os Durvedes, “Druidas” [Antón Costa], cobrando a “fumádega” apagavam os lumes das lareiras e as acendiam com lume sagrado ‑a Igreja trasladou o costume à Candeloria‑.

Essa noite, as ánimas regressam às suas casas, a aquecer‑se ao lume da lareira, a sentar no escano e degustar o jantar preparado com agarimo pela família ‑desenho de Carlos Alfonzo‑.

Samaín

Pervivencia galega  do Samhaín

No século VII (ano 610), o papa Bonifacio IV, transladou, sem sucesso, ao 13 de maio a festa de Todos os Santos, a restaurando, Gregório III ao 1º de Novembro.

A Véspera de Todos os Santos, suplantando aos mortos com disfarces e acesos calacús, as crianças, galegas, irlandesas, escocesas, galesas e bretãs, percorriam os lugares ‑no rural não temos aldeias, agás duas “Aldeia Nova”, temos freguesias e lugares, rueiros, vilares e casais‑, petando nas portas das casas.

Convidadas a entrar, as meninas e os meninos lançavam‑se sobre mesas cheias de pães, doces, freixós, carne e larpeiradas. E apanhando a comida nas bulsas que levavam para comê‑las logo nas suas casas, desapareciam tão ligeiros como entraram. Parando‑se de novo na porta dos dadivosos, as pícaras fantasmas bailavam, improvisando canções de agradecimento. As canções eram de escarnio se não se lhes franqueavam as portas, e não se lhes dava nada. O cristianismo estendeu a tradição aos cantos de Reis e Aguinaldos. O costume foi proibido temporalmente na Diócese de Mondoñedo polo Bispo Inquisidor Antonio de Guevara.

Em tanto a igreja está em mãos de cregos do país, o cristianismo integra as tradições, me as quando o clero é alheio as destrói por ignorância. Aconteceu com o bispo de Mondoñedo, Dom Antonio de Guevara, que no século XVI, achando que o costume celta era judeu ou mourisco o proibiu na diócese por um tempo: Constou-nos pela visita que o dia de Todos os Santos e o dia seguinte de defuntos andam todos os mozos da freguesia a pedir pelas portas e danlles pan e carne e viño e freixós e pichóns e outras cousas, e que peden asi os fillos dos ricos que os pobres; e por ser mais este rito xentil que cristián, ordenamos e mandamos que, de aqui en adiante, que ningún mozo vaia aqueles dous dias de porta en porta a pedir, senón que o beneficiado, o reitor e o primiclero e outro que nomease a freguesia pida aquel pan e todo o demais que lles deren, o repartan na igrexa o día dos finados entre os pobres e necesitados, sob pena que o paiou a mai que enviara ao seu fillo a pedir aqueles días pague mil maravedís […] [ex S. L. Pérez López, CEM].

Uma pequena reflexão

Por colonial assimilação, desaparecem milenários costumes. O chamado Samaín no Celta Antigo Comum de Kaltia/Galtia, “Galiza”, do que derivam todas as línguas Celtas, não desapareceu porque as crianças o salvaram reclamando a continuidade. Mas a conquista Romana levou‑se por diante língua própria Celta (J. J. Moralejo Álvarez), de Galiza, que prosperou em Irlanda e nos finisterres atlânticos.

Isto que escrevo assim, acolhendo‑me à Lei Paz Andrade, não é português, é galego [‑“o português é galego” (F. Venâncio)‑], escrito com seu signário histórico próprio, hoje usado ‑falado com diferentes fonéticas‑ em cinco continentes por quase 300 milhões; substituído, no berço que o viu nascer! pela arbitrária ortografia simplificada, não histórica ou própria, tomada do ‘castelhano’, coma que o galego compete em desvantagem. Felizmente, a História repete‑se. Quando por segunda vez se apague a língua própria da Galiza florescerá nos países lusófonos].

Deixemos aos nenos e nenas galegos celebrar com calacús o Samaín ou Véspera de Todos os Santos, em inglês All Hallow’s Eve ou Hallowe’em, nas duas beiras do Atlântico, com os curmãos da Europa Celta, com os filhos, netos, e bisnetos do milhão longo de galegos emigrados a América desde o século XIX; deixemos a nenos e nenas celebrar com os curmãos, filhos dos emigrantes irlandeses, etnia maioritária norte‑americana; filhos dos galeses que conservam sua língua na Patagônia; com os Celtas dos atlânticos fisterras, que celebrando Halloween, Santos ou Samhain, a com uma tradição atlântica, não importamos, exportamos o ‘American Way of Life’.

 

[Podes ler a reportaxe íntegra no número 370 do semanario en papel Sermos Galiza, á venda na loxa e nos quiosques]   

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